Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

De volta ao Viva, ‘Por Amor’ é boa crônica de costumes, novela em que tudo funcionou

Susana Vieira, Branca Letícia em 'Por Amor', e seu Martíni

“Me prepare um Martini, Zilá!”

Mote de Branca Letícia, adorável vilã vivida por Susana Vieira em “Por Amor”, essa é uma das frases que guardo na memória da exibição original, de 1997.

Lembro-me bem também do Orestes, personagem de Paulo José, alcoólatra, casado com a personagem da Regina Braga e pai da pequena Cecília Dassi. Que comoção havia naquela família e no drama do patriarca. Há coisa de dois anos, ao lembrar de Orestes durante uma entrevista, Paulo José me explicou que o alcoolismo do personagem conspirava a favor dele, que já sofria de Parkinson, visto que a tremedeira que o acometia, na época, era recorrente em bêbados como Orestes (há alguns anos, Paulo José tem controle sobre os movimentos físicos, graças ao implante de um marca passo na região da nuca).

Tenho como grande referência de texto e interpretação, dramaturgia na veia, o quase monólogo que Antonio Fagundes vomitava sobre Regina Duarte no último capítulo, encerrado mais ou menos com essa frase: “você não sabe amar, mas pode aprender”. É o momento em que Atílio desabafa sobre a grande mentira de Helena a respeito do filho deles, que, afinal, não viera morto ao mundo, como ela sustentou desde o parto, para sanar a dor da filha, a chata da Maria Eduarda, coitada, vivida pela própria Gabriela Duarte, que perdera o seu bebê. Mãe e filha iam para a maternidade ao mesmo tempo, com auxílio do doutor César, médico interpretado por Marcelo Serrado. Apaixonado por Maria Eduarda, ele atendia ao pedido da mãe, Helena, amiga da família de longa data, e atestava a morte de um bebê por outro. Só como parêntese, convém reforçar aí a sina de preterido que cabe a Serrado, de “Anos Rebeldes” a “Velho Chico”, passando por “Por Amor”.

Atílio questionava Helena sobre que direito ela tinha de achar que o amor dela pela filha dela era maior que o amor dele pelo filho dele.  Eram páginas e páginas de texto do Manoel Carlos, só com Fagundes falando e falando, com um close ou outro no rosto de Regina, com aquela cara de quem está sofrendo com o que ouve, sem nada poder dizer. Grande momento de todos eles: Maneco, Fagundes e Regina. Mas isso é obra para o último capítulo.

Regina Duarte em sua primeira Helena, com a filha, Gabriela

Até lá, vale a pena se deliciar com o romance das personagens de Carolina Ferraz e Du Moscovis, um par que deu liga em cena, sob o hit “Palpite”, de Vanessa Rangel, que até hoje, quando toca no rádio, remete ao casal.

Du Moscovis e Carolina Ferraz: romance que deu liga

Nos bastidores, a liga aconteceu entre Carolina e Murilo Benício, que vivia seu irmão, patinho feito rejeitado por Branca. Os dois terminaram a novela morando no mesmo endereço na vida real.

Na verdade, dos três filhos de Branca Letícia, ela paparicava apenas Marcelo (Fábio Assunção), que jurava ser filho de Atílio, de quem havia sido amante. Casada com Arnaldo, papel de Carlos Eduardo Dolabella, Branca errou nos cálculos. O filho de Atílio, conforme um exame de DNA viria a comprovar no desfecho da novela, era Léo, papel de Benício.

Foi a última novela da faixa nobre comandada por Paulo Ubiratan, um gênio em matéria de escalação de elenco, que morreu um mês antes do fim da história. “Por Amor” era um caso de novela bem resolvida: bom argumento, boa execução, boa performance do elenco, bons diálogos e química absoluta entre atores e personagens.

Outra lembrança forte do desfecho era Branca Letícia, sozinha, abandonada por todos em sua mansão, pedindo que Zilá (Stella Maria Rodrigues), a empregada, sempre chamada para preparar o Martíni, se sentasse no sofá, para lhe fazer companhia. A patroa ainda convidava a funcionária para preparar, também para ela, um Martíni.

A abertura, uma mescla de fotos de Regina e Gabriela, honrando a preferência inabalável de Maneco por Bossa Nova, era de um bom gosto raro para o segmento.

Primeira novela a ser exibida pela segunda vez no canal Viva, “Por Amor” está completando 20 anos e trazia na trilha a versão italiana do título, “Per Amore”, grande sucesso de Zizi Possi.

A zebra da produção foi a morte de Ubiratan antes que Branca levantasse seu último copo de Martíni. Se algo mais deu errado na novela, não ficamos sabendo.

No Viva, a partir de hoje, às 23h30, “Por Amor” ocupa a vaga honrada até a última sexta por “Pai Herói”, sob a bênção de Janete Clair.

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Cristina Padiglione

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