Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

De causa nobre, ‘Aruanas’ já chega ao streaming patrocinada

Tainá, Taís Araújo, Débora Falabella e Leandra Leal/Divulgação

Programa de TV consumido por plataforma de streaming, em geral, não tem comercial. Mesmo assim, a Natura, que há duas décadas desenvolve um projeto que envolve mais de 5 mil famílias na Amazônia, quis associar sua marca a “Aruanas”. A série do GloboPlay, parceria com a produtora Maria Farinha Filmes, tinha estreia anunciada para esta terça, 2 de julho, mas já está no ar desde o fim de semana e, até onde pude conferir, sim, vale muito a pena ser vista. Mas esse será o mote de um próximo post.

De Marcos Nisti e Estela Renner, que também assina a direção-geral do título, “Aruanas” tem direção-artística de Carlos Manga Jr. e é livremente inspirada em fatos reais que denunciam o descaso sobre crimes ambientais cometidos na região. A trama expõe ainda as vísceras dos poderes legislativo e judiciário em suas relações diretas com o desmanche da floresta, as reservas indígenas e o uso de agrotóxicos ou substâncias nocivas ao planeta, só para o começo da conversa.

Antes da exibição de cada episódio e nos intervalos comerciais da exibição reservada à TV para o primeiro episódio, no ar nesta quarta, a marca estará explicitamente lá. Mas a associação à série e à bandeira que ela levanta nem sempre terá citação nominal e isso merece ser notado como um novo conceito de publicidade, onde menos é de fato mais.

Para a Natura, vale mais o recado transmitido por “Aruanas” do que o seu nome estampado em outdoor, digamos assim, o que é assegurado sobretudo pelo trabalho que a empresa já realiza na vida real há pelo menos duas décadas.

“Não teremos nenhuma interferência no conteúdo da série, jamais estaremos presentes nesse sentido de ser uma interferência”, explica a Vice-presidente de marketing da Natura, Andréa Álvares. Questionada se haverá algum tipo de merchandising, direto ou indireto, em cena, indicando ações praticadas pela empresa na região, ela faz um certo suspense, como “veja você mesma”.

“Estar conectada a esse conteúdo já é riquíssimo. E para a nossa história, isso é pertinente, não é oportunista”, completa, fundamentando seu discurso em uma trajetória coerente na prática.

Nas vinhetas de abertura e intervalos da exibição da TV (e mostras gratuitas de conteúdo para não assinantes no Globoplay), a empresa aparece com a questão: “O que uma marca de beleza pode fazer pela Amazônia?”. O recado será extensivo às redes sociais, com vídeos de 30 segundos desenvolvidos em parceria com a agência África.

Atualmente, a Natura afirma que se relaciona com mais de 5,5 mil famílias de comunidades da região amazônica, que são fornecedoras de matéria-prima para os produtos da marca. Em duas décadas de trabalho, a patrocinadora de “Aruanas” contabiliza a conservação de mais de 1,8 milhão de hectares de floresta em pé. Para quem se abastece daquele material, afinal, faz todo sentido que a floresta valha mais em pé do que derrubada, mas a empresa tratou de fazer desse princípio um meio sustentável que possa ser bom para todos.

Desde 2007, a marca também assumiu o compromisso de neutralizar o carbono emitido em sua linha de produção, aderindo ao programa Carbono Neutro com a implementação de um programa que abrange desde a extração das matérias-primas ao descarte final das embalagens após o uso. Desde então, 38 projetos de compensação foram apoiados pela Natura, sendo que desses 32 estão no Brasil e outros 6 na América Latina.

Só por isso estamos aqui contando essa história. Juro que esse post não é patrocinado como “Aruanas”, é sempre bom informar, sendo também uma causa na qual este modesto blog acredita.

“O conteúdo que está sendo discutido na série é um conteúdo no qual a marca acredita e apoia e que a gente também defende”, diz Andréa. “Estar associado a essa discussão tão central, para a gente, é muito importante. Nossa relação com esse bioma começou um pouco antes do ano 2000. Desde então estamos na Amazônia, buscando encontrar um modelo de valor com preservação e geração de renda. A gente encontrou uma forma de fazer, ao mesmo tempo que a gente devolve o que aquela região nos dá. É um trabalho pelo não-desmatamento, de encontrar alternativas, um valor que respeita a natureza,”

Para João Mesquita, diretor-geral do Globoplay, a Natura é mais que uma patrocinadora da série, “é uma apoiadora do projeto”, disse ele ao TelePadi. Embora a plataforma se proponha a não veicular publicidade para quem é assinante, a associação da empresa com a série não virá, para esses, em formato de propaganda direta, assegura, além de se tratar de um caso muito específico em que o apoio está diretamente relacionado ao enredo.

Por fim, a vice-presidente da Natura entende que envolver o brasileiro na defesa desta causa é um desafio. Embora o debate sobre a preservação da Amazônia já acumule anos e anos de discussão, discursos e reportagens, falta ao cidadão que mora fora da região um envolvimento individual com essa bandeira. É como se ele achasse que a salvação não está ao seu alcance.

Para Andréa, um bom exemplo de como é possível ganhar os ouvidos da massa com efeitos imediatos diz respeito ao agora demonizado canudinho de plástico. “Foram anos e anos falando sobre a questão dos resíduos na natureza, e de uma hora para outra, o cidadão, a indústria e o poder público se mobilizaram para botar um fim no canudinho de plástico, descobrindo até que podemos ter canudinho de macarrão ou de outros materiais menos nocivos ao meio-ambiente. Considero este um caso incrível.”

Imagem da tartaruga com resíduo no nariz impulsionou fim do canudinho de plástico/Reprodução Youtube

A extinção do canudinho de plástico, é bom lembrar, ganhou adesão principalmente por um vídeo que viralizou, em que uma equipe de pesquisadores tenta retirar das narinas de uma tartaruga um canudo que obstruía sua respiração, enquanto o bicho sangrava. Essa imagem rodou o mundo e teve efeito imediato no engajamento de cada indivíduo sobre um tema que até então lhe parecia tão intangível, distante do nosso dia a dia. É de fato uma boa referência para as causas que estão para serem abraçadas no quesito meio-ambiente, ainda tratado como um problema coletivo, sem efeito satisfatório no impacto causado em cada cidadão individualmente.

 

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Cristina Padiglione

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