Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Pela 1ª vez, Bonner anuncia o novo presidente por uma ‘live’

O presidente eleito, Jair Bolsonaro, entre a mulher, Michele, e porta-voz para linguagem de Libras

Ao final de cada eleição, cabe aos principais veículos de comunicação instalar seus microfones e câmeras no QG de cada candidato, à espera do discurso de vitória, de um lado, e do reconhecimento da vitória alheia, de outro.

Pela primeira vez, esse “protocolo”, como bem definiu William Bonner durante a transmissão ao vivo da ocasião, “foi quebrado”. Em vez de uma coletiva de imprensa, o novo presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), optou por fazer “uma live”.

Surpresa.

Vimos então Bonner interromper a narrativa que vinha tecendo com Renata Lo Prete sobre a apuração em todas as regiões do país, para chamar “uma live” com o presidente eleito. Soou estranho para quem sempre via antes os microfones das principais emissoras abertas cercando o novo chefe da nação, nos últimos 29 anos.

A situação evidencia claramente um novo modelo de comunicação, como Bolsonaro endossou durante todo o processo da campanha eleitoral, período em que priorizou muito mais as redes sociais do que repórteres.

Após falar mais à militância na live, submeteu-se a um microfone neutro, anunciado como voz de um “pool” de emissoras, por um repórter que sequer foi identificado pela Globo – era Paulo Renato Soares, da própria emissora, sem a canopla da Globo. Permitiu que o novo presidente falasse o que quisesse, fez perguntas pontuais sobre ministério e o parabenizou pela vitória, no final.

“O protocolo habitual dessas situações foi quebrado hoje, em geral”, disse Bonner. “Ele optou por fazer primeiro um pronunciamento na internet, com idas e vindas (houve algumas falhas de conexão), e agora, sim, para as câmeras”, completou Bonner.

Lo Prete dissertou: “Ele fez a mensagem via internet, e depois fez o discurso na frente da casa dele, que visivelmente tinha sido preparado. O discurso das redes sociais me parecia um discurso visivelmente voltado às militâncias, e agora, me pareceu mais um pronunciamento de presidente eleito, em que ele frisou mais uma vez a questão das liberdades.”

Paralelamente a essa situação, convém notar que Bonner nunca foi tão didático e coloquial. Elogiou a habilidade de Lo Prete em manusear o telão que trazia aos dois todas as informações das apurações pelo país, tentou legendar, em vão, todas as falhas de conexão ocorridas durante a live de Bolsonaro e o pronunciamento do derrotado, Fernando Haddad (PT), e explicou por que o áudio da repórter em Fortaleza vinha falhando.

Nesses novos tempos em que cada político tem sua “própria TV” e fala como, quando e com quem quer (a exemplo do uso que Donald Trump sempre dez do Twitter), nunca foi tão urgente, aos âncoras dos grandes púlpitos de TV, aproximar-se da plateia.

Como jornalista, só posso agora torcer para que o novo presidente consiga conciliar os excelentes recursos das redes sociais com a democrática atitude de se submeter aos questionamentos da imprensa, mais do que ele se submeteu durante o período da campanha eleitoral.

 

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Cristina Padiglione

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