Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

De Silvio Santos a Huck e Mion, nem todo apresentador cabe em todos os palcos

Luciano Huck e Marcos Mion experimentam novos palcos neste fim de semana / Reprodução Instagram

Luciano Huck vem aí nas tardes de domingo, com Show dos Famosos e o fardo de suceder oficialmente Fausto Silva, dono da vaga havia 33 anos. Pior: como Tiago Leifert desempenhou com maestria a tarefa de tapar o buraco deixado pela saída antecipada do ex-titular, Huck fatalmente será comparado com os dois, Fausto e Leifert.

Antes que o domingo chegue, Marcos Mion baixará nas tardes de sábado, onde Huck proclamava “loucura, loucura loucura”, mas amansava famosos e anônimos sem a insanidade alardeada pela interjeição que marcou o apresentador.

Mais adiante, Faustão virá a ocupar as noites de segunda a sexta –e essa está fácil– no lugar de um pastor evangélico que tentava ganhar fiéis para a sua igreja. Faustão será no máximo comparado com seu próprio histórico, do “Perdidos na Noite” de 33 anos atrás, naquele mesmo canal, à longa trajetória nas tardes de domingo.

Qualquer que seja o efeito do novo programa, será um ganho para a programação da Band e para o público disposto a sintonizar a emissora.

Convenhamos, até para quem gosta de novos ares, é muita mudança de uma só vez para a plateia do sofá. E por melhores que sejam esses profissionais, ninguém dá conta de todo tipo de show e de público, grupo que se alterna na troca de horários e de canais.

Vendo André Marques no É de Casa no sábado (28), por exemplo, bateu um alívio de reencontrar aquele sujeito simpático à vontade no seu papel de bom apresentador, confortável com a conversa doméstica a ser vendida para o público.

André foi ligeiramente massacrado à frente do “No Limite”, como se lhe faltasse competência para a função de apresentador. Não é o caso. Mas aquele negócio de gincana de bizarrices em região inóspita não é para ele nem nunca será.

Nem todo mundo tem de sair da sua zona conforto para crescer, porque, para alguns, a saída da zona de conforto pode ser o precipício. Há atores ótimos que dedicam a vida a um único papel, e ninguém fará aquele papel melhor que ele. (Nair Bello era desse time.)

Mas é possível encontrar um caminho que pareça desconfortável à primeira vista, porém promissor em longo prazo, desde que os patrões tenham disposição em esperar pelo azeitamento de seus talentos em novas receitas.

Após passar anos engessada na bancada do Jornal Nacional, Fátima Bernardes demorou mais de ano para aprender a se remexer minimamente diante das câmeras de seu Encontro. Bailarina de formação, evidenciava absoluta falta de jeito para exibir na tela qualquer coreografia abaixo da cintura, um terreno desconhecido para quem fez história na TV sendo focalizada apenas em plano americano e ao lado do então marido.

Tiago Leifert parece maior que os formatos que lhe entregam, e ninguém se mostrou melhor nesse contexto do que ele até aqui. O menino se fez notar em noticiário esportivo, depois no comando de talent show musical (“The Voice”) e surpreendeu ao suceder Pedro Bial em uma das missões mais difíceis da TV –o comando ao vivo do “Big Brother Brasil”.

Convocado às pressas para apresentar o Domingão do Faustão, no primeiro domingo em 32 anos sem Fausto Silva, honrou a fama de saber sempre como falar com o público, independentemente do local e do recado.

Nem por isso foi colocado à prova nas Videocassetadas, conteúdo que ninguém conseguiu narrar com o mesmo êxito de Fausto Silva. Ou seja, até para quem se mostra muito à vontade em qualquer posição de jogo em campo, há alguma restrição.

Houve também alguma tensão quando Bial chegou à vaga de onde tiraram Jô Soares, após quase 30 anos de late show do gordo (incluindo os 10 de SBT), mas o novo apresentador trazia o DNA do jornalismo, o que o favoreceu no comando ao vivo do “BBB”, que por sua vez lhe deu elementos para ficar muito à vontade nas entrevistas de fim de noite.

Agora, veremos Luciano Huck na vaga de Faustão, e por mais que ambos sejam cobras criadas em programas de auditório, o horário a ser ocupado faz muita diferença. Boa parte do público presente no sofá no domingo à tarde não se faz presente no sábado à tarde.

De sua parte Mion, o mais bem-sucedido no quesito rede social, chega com fôlego para acrescentar uma plateia mais jovem à audiência da Globo. Particularmente, embora este blog tenha sido o primeiro a noticiar que ele só ficaria no Caldeirão até o fim do ano, digo que será difícil arrancá-lo dessa cadeira agora, depois de todo o auê que ele desfilou sobre a missão em questão.

De toda forma, consta que Ivete Sangalo é forte possibilidade para ocupar o horário em 2022. A ver. Potencial não lhe falta. E a cantora tem um humor quase involuntário, além da capacidade de falar ao público como se esses milhões do outro lado da tela lhe fossem íntimos. Na condução do Criança Esperança, nem Huck nem Maju Coutinho pareciam mais à vontade do que ela.

Na Record, Adriane Galisteu substituirá Mion no comando de “A Fazenda”, outra performance a ser posta à prova agora em setembro. As constantes mudanças na apresentação do reality show rural, de toda forma, são um fator que depõe contra a boa performance do programa. Oxalá a Record acerte com mais esta troca.

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