Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Cuidadoso na arte de dirigir, Del Rangel colecionava simpatia e confiança no set

O diretor em ação no SBT, onde trabalhou por mais tempo. Foto: Lourival Ribeiro/Divulgação

Morto na noite desta quinta-feira (17), Del Rangel assinou muitos títulos relevantes ao longo de 37 anos vividos por trás das câmeras. Aos 64 anos, o diretor teve um infarto fulminante ao voltar para casa após um dia normal de trabalho na TV Cultura, onde assinava o comando da programação desde a chegada de José Roberto Maluf à presidência da Fundação Padre Anchieta.

Por um bom período, Del ficou conhecido como o marido e ex-marido de Regina Duarte, com quem foi casado entre 1983 e 1993, período em que dirigiu a atriz em algumas ocasiões, incluindo a série “Retrato de Mulher”, em 1993.

Tive o prazer de trabalhar com ele no remake de “As Pupilas do Sr. Reitor”, entre 1994 e 95 no SBT, uma das melhores produções da emissora de Silvio Santos. Toda a era de Nilton Travesso à frente do departamento de teledramaturgia merece esse destaque, que compreende o período entre o remake de “Éramos Seis” (1994), com Irene Ravache, até “Razão de Viver” (1996).

Na sequência, Del mudou de canal junto com Nilton Travesso, que assumiu então a dramaturgia na Bandeirantes, onde fizeram “Serras Azuis”, novela que trouxe Maria Fernanda Cândido para a TV.

No que diz respeito ao tempo do SBT pelas rédeas de Travesso, digo que Del era afável como poucos diretores são no set, qualidade que na ocasião estava também impressa na maneira do chefe, Travesso, de lidar com equipe e atores. O set com Del não tinha tempo ruim. Diretor que era de uma paciência rara no ofício, mostrava-se sempre gentil e bem-humorado, não se contentando com a primeira cena gravada.

Dizíamos que o Del cumpria, muitas vezes, pouco mais que a metade das cenas gravadas em um dia por outros diretores da novela, mas o tempo consumido no expediente aparecia no capricho do resultado. Havia diretor que cumpria prazos melhores sem comprometer o conjunto da obra, honrando as necessidades do ritmo industrial demandado pela TV aberta, caso de Henrique Martins, eficiente no custo-benefício do negócio, mas também havia outro diretor que fazia valer a primeira cena gravada, sem se importar com a finalização, cujo nome vou poupar, até porque ele, assim como Martins, já não está mais entre nós para se posicionar.

Del era sempre o mais vagaroso e o autor das sequências mais belas. Vindo do cinema de Os Trapalhões, donos das maiores bilheterias dos anos 1980 no Brasil, entendia de massa e buscava algo além do mesmo nos planos de câmera e na direção de atores.

Na Cultura, Del vinha sendo muito apreciado por todo um elenco que via, depois de alguns anos, o retorno de um profissional que entendia de televisão. Não era meramente alguém da confiança do presidente da Fundação Padre Anchieta, como ocorreu por tantas vezes na TV pública de São Paulo, e sim alguém capaz de compreender como funciona a engrenagem do negócio. Não basta ter uma grade de programas que todo mundo diz admirar, mas poucos assistem, é preciso fazer isso chegar ao gosto da audiência, como acreditava o diretor.

Antes da Cultura, retomando sua saída do SBT para a Band, Del voltaria ao SBT para dirigir outras novelas, então inferiores às da fase de Travesso no acabamento (e na audiência), fruto de adaptações mexicanas. Infelizmente, a parceria de outrora com Henrique Martins, que havia permanecido na emissora, não terminou bem, e Martins foi dispensado pela direção da empresa em um episódio que a muitos pareceu grande injustiça. Àquela altura, tanto Del quanto Martins já tinham de responder à primeira-dama, Íris Abravanel, que assumira a missão de selecionar as tramas a serem produzidas pelo SBT, assinando também suas versões locais.

O próprio Del seria dispensado pelo SBT pouco antes do início das gravações de “Carrossel”, um grande sucesso da emissora, ainda no fim de 2011. Na ocasião, ele atribuiu sua saída ao fato de não ter escalado Lívia Andrade para o papel da professorinha Helena, o que seria um pedido de Silvio Santos. Honestamente, nunca me aprofundei na investigação desse episódio.

O diretor participou ainda da direção de “Os Maias” (2001), na Globo, minissérie de Maria Adelaide Amaral baseada na obra de Eça de Queiroz, sob o comando de Luís Fernando Carvalho, produção que merece lugar de destaque na primeira fileira da teledramaturgia brasileira.

Para alguém que dirigiu de adaptações mexicanas a produções audiovisuais bem avaliadas, Del fez um caminho louvável finalizando sua contribuição à televisão nos bastidores da TV Cultura. Ali estava alguém capaz de unir um bom repertório ao alcance da massa.

Del passou também pela Manchete e pela Record, ou seja, trafegou por todos os canais de TV.

O SBT, a Cultura e a Record emitiram notas de pesar, que reproduzo a seguir:

“A Diretoria Executiva da Fundação Padre Anchieta comunica, com grande pesar, o falecimento do Diretor de Programação da TV Cultura, Del Rangel, 64 anos, na noite da última quinta-feira (16/7), em decorrência de um infarto fulminanante. O velório e a cremação acontecerão no Crematório Memorial Parque Paulista (rua Suécia, 56 – Jardim Mimas – Embu das Artes), respectivamente, às 12h30 e 13h30”

“SBT lamenta profundamente o falecimento do diretor Del Rangel


Crédito: Lourival Ribeiro/SBT

O SBT lamenta profundamente o falecimento do diretor Del Rangel, que ocorreu nesta quinta-feira (16). Del Rangel esteve presente em várias emissoras de televisão comandando a dramaturgia em suas mais diversas modalidades, entre novelas, minisséries e especiais.

No SBT, sua primeira passagem se deu em 1994 quando fora escalado por Nilton Travesso para ser um dos diretores de novelas, ao lado de Henrique Martins. Juntos fizeram os sucessos de Éramos Seis, As Pupilas do Senhor Reitor, Sangue do Meu Sangue, Razão de Viver, Os Ossos do Barão, entre outras, além de Teleteatro e A Justiça dos Homens.

A segunda passagem foi entre 2006 e 2012, tendo estado à frente das produções de Cristal, Vende-se um Véu de Noiva, Uma Rosa com Amor, Corações Feridos e a implantação de Carrossel.”

Del tinha 65 anos e deixa sua marca na trajetória da dramaturgia do SBT e da TV brasileira.”

 

“A Record TV lamenta profundamente o falecimento precoce de Del Rangel.

Na emissora, Del dirigiu a novela “Roda da Vida” (2001). De 2001 a 2004 foi diretor artístico da Record TV e lançou programas como o “É Show”, com Adriane Galisteu, e “Domingo da Gente”, com Netinho de Paula, “Roleta Russa”, com Milton Neves, e “Tamanho Família”, com Raul Gil. Seu último trabalho na emissora foi a direção do especial “Casamento Blindado” (2013).

Expressamos nossas condolências aos familiares, amigos e aos colegas da TV Cultura de São Paulo, onde ele trabalhava.”

 

 

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Cristina Padiglione

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