Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Da ‘Banana Airlines’, jatinho de Mag em ‘A Lei do Amor’ remete a ‘Vale Tudo’

Em 1989, com o país fervendo pela ansiedade das primeiras eleições diretas para presidência da República, após 29 anos, o malvado Marco Aurélio (Reginaldo Faria) decola do Rio de Janeiro a bordo de seu jatinho particular e, já nas alturas, com o Pão de Açúcar a seus pés, gesticula aquela clássica banana para a câmera. Era “Vale Tudo”, de Gilberto Braga.

Reginaldo Faria e a clássica banana de Marco Aurélio em 'Vale Tudo', ao som de 'Brasil, mostra tua cara...'

Reginaldo Faria e a clássica banana de Marco Aurélio em ‘Vale Tudo’, ao som de ‘Brasil, mostra tua cara…’

Em 2011, o malvado empresário Horácio Cortez (Herson Capri), também entra em seu jato particular para uma rota de fuga, mas o avião é interceptado na pista pela Polícia Federal. Era “Insensato Coração”, do mesmo Gilberto Braga, que, com a autorreferência, mandou a mensagem de que o país havia mudado e já não tolerava mais a impunidade alcançada por Marco Aurélio. Infelizmente, ele não estava tão certo assim: o país continua dizendo que não tolera impunidade, mas aí está votando nas mesmas cabeças que compõem o Congresso Nacional desde 1989.

Herson Capri, o Cortez em 'Insensato Coração', algemado logo após imitar Marco Aurélio

Herson Capri, o Cortez em ‘Insensato Coração’, algemado logo após imitar Marco Aurélio

Em 2017, em “A Lei do Amor”, a malvada Magnólia (Vera Holtz) tenta a fuga pelo jatinho providenciado pelo pérfido Tião Bezerra (José Mayer). E, de novo, mensagem de esperança subliminar, sua decolagem é interceptada, agora diretamente da torre de controle, mas pelo próprio malvado favorito da novela de Maria Adelaide Amaral e Vincent Villeri, Tião Bezerra.

Vera Holtz quase foge no jatinho da Banana Airlines no fim de 'A Lei do Amor'

Vera Holtz quase foge no jatinho da Banana Airlines no fim de ‘A Lei do Amor’

Quer dizer que o país anda tão intolerante com a corrupção que não deixaria Mag fugir? Nem tanto. A verdade é que alguns blocos adiante, veremos, nesse mesmo último capítulo, as viciadas ações políticas praticadas dentro e fora da ficção, com direito a participação especial de Tony Ramos como senador e potencial presidente da República, em cerimônia servida de hipocrisia, em Brasília. A coisa, a julgar por aquela sequência, vai muito mal. Magnólia deu foi azar, já que sua fuga dependia diretamente do paradeiro de Helô (Cláudia Abreu), sequestrada por ela e encontrada antes que o avião ganhasse o céu.

Noves fora, o último capítulo da arrastada trama foi igualmente arrastado. A pergunta é: por que demoraram cento e tantos capítulos para hidratar os cabelos do pobre Reynaldo Gianecchini? O sujeito já não velejava desde a primeira semana de novela, e sempre me perguntei qual seria o motivo daqueles fios queimados e ressecados após tanto tempo sem exposição ao sol. Na segunda parte do último capítulo, parecia até outro ator, 20 anos mais jovem. Para marcar a retirada da barba, a hidratação e corte de fios dele, encompridaram os cabelos de Cláudia Abreu e deram-lhe uma pompa e circunstância que abandonava aquela simplicidade marcada no início da trama.

Reynaldo Gianecchini e Cláudia Abreu no final de 'A Lei do Amor'

Reynaldo Gianecchini e Cláudia Abreu no final de ‘A Lei do Amor’

Se Helô passou a novela toda como se fosse uma moradora da Vila Madalena, descolada-chic, mas falsamente desapegada de grifes, no último capítulo seu figurino e penteado a transportaram para a ostentação dos Jardins e do Morumbi. E a virada no lay out de ambos, na linha “veia como o amor pode rejuvenescer”, teve direito a cena de banho e de uma nesga de nudez do galã, recurso que normalmente os diretores usam em primeiro, não em último capítulo.

Reynaldo Gianecchini, pós-banho, no último capítulo de 'A Lei do Amor'

Reynaldo Gianecchini, pós-banho, no último capítulo de ‘A Lei do Amor’

 

Num dos momentos mais constrangedores do desfecho, Isabela (Alice Wegmann) traça um plano mexicano de morte para Thiago (Humberto Carrão), a bordo de uma lancha, em Ilha Bela, mas não consegue matá-lo. Na ocasião, Marina se revela Isabela, para o espanto (??? quem acreditou que uma não fosse a outra?) do rapaz. Faço aqui um parêntese para morder a língua e aplaudir Carrão, a quem eu sempre vi com a expressão de uma alface. Na sequência em questão, acreditei nas lágrimas vertidas por ele.

Mas aplauso mesmo, em cena aberta, com o público de pé, merece Cláudia Abreu. Num momento em que o telespectador já havia desistido de embarcar numa história repleta de tropeços e falta de lógica, ela manteve toda a comoção de quem acredita no que está fazendo, de modo muito superior a todo o elenco. Pena que a equipe de continuidade tenha mantido o mesmo esmalte em suas unhas, do cativeiro ao parto, passando pelo crescimento de seus cabelos, pelo crescimento do filho e todo o passar dos anos. Haja preferência pela mesma cor.

Pena também que os autores tenham caído na tentação da caricatura forçada, ao transformar Hércules (Danilo Granghéia), herdeiro da tecelagem da trama, em mendigo de rua, e a prostituta de luxo em prostituta que vaga pelas ruas, rameira no último grau. É o tipo da coisa meio conto de fadas, novela mexicana, que dá um “bem feito!” aos malvadinhos no final. Ao vilãozão Tião coube o mesmo estado vegetativo que ele provocou em seu adversário, Fausto (Tarcísio Meira). E Mag, como convém a uma grande dama do mal, preferiu esperar que o trem a varresse dessa existência, a se entregar à polícia.

Entre altos e baixos, gente que mudou de lado radicalmente, como o crápula do Ciro (Thiago Lacerda), contos da carochinha e tal, a figura mais coerente durante toda a história, e que, de novo, nos surpreende, atende por Grazi Massafera. Voto nela para primeira dama, como sugeriu o desfecho da novela.

Grazi Massafera em A Lei do Amor

Grazi Massafera em A Lei do Amor

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Cristina Padiglione

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