Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

‘Um Lugar ao Sol’ absolve TV da ‘culpa’ pela homossexualidade

Luiz Serra, Domício, pai de Breno (Marco Ricca) na novela 'Um Lugar ao |Sol' / Reprodução

Em cena antológica no penúltimo capítulo da novela “Um Lugar ao Sol”, Seu Domício (Luiz Serra), o pai de Breno (Marco Ricca), só faltou proclamar o termo “Globo Lixo”, xingamento que virou jargão de conservadores contrariados com as posições defendidas pela emissora –progressistas ou, no mínimo, mais tolerantes que as demonstrações de outros canais, em especial, da Record, pertencente a um grupo religioso.

Após Breno revelar que Ilana (Mariana Lima), sua ex-mulher e mãe de sua filha, vai se casar com outra mulher (Gabriela/Natália Lage), o pai desfila toda a sua indignação diante da aflição de Lucília (Cláudia Missura), que preferiria ter poupado o pai de saber do episódio, bem à mesa de jantar da família.

“Nem bem se separou e a Ilana já está enfiando outro pai pra criar a criança, é isso?”, pergunta o patriarca.
“Não, no caso é outra mãe, porque a Ilana vai se casar com uma mulher”, reage Breno.
“Que piada de mau gosto é essa?”, questiona Domício.
“Não, não é piada, não, pai. A Ilana vai se casar com uma mulher. É a Gabriela, no caso. É uma médica, obstetra, que por sinal adora a minha filha.”
“Gabriela? Como aquela do Jorge Amado que trepava nos telhados?”
“Dá licença, vai”, despede-se Breno, que estava de saída.
“Não, péra um pouquinho aí. Nessas horas eu agradeço a sua mãe não estar aqui pra não ficar ouvindo uma besteira dessas. Uma neta sendo criada por duas mães, é isso?”, insiste o pai.
“Duas mães e um pai, no caso, eu”, responde Breno. “O fato de a Gabriela existir não me tira nada, muito pelo contrário. Quanto mais amor ela tiver, mais segurança ela vai ter pra crescer, pai.”
“É melhor eu ir pro meu quarto”, diz Comício.

A irmã de Breno intervém: “Pai, o senhor nem tocou no frango”.
“Não, eu não quero, obrigado. Vou me recolher à minha insignificância”, ele fala.

E antes de cumprir a promessa de ir para o seu quarto, Domício para diante da TV e aponta para o aparelho:
“Minha filha, é melhor você tirar esse troço daqui”.
“A televisão?”, pergunta Lucília, espantada.
“É isso mesmo. Ela é responsável por tudo. Querem enfiar tudo pela goela da gente, na cabeça da gente, na cama da gente, na casa da gente, na vida da gente: homem com homem, mulher com mulher, gata com lebre…”
Breno reage: “Cancela também a assinatura do jornal, e manda cimentar a janela, assim você não olha mais pro mundo, pai.”
“E dizer que eu perdi um outro filho, mocinho, vivo, desse jeito”, comenta Domício.
“Desse jeito como, pai? Meu irmão gostava de outro homem, a Ilana gosta de outra mulher, e o que isso diminui eles dois?”
“Goste você ou não, isso está longe de ser correto, onde é que já se viu?”, tenta ensinar o velho.
“Qualquer lugar, pai, pode acreditar, desde que o mundo é mundo, as pessoas se apaixonam, se encantam uma pela outra, independente de sexo, de gênero. Isso não é a televisão que diz, não, pai, é a vida. A vida que o senhor deixou de frequentar há mais de 50 anos pra se enterrar aqui, dentro dessa casa”, encerra Breno.

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LIGA

“Um Lugar ao Sol” se pautou por levantar discussões úteis ao longo de seus cento e tanto capítulos, mas as bolas levantadas nesta semana têm sido particularmente essenciais. Ainda voltarei para falar da cena de Otávio Muller declamando a peça sobre a filha e a decoberta de que ela tinha Down, de sensibilidade raríssima, ainda mais na TV. Foi ao ar na quinta (23) e também merece uma descrição de texto aqui.

E LIGA DE NOVO

A novela de Lícia Manzo, com direção de Maurício Farias, termina nesta sexta (25), e vai ao ar após o Jornal Nacional.

 

 

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Cristina Padiglione

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