Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Ciro Gomes ajudou a bancar ‘Tropicaliente’, novela que chega ao GloboPlay

Carla Marins e Márcio Garcia: alta temperatura / Divulgação

Novela produzida e exibida em 1994, tendo as belas praias do Ceará como cenário, “Topicaliente” teve boa parte de suas cenas gravadas in loco, dispensando aqueles truques de imagens a que muitas vezes a Globo recorre em locações perto de casa, ali pelo Rio de Janeiro mesmo, para frear custos de viagens.

A equipe embarcava para Fortaleza frequentemente, sem pressa de voltar ao Rio, para registrar longas sequências na capital e vizinhança, como a praia de Cumbuco, Canoa Quebrada e cercanias do Beach Park. Os custos de hospedagem eram bancados pela rede hoteleira local, com generosa ajuda do governo do Estado, então comandado por Ciro Gomes, atualmente aspirante ao Palácio do Planalto.

O governador, assim como seu aliado à época, Tasso Jereissati, que assumiu o governo em 1995, abriu os braços para Paulo Ubiratan (1947-1998), um dos mais importantes diretores de novelas da Globo na época, que havia se encantado pelo litoral cearense e até começou a construir uma casa na região.

Ciro acenou com a oferta hoteleira como investimento para o turismo local, e o efeito de “Tropicaliente” para os negócios da região de fato se prolongaram –no tempo e na distância. Na Rússia, onde foi batizada como “Tropikanka”, a novela de Walther Negrão fez tanto sucesso, que “Mulheres de Areia” (1993), de Ivani Ribeiro, vendida para a Rússia depois de “Tropicaliente” e também filmada em praias brasileiras,  foi chamada lá como “Tropikanka 2”, embora os enredos fossem completamente distintos. E até hoje tem russo que visita o Ceará por causa da moldura do romance entre Herson Capri e Silvia Pfeifer, o pescador rústico e a ricaça à moda Oscar Freire.

Teve ainda Márcio Garcia, em sua estreia na Globo, nomeado como Cassiano, uma homenagem de Negrão a Cassiano Gabus Mendes, primeiro diretor de TV da América Latina, pela Tupi, e também dramaturgo, pai de Cássio Gabus, que também estava no elenco. Garcia tinha Carla Marins como par, e os dois protagonizavam cenas calientes em profusão, escoltados pela temperatura local e pelo figurino minimalista, digamos assim. Camisa para quê?

O governo do Ceará declarou ter investido algo em torno de US$ 700 mil à época, mas estima-se que a ajuda tenha ido além disso, com apoios logísticos que incluíam helicópteros e lanchas para uso de gravações. Até cidade cenográfica foi construída lá, na Praia de Porto das Dunas, em Aquiraz, onde ficava a vila de pescadores da história.

Antes que a novela chegasse ao fim, Ciro deixou, ainda em setembro, o governo do estado, para aceitar ser ministro da Fazenda de Itamar Franco. Mas a novela seguiu até o fim do ano, bem cotada entre o público, e olhe que naquele tempo, seus 39 pontos de média eram considerados modestos para um horário que hoje não chega aos 20. Tudo é questão de contexto.

“Tropicaliente” faz jus ao nome, tropical e caliente, e traçava boa sintonia entre os casais, sob a luz sem igual da costa nordestina brasileira.

 

Observação: A versão original deste texto citava “Flor do Caribe”, novela de Walther Negrão de 2013, como a novela rebatizada como “Tropikanka 2”, e não “Mulheres de Areia”, como é correto.

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Cristina Padiglione

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