Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

‘Caminhos da Música Brasileira’ sobe ao palco nesta quarta para servir de acervo audiovisual do nosso som

Guga Stroeter e sua Orquestra Heartbreakers, desvendando o DNA da música brasileira para acervo televisivo

Quem nunca encontrou brasileiros de uma geração recente que achavam muito bacaninha aquela música do comercial das Havaianas? Era Brasil Pandeiro. “Não”, tentavam explicar os mais velhos: “isso é Assis Valente e foi gravado há uns 30 anos por um grupo chamado Novos Baianos, intérpretes da gravação usada no tal comercial”.

Houve também quem achasse bonitinha, só para ficar nos Novos Baianos, “aquela música do filme Durval Discos“, no caso, Besta é Tu. Não, não vai aí nenhum trocadilho com o nome da canção, mas, de novo, constatou-se a falta de repertório e referências de uma geração que limitou sua pesquisa histórica musical a poucos nomes.

Daí que contar a história da música brasileira, a origem de seus estilos e a mescla de seus ritmos pareceu a Maysa Monjardim e Edson Watanabe, dito Jaspionn, uma missão necessária. Ideia na mesa, procuraram por Guga Stroeter e sua Orquestra Heartbreakers para aquele que deve ser o primeiro de uma série de shows intitulada Caminhos da Música Brasileira. Inspirado na árvore genealógica da música brasileira, pôster que acompanhará o livro de Guga Stroeter e Elisa Mori, Árvore da Música Brasileira (a ser lançado em breve pelo SESC), Caminhos da Música Brasileira se propõe celebrar a diversidade por meio de prestigiados intérpretes, registrando tudo em vídeo, como meio de preservar a memória da música brasileira.

“Criamos livro e pôster, mas no nosso íntimo sentíamos falta de um aspecto fundamental: é sempre bom ler e escrever sobre música, mas o mais importante é que a música seja tocada, ouvida e mesmo dançada!”, diz Guga, completando: “E agora surgiu a oportunidade de dar vida às pesquisas e publicações, criando os shows e programas de TV e internet que materializem definitivamente o nosso sonho de gerar sons, imagens e principalmente encontros”.

O projeto se desdobra em cinco edições temáticas: Folclore e Música de Concerto, Samba, Bossa Nova, MPB e Rock. Guga Stroeter assina o repertório e a direção musical, Dino Barioni, os arranjos. Maysa Monjardim, Biba Fonseca e Vicente Negrão atendem pela curadoria artística? co. um elenco que já conta com a adesão de Arrigo Barnabé, ‘As Bahias’ Raquel Virgínia e Assucena Assucena, Ná Ozzetti, Paula Lima, Sander Mecca, Thaíde, Thiago Pethit e Walter Franco.

O primeiro espetáculo acontece nesta quarta, dia 30, no Teatro Viradalata, em Perdizes/Sumaré. O repertório da vez será aberto por Marinheiro Só, seguida por Asa Branca, vinda do sertão pernambucano, Calix Bento, das celebrações de Folia de Reis e Bandeira do Divino, Meu Limão Meu Limoeiro, retumbante sucesso de Wilson Simonal na década de 1960, Ensaboa, da memória de infância de Cartola e Está Chegando a hora, sucesso do carnaval de 1942, pleno tempo de guerra, refrão adaptado para uma canção mexicana do século XIX, Cielito Lindo, que ganhou a versão que conhecemos do ator, compositor e goleiro do Corinthians, Henricão, eterno Rei Momo do carnaval paulistano.

Toda essa contextualização da história está embutida no projeto.

No segundo bloco, passamos aos autores que contribuíram para o repertório nacional, dedicando-se à escrita musical e criando composições autenticamente brasileiras com influências da tradição da música de concerto. No século XX, o compositor carioca Herivelto Martins compôs a terceira obra mais regravada do repertório nacional, superada apenas por Aquarela do Brasil e Garota de Ipanema:  Ave Maria do Morro.

A música clássica na música brasileira traz à tona um arranjo inédito de Artigo 26, do cearense Ednardo, mesclada com Quadrille e Recueil de Contredanses et Valses n°25 (Louis Julien Clarchies).

Inspirado por Frederic Chopin, Tom Jobim compôs em 1961 uma de suas mais belas canções sobre o mesmo motivo em seu Prelúdio n°4, de 1838: Insensatez.

Da associação entre o estilo impressionista e o movimento das águas, Debussy escreveu La Mer e Dorival Caymmi, inserido no cenário baiano, fez O Mar.

Da pesquisa de ritmos e influências, chegamos a Sonífera Ilha, dos Titãs, de 1984, a Arrigo Barnabé e seu álbum de estreia, Clara Crocodilo,  e a Walter Franco, primeiro músico a usar as técnicas de Stockhausen na MPB, com sua Cabeça, em 1972.

Ligeiramente mal vista, há poucos anos, a prática de colagens musicais é hoje enaltecida com samples exaustivamente utilizados por DJs e produtores. Assim, “Caminhos da Música Brasileira” desafia músicos a criar novas composições a partir da desconstrução de uma importante obra de Stockhausen, fe 1966, em que ele parte da utilização de gravação, de hinos de países de todo mundo. DJ’s e rappers convidados entram em cena para fazer a “releitura da releitura” de Stockhausen e Hymnen.

E, claro, não poderia faltar Villa Lobos. Lá está O Trenzinho do Caipira, parte integrante da peça Bachianas Brasileiras nº 2, dos anos 30, que ganhou letra de Ferreira Gullar em 1975.

A ideia é registrar tudo para um grande acervo, no mínimo, mas sabendo que o material já é conteúdo pronto para afagar a carência de canais pagos por produções nacionais. Fica a dica.

 

 

 

Estreia, gravando: 30 de agosto (quarta-feira), 21h

Teatro Viradalata: Rua Apinajés, 1387

Ingressos: entre R$ 175,00 e R$ 350,00, através do Ingresso Rápido

https://ingressorapido.com.br/venda/?id=1047#!/tickets

 

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