Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Contra banalização de 50 mil mortes, JN diz que ‘História vai registrar os que foram negligentes’

Bonner e Renata na edição deste sábado: 50 mil mortos/ Reprodução

A edição deste sábado (20) do Jornal Nacional marca a superação de 50 mil mortos em quatro meses por um único mal: a Covid-19. Por 2 minutos e 40 segundos, William Bonner e Renata Vasconcellos se dedicaram a chamar a atenção para o significado de 50 mil mortos, empatia, jornalismo profissional e o que representam 50 mil vidas na história de uma nação.

Bonner chamou de “minoria barulhenta” as manifestações que mostram alguma contrariedade ao enfoque do noticiário. O JN tem sido alvo de muitos comentários em redes sociais que atribuem ao telejornal um tom alarmista, como se não devêssemos estar alarmados com o número de mortes que o governo procura manter em segundo plano. O governo quer anunciar, antes de mais nada, o saldo de vítimas contaminadas recuperadas da Covid-19. Em uma guerra, no entanto, é normal que se contabilize o número de vítimas fatais, não o saldo de sobreviventes feridos.

Na Hora do Brasil, noticiário produzido pelo governo para as emissoras de rádio, com veiculação obrigatória, o número de vítimas que se curam é informado sempre antes do saldo de mortos. O modelo tem sido seguido por SBT, Record, RedeTV! e até Band. É uma contradição aos programas policiais dessas emissoras, que sempre  se dedicam a mostrar tragédias com finais nada felizes. Cidade Alerta, Brasil Urgente, Primeiro Impacto e Alerta Nacional se servem basicamente de desfechos fatais, não?

Eis o discurso de Bonner e Renata na edição deste sábado:

(Renata): “É um marco trágico na pandemia: mais de 50 mil mortes. Cinquenta mil. Uma nação se define como a reunião de pessoas que compartilham sentimentos. Afetos, laços, cultura, valores, uma história comum. Empatia é a capacidade que o ser humano tem de se colocar no lugar do outro, de entender o que o outro sente. Uma nação chora os seus mortos, se solidariza com aqueles que perderam pessoas queridas. Cinquenta mil. Diante de uma tragédia como essa, uma nação para, ao menos um instante, em respeito a tantas vidas perdidas, e é o que o Jornal Nacional está fazendo agora, diante desses rostos que nós temos perdido desde março.”

(Bonner): “E é um sinal muito triste dos tempos que nós vivemos que a gente tenha que explicar essa atitude, não pra maioria do público brasileiro, de jeito nenhum, mas pra uma minoria muito pequena, mas muito barulhenta, pra quem o que nós fazemos, o jornalismo profissional, deveria, se não fechar completamente os olhos pra essa tragédia, pelo menos não falar dela com essa dor. O JN já pediu, você lembra, que a gente parasse pra respirar, porque tudo vai passar. O JN já lembrou que as vidas perdidas não podem ser vistas só como números. E a gente repete mais uma vez: respira, vai passar. A gente repete também: 50 mil não são um número, são pessoas, que morreram numa pandemia, elas tinham família, mães, pais, filhos, irmãos, tios, avós, famílias,tinham amigos, tinham conhecidos, vizinhos, colegas de trabalho, como nós aqui somos. E nós, como nação, devemos um momento de conforto pra todos eles.”

Renata: “E pra nós mesmos, porque nós somos uma nação. Como o Bonner disse, tudo isso vai passar. Quando passar, é a História, com H maiúsculo, que vai contar pras gerações futuras o que de fato aconteceu. A História vai registrar o trabalho valoroso de todos aqueles que fizeram de tudo pra combater a pandemia, os profissionais de saúde em primeiro lugar.

Bonner: “Mas a história vai registrar também os que foram negligentes, os que foram desrespeitosos. A História, atribui glória, e atribui desonra, e História fica pra sempre.”

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