Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

‘Deus Salve o Rei’ vale como boa fuga terapêutica da vida real

Caio Blat em cena de batalha que respeita o horário das sete: não tem a crueldade de 'Game of Thrones', mas também não parece fábula infantil, como 'Belaventura'

Parece que a Globo se desapegou de vez da necessidade de fazer novela das sete com torta na cara. O pastelão, gênero que abriu um caminho muito sólido para o horário por três décadas e meia, ou desde a “Guerra dos Sexos” original, já não é regra. Não que “Deus Salve o Rei” abra mão da comicidade, como endossaram as primeiras cenas com Johnny Massaro – sem falar que a presença de uma Tatá Werneck num elenco não deixa dúvidas sobre o riso que vem aí.

Mas o que dá o tom ao novo folhetim das 19h30 da Globo é a capacidade de promover uma fuga terapêutica para o telespectador, carregado ali para bem longe da neurose urbana contemporânea que domina noticiários e ficção em geral. Bem realizada, com bons diálogos e elenco estelar, a trama ostenta ainda a grandiosidade cenográfica, sustentada por uma trilha sonora à altura, com apoio de toda a tecnologia do chroma key e dos recursos de pós-produção.

Ah, a Record também tem sua novela medieval no mesmo horário, “Belaventura”, é bom lembrar. Mas, a primeira batalha vista em “Deus Salve o Rei” já supera, de longe, a artificialidade das espadas empunhadas no outro canal. É evidente que não se espera para as sete e meia da noite, num canal aberto de TV, um festival de cabeças rolando, como acontece em “Game of Thrones”. Mas alguma veracidade é preciso haver, e a Globo acerta na dosagem do sangue cenográfico que lambuza espadas. Os ferimentos, dos personagens centrais ao elenco de apoio, são críveis, assim como as lanças que espetam uns e outros, fazendo tombar figurantes em proporção mais real.

Mesmo carregando o público para longe da tensão atual, a história sabe como fazer com que o sujeito do outro lado da tela se identifique com o que está vendo. Mariana Ruy Barbosa não é a mocinha submissa à espera de marido da novela de época, longe disso. Dentro do contexto atual de  empoderamento feminino, quer ter sua própria renda. Sorte a dela. Nada mais chato que heroína chata. E há a questão da falta de água, um tema universal que não terá de ser martelado o tempo todo para se fazer lembrar: a crise hídrica é um dos pilares dos conflitos que sustentam o enredo de Daniel Adjafre, mais um estreante como autor titular de novelas.

A propósito, nenhum horário tem sido mais propício à experimentação de novos dramaturgos do que o das 19h.

Deus salve a renovação desses profissionais, amém.

Gostei do primeiro capítulo. Vamos ver o que vem pela frente.

Cotação: BOM

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Cristina Padiglione

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