Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

A agressão de Caio Castro ao fotógrafo e o incoerente preço da fama

Caio Castro não queria ser fotografado na noite dessa quarta-feira, em Trancoso, na Bahia, porque estava em festa patrocinada por marcas concorrentes daquelas para quem ele é pago para emprestar sua imagem. Não teve dúvidas, tascou uma cabeçada no supercílio do fotógrafo André Ligeiro e abriu-lhe uma fenda no rosto. Dois erros: ir à festa da concorrência e agredir fisicamente alguém – nem vamos entrar no mérito de ser profissional, e blá e blá. Agrediu fisicamente alguém, pronto, errou feio. Desculpou-se, vá lá, não havia nada menos ruim a fazer para reduzir os danos do episódio.

André Ligeiro, fotógrafo agredido por Caio Castro

André Ligeiro, fotógrafo agredido por Caio Castro

Personalidades que fazem a audiência da televisão vivem a se queixar do assédio da indústria da fofoca, aquela que abastece de paparazzi as esquinas do Leblon, Beverly Hills, Paris ou Tóquio, em busca de atores, atletas, princesas e príncipes, cantores ou qualquer figura familiar aos holofotes. Argumentam que só deveriam chamar a atenção por seu ofício, e não pela vida pessoal. Alegam desrespeito à privacidade.

Famosos da televisão parecem ignorar que se estão na tela da TV, mais bem pagos que a maioria dos profissionais que fazem essa mesma TV (só para ficar no mesmo terreno), é porque, além de serem competentes no que fazem (uns nem tanto), têm uma imagem que atrai os olhares de uma audiência significativa. Isso atrai anunciantes, que gera muito dinheiro e paga a conta de todos no fim do mês, em geral, com cifras extras para quem está no vídeo.  Parece óbvio, mas a maioria se esquece disso. Astros ou coadjuvantes, eles são mais bem remunerados que cenógrafos, maquiadores, redatores, figurinistas ou qualquer profissional que esteja por trás das câmeras, tão ou mais competente que eles. Alguns redatores, em geral criadores da história, são mais bem pagos que a maioria dos atores, mas não costumam ganhar aqueles cachês extras gordos fazendo comerciais ou apresentando eventos fora da TV.

O Sr. Caio Castro deve saber que se os paparazzi o perseguem é pelo mesmo motivo que os anunciantes (ainda) o querem. Se aceita ser pago para anunciar, deve saber que uma procura necessariamente caminha ao lado da outra. Se a imagem dele ajuda a vender tal marca, também incentiva clicks nos sites e publicações de celebridades, alimentados igualmente por anunciantes. Tudo faz parte da mesma ciranda.

Quando eu via Andrés Sanchez, ainda como presidente do Corinthians, defendendo que a vida do jogador fora de campo não interessa a ninguém, era preciso avisar seus atletas que esse interesse lhes era muito bem-vindo quando eles aceitavam fazer propaganda para cremes ou lâminas de barbear. Se um sujeito é muito bem pago para fazer um comercial fora do set, fora do campo, e às vezes até com mulher, marido e filhos, é claro que suas ações fora do campo de trabalho são de interesse do público e é evidente que levar isso a um comercial só alimenta a fome de interesse da plateia.

Isso não significa que aqueles que realmente não aceitam nem o dinheiro da publicidade deixem de ser perseguidos pelos fotógrafos – Chico Buarque e Pedro Cardoso são dois exemplos de quem faz jus à defesa da privacidade, fugindo de outdoors e intervalos. Mas é certo que personalidades que agem como eles acabam por inibir o flash pelo flash, aquele negócio de “fulano estacionou o carro”, “beltrano come brigadeiro”, etc.

A perseguição ou não fora do campo de trabalho é também uma questão de coerência, só isso. E não é possível abraçar de tão bom grado as propostas publicitárias e repudiar com pugilismo outros clicks.

 

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Cristina Padiglione

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