Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Carlos Alberto admite ciúme de Miele pelo banco da ‘Praça’ e dispensa filho de sucedê-lo

Bial entrevista Carlos Alberto por teleconferência/Reprodução

Em ótima entrevista a Pedro Bial na madrugada deste sábado (25), Calos Alberto de Nóbrega admitiu que ficou muito mal quando o pai, Manoel de Nóbrega, morreu, em 1976, e Luís Carlos Miele foi escolhido para ocupar sua vaga no banco de uma recriação de “A Praça da Alegria”, precursor de “A Praça É Nossa”, na Globo, entre 1977 e 78.

“Eu achava que aquele lugar era meu”, disse Carlos Alberto a Bial. A escolha por Miele foi uma decisão do então todo-poderoso Boni (José Bonifácio de Oliveira Sobrinho), responsável pelo comando artístico e operacional da emissora, onde Carlos Alberto trabalhava como redator.

“Foi uma das maiores dores que eu senti, porque eu achava que aquele lugar era meu. Eu já tinha feito algumas vezes na TV Paulista, na própria Record eu cheguei a fazer muitas vezes. E como você falou, uma escada é uma escada pra qualquer comediante, eu tinha como fazer. Só que o Boni falou: ‘nem você nem o Chico [Anysio, que tinha gravado uma edição em homenagem a Manoel, após sua morte]’. O Chico já fazia o Chico City e o Fantástico, não ia fazer um terceiro. ‘Porque se você fizer A Praça e for um fracasso, acabou a tua carreira. Vão dizer que com o teu pai era bom e com você é ruim. Se for um sucesso, vão dizer que o sucesso você pegou com o bonde andando. Então, é melhor botar alguém totalmente diferente do teu pai’. Eu aceitei, mas não entendi. Se eu te disser que foram os piores meses da minha vida foram os dias que eu gravava ai na Globo o programa”.

“Você ficava no switcher e o Miele lá no lugar que você queria estar”, mencionou Bial.

“Pra mim era muito doído. E o Miele foi de uma dignidade fora do normal, ele fazia com muito amor”

“A Praça” só foi para o SBT em 1987, após quatro apresentações na Bandeirantes, a convite de Silvio Santos, que construiu sua ascensão de fato por meio das relações com Manoel da Nóbrega, de quem viria a comprar o Baú da Felicidade e a aquecer a empresa com a venda de carnês que permitiam ao público comprar em prestações em uma época anterior às mil facilidades de crediário que viriam anos depois. Isso foi ainda nos anos 1960.

Silvio e Carlos Alberto, no entanto, passaram 11 anos sem se falar, como lembrou Carlos Alberto no Conversa com Bial.

Na entrevista, o dono da “Praça” disse acreditar que o programa, criado em 1956, na TV Paulista, e depois de algum tempo transmitido pela Record, morrerá com ele. O apresentador afirmou que não quer que o filho a carregue o fardo que ele carregou, de manter aceso o humorístico criado pelo pai.

“Não imagino ‘A Praça’ nem daqui a cinco anos. ‘A Praça’ acaba comigo. Seria desejar um mal enorme para o Marcelo passar por tudo que eu passei.”

Fora dos estúdios desde o fim da pandemia, Carlos Alberto contou que teve depressão e chegou a desabar em lágrimas quando foi à emissora, em uma ocasião, com o propósito de selecionar edições para reprise. “Eu vi aquilo ser construído. Quando vi aqueles corredores, aqueles estúdios todos vazios, me deu um negócio, eu entrei no carro e comecei a chorar.”

Nóbrega não se esquivou de comentar a queda de audiência do SBT, que por conseguinte, atingiu seu programa, alegando que “só a Globo cresceu em audiência no período”. Na verdade, a Record não chegou a despencar como o SBT, que não tinha tantas alternativas para uma programação tampão, capaz de socorrer o vazio deixado pelo recesso das gravações de todos os programas, mas tampouco investiu em jornalismo, item que fez a diferença nesse período.

A entrevista está disponível no Globoplay.

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