Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Com propaganda da Jequiti e Lula-Livre, ex-humorista da Record salvou estreia da Globo

Paulo Vieira interpreta todos os personagens de uma família pobre que não vive sem TV / Reprodução

Parecia sugestivo, pelo nome, que um programa chamado Se Joga fosse entrar no ar com várias ideias e nenhum resultado digno de definição. Foi como pegar os ingredientes de uma receita culinária sem conhecer a ordem dos fatores na elaboração do prato. Com Fernanda Gentil, Érico Brás e Fabiana Karla, Se Joga, novo vespertino da Globo para a vaga deixada pelo Video Show, ainda é muito jogado.

Por mais que o novo programa tenha sido pautado por pesquisas, aos olhos do espectador ele parece tatear o terreno para ver onde exatamente vai investir.

Nesse mar de gente com necessidade de se mostrar muito feliz para te fazer feliz, e nada pode ser mais constrangedor do que a felicidade escancarada no volume de voz, só um quadro de Paulo Vieira buscando identificação com a classe média baixa despertou o telespectador da sesta. Até um logotipo da Jequiti, com a palavra “Jequitibá”, apareceu na tela, sugerindo que a televisão é muito influenciável e pode te fazer ver coisas que você nem percebe, mesmo que seja por um segundo.

As piadas do quadro estavam ao alcance da massa e partiram de alguém que, como se exige hoje em dia, está “no seu lugar de fala”. Nascido em Trindade, em Goiás, mas criado em Palmas, no Tocantins, Paulo Vieira pode debochar de manias de “pobre” por ter tido origem humilde e vir de muito longe, como disse em cena, e é certo que a identificação gerada no script provocou risos em quem ali se viu representado. O texto se permitiu zombar da ideia de que só as crianças se deixam levar pelo consumismo proposto pela TV e fez até uma crítica velada que endossa a ideia de alienação do veículo: naquela casa de uma família cujos membros são todos interpretados por Vieira, só o cachorro odeia TV, pois prefere literatura.

Outro momento divertido foi ver na tela a imagem de Gleen Glenwald, o jornalista que vem vazando diálogos comprometedores entre juiz e promotores da Lava-Jato, com um L de Lula-Livre na tela.

Talento revelado por Fábio Porchat na Record, Vieira está na Globo desde o início do ano, no Zorra e na Escolinha do Professor Raimundo. No Se Joga, brincou com as manias da classe C diante de uma de suas mais fiéis companheiras: a televisão.

O quadro foi o momento em que o programa ou a Globo conseguiu rir de si, autocrítica reservada ao humor na tela da emissora, de novo sob supervisão de Marcius Melhem. Em um programa muito pautado pela internet, Vieira debochou do recado que muitos apresentadores dão em cena, indicando que o telespectador “vá à internet” para obter mais informações sobre determinado assunto. “Como a Fátima sabe se eu ainda tenho dados móveis? Se a minha internet não acabou?”, protesta a personagem do humorista, que se desdobra em vários papéis durante a narrativa do que faz um pobre se identificar com outro pobre diante da TV.

Temos a observar apenas o quanto esse pessoal é fã de Monty Python, a trupe britânica de humor que serve de referêndia a humoristas do mundo todo há algumas décadas. O logotipo do quadro de Vieira remete fácil ao logotipo do filme “A Vida de Brian”, até no nome, “Isso é muito Minha Vida”.

A queixa bem-humorada sobre o fato de a internet não funcionar para todo mundo veio em um programa recheado de informações e vídeos vindos da web. Por Whatsapp, Reynaldo Gianecchini mostrou parte de sua matéria no Globo, publicada neste domingo (29), em que ele fala sobre sua sexualidade e a experiência de já ter se relacionado com homens. No palco, Paolla Oliveira foi submetida a uma espécie de  Arquivo Confidencial do Faustão por meio de mensagens enviadas pela mãe, avó e afilhado via Whatsapp. Tudo muito chato.

Os apresentadores se mostram de fato jogados em cena, ainda sem saber o que cortar ou multiplicar, prontos para ouvir a resposta do público a essa miscelânea e saberem por onde seguir.

Fora o quadro do Paulo Vieira, que só estará nas edições de segunda-feira, Se Joga não acrescenta nada.

 

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Cristina Padiglione

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