Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Com 10 episódios, 5ª temporada do ‘Tá no Ar’ já tem 250 cenas escritas

Luana Martau (esq.) e Renata Gaspar (dir.), como Vovó Ieda, e Tony Karlakian (ao centro), personagem de Marcelo Adnet que se mantém na 5ª temporada. Foto de Paulo Belote/TV Globo

Tratado como um divisor de águas na Globo, momento em que a emissora derrubou restrições a paródias de outros canais e a marcas publicitárias, o “Tá no Ar: a TV na TV”, chega agora à sua 5ª temporada. A gestação da nova safra está em pleno processo de criação pela equipe do programa encabeçado por Marcius Melhem, Marcelo Adnet e Maurício Farias, o diretor.

Há cerca de cinco anos, quando vinha sendo produzido no papel pela primeira vez, o programa era alvo de dúvidas até por parte da equipe. “Seria um ótimo programa, se fosse ao ar”, costumava brincar Welder Rodrigues, o Jorge Bevilacqua (“Foca em mim!”).

O sentimento era compartilhado por redatores e outros atores. “Tem certeza que a Globo vai deixar isso passar?”, perguntavam a Adnet e Melhem.

Essas e outras histórias foram contadas pelos roteiristas Daniela Ocampo e Maurício Rizzo (que também participa do programa como ator) mais a atriz Renata Gaspar, durante um encontro promovido pelo Risadaria, evento que já tem tradição no calendário de São Paulo, sobre o processo de criação do “Tá no Ar”. A mediação foi de Paulo Bonfá, que gentilmente me convidou para participar da roda.

Daniela e Maurício contaram que já têm 250 cenas escritas para distribuir em dez episódios. Os critérios para a partilha seguem o propósito de equilibrar os temas (religião, futebol, seriados de TV, etc) em cada edição. Não deve haver concentração maior de um assunto em determinado programa. O desafio, a essa altura, é inventar novos esquetes e abastecer aqueles que já caíram no gosto do público, sem que a equipe se torne refém deles e esbarre na redundância.

Jorge Bevilacqua, por exemplo, o apresentador de noticiário popular vivido por Welder Rodrigues e sempre atingido por uma foca no cenário, poderá aparecer visitando programas de outros apresentadores. Também podemos esperar por mais esquetes com Rick Matarazzo e Toni Karlakian, os paulistanos que honram a ostentação cafona dos colunáveis de São Paulo, e o crítico da “rédi globo di télévisão”, vivido por Adnet, personagem particularmente venerado pelo diretor geral da emissora, Carlos Henrique Schroder.

Durante um breve café antes do início do encontro, pude testemunhar a rapidez de raciocínio dos redatores. Dani comentou qualquer coisa sobre o excesso de grifes no shopping Iguatemi, onde a conversa aconteceu, e logo surgiu uma boa ideia de uma paródia. Maurício então sacou uma cadernetinha de anotações e já registrou a piada, que só saberemos se entrará no programa ou não na hora de gravar.

“A gente descarta muita coisa”, admitiu Dani, lamentando pelas criações não aproveitadas. A arte de “jogar coisas fora”, no entanto, é condição quase essencial para um bom produto, em especial quando lapidado em formato de temporada, como é o caso do “Tá no Ar”. Com grande volume de cenas curtinhas feitas para o zapping montado pela edição, o humorístico pede essência.

A conversa trouxe à tona tentativas de diagnóstico para explicar o que teria feito a Globo reabrir a caixinha de vetos que acabou por sufocar a criação do pessoal do Casseta & Planeta, responsável pelas primeiras paródias a marcas publicitárias feitas na tela da emissora, ainda nos idos do vanguardista “TV Pirata”, no fim dos anos 80. Ao longo dos anos, os cassetas foram enfrentando uma lista de restrições que o “Tá no Ar” conseguiu derrubar.

“Nós nunca fazemos a piada sobre a atividade da marca parodiada”, explicou Dani, citando o caso do “Branco no Brasil”, esquete genial que critica o racismo no país, e não o serviço bancário, por exemplo. Isso faz, segundo ela, com que as marcas tenham simpatia pelas paródias e até as aprovem.

De todo modo, a virada de página no humor da Globo, comentamos todos, tem muito a ver com a troca de comando da emissora, em 2013, quando Schroder, até então diretor da Central Globo de Jornalismo, assumiu a direção-geral, no lugar de Octávio Florisbal, oriundo da área comercial.

A conversa em questão, assim como outras promovidas pelo Risadaria (na véspera, Antonio Tabet e Fábio Porchat lá estiveram para falar do Porta dos Fundos), foi gravada em vídeo. E vai abastecer um belo acervo sobre humor, que deverá ser lançado em 2019, quando o Risadaria completa 10 anos de existência.

Curta nossa página no Facebook e siga-nos no Twitter

Cristina Padiglione

Cristina Padiglione