Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Estudo da CNN Brasil aponta que GloboNews sacrifica anunciantes, tese rebatida pela adversária

Amigos, William Waack e Heraldo Pereira disputam atenção do assinante por uma hora / Reprodução

Monitoramento feito pela CNN Brasil atribui a uma estratégia de combate à sua audiência a exibição dos Jornal das Dez, da concorrente Globonews, sem um único intervalo comercial no período de uma hora e meia de exibição. O estudo, que chegou às mãos do blog Telepadi, mostra que os anunciantes só aparecem na última meia hora do noticiário, entre 23h30 e 0h. Das 21h às 23h, o novo canal de notícias exibe seu principal telejornal, comandado por William Waack, ex-medalhão da Globo, que concorre portanto com seu amigo, Heraldo Pereira, por uma hora, entre 22h e 23h.

Das 23h à 0h, a CNN Brasil apresenta o CNN Todos Juntos, comandado por Tais Lopes, o Realidade CNN, série de documentários sobre assuntos diversos, e o programa Amanpour, conduzido pela jornalista britânica Christiane Amanpour.

Entre 30 de março e 28 de abril, a GloboNews “sacrificou os principais anunciantes do Jornal das Dez, seu principal jornalístico exibido do prime time [horário nobre], para combater a audiência da CNN Brasil, sua principal concorrente desde a estreia do canal americano no país, em 15 de março”, diz a conclusão do estudo.

O levantamento aponta que todos os breaks do Jornal das Dez são “empurrados” para depois das 23h30, “em média”, “espremidos somente na última meia hora do programa”. É preciso ressaltar, no entanto, que o Jornal das Dez só passou a ocupar esse espaço, das 22h à 0h, a partir de 13 de abril, justamente para atender à demanda de informações sobre a pandemia -antes, ia ao ar até as 23h.

Nesse contexto de duas horas de duração, o  segundo intervalo comercial, com base no monitoramento, é exibido por volta das 23h40 e, o terceiro e último, próximo das 23h50. A CNN aponta que os anunciantes, desta forma, ficam concentrados a um horário de menor audiência, considerando que o número de televisores ligados é mais baixo na faixa das 23h30 à 0h.

A GloboNews refuta com veemência a tese de que isso seja estratégico, afirmando que não houve qualquer mudança na quantidade ou no tamanho dos intervalos do Jornal das Dez, “que mantém seus tradicionais três breaks com duração de 3 minutos e 30 segundos cada”. O canal lembra que o que mudou foi o tamanho do Jornal das Dez, que cresceu em uma hora, e a audiência do canal, justamente a partir do início da quarentena, que coincide com a chegada da CNN Brasil, em 15 de março.

Nesse contexto, embora o número de televisores ligados de fato inicie uma curva descendente em geral após as 22h30, a GloboNews afirma ter tido um aumento ainda maior de audiência em relação ao período anterior à quarentena, com quase o dobro dos índices na faixa das 23h30 e meia-noite.

“Não houve qualquer mudança na quantidade ou no tamanho dos intervalos do Jornal das Dez. Tampouco houve mudança na estratégia. O que mudou foi o tamanho da audiência no horário: 53% maior, desde o início da pandemia”, informa a GloboNews, por meio de seu departamento de comunicação. “Ou seja, os anunciantes só têm motivos para comemorar a exposição maior de suas marcas a uma quantidade muito maior de assinantes, na faixa das 22h à meia-noite. E se o recorte for feito das 23h30 à meia-noite, maior ainda o nosso aumento de audiência: nessa faixa, a GloboNews teve um crescimento de 98,4%, quando comparamos o período de cobertura da pandemia com a audiência antes da pandemia. Portanto, não faz qualquer sentido a informação de que ‘os anunciantes ficam concentrados em um horário de menor audiência’. É uma questão matemática: mais audiência, maior satisfação dos anunciantes.”

No ranking do ano, a GloboNews já é o canal de maior audiência na faixa das 7h à 0h no PNT (Painel Nacional de TV), que mensura 15 regiões metropolitanas brasileiras e onde 1 ponto, neste ano, equivale a 703 mil indivíduos. Na média das 24 horas do dia, a GloboNews está em segundo no total de ano, atrás do canal Viva, e também em 1º de março para cá.

A Globo ainda alfineta: “Isso justifica que a Globonews esteja em 1º lugar no ranking consolidado do ano da TV por assinatura (de 1º de janeiro a 10 de maio, das 7h às 24h) e a concorrente, que reclama, esteja em 33º”, completa a resposta da Globo. A CNN Brasil só pode pontuar de 15 de março para cá, pois não existia antes.

Durante esta uma hora e meia em a GloboNews exibe o Jornal das Dez sem anunciantes, a CNN Brasil faz de três a quatro breaks.

Na briga por números, de novo, com alguma diversidade na abordagem dos temas do dia a dia, quem ganha é o assinante de TV paga, que tem a chance de confrontar visões distintas entre mais jornalistas, e ambos os canais estão abastecidos por jornalistas muito bons, e complementar seu menu de informações. Em tempos de pandemia, convém fugir das fake news atraídas pelas mensagens de WhatsApp, muitas vezes beirando risco de vida.

Curta nossa página no Facebook e siga-nos no Twitter

Cristina Padiglione

Cristina Padiglione