Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

‘Dia triste pra mim’, diz Babu sobre racismo no ‘BBB 21’

Marcelo Adnet e Babu falam sobre racismo no Plantão BBB / Reprodução

“Dia triste pra mim”, disse Babu no Plantão BBB desta terça (6), pela Globo, ostentando o pente na cabeça, como fazia no “BBB 20”. Por coincidência, o ator, principal porta-voz sobre temas racistas na edição passada do BBB, e justamente a partir da simbologia do pente que ostentava no cabelo black power, já estava agendado para conversar com Ana Clara sobre a edição do reality da véspera, quando João expôs sua mágoa sobre a comparação que Rodolffo fez entre seu cabelo e uma peruca de homem da pré-História.

Participante que foi o quarto entre os finalistas do ano passado, Babu afirmou que se a situação tivesse ocorrido com ele, talvez ele tivesse sido expulso. O ator lembrou que falou de racismo no BBB 20, inclusive sobre a questão do cabelo afro, tendo passado boa parte da temporada com um pente ostentando o orgulho de seus fios, mas não esteve envolvido diretamente em nenhuma situação parecida com a de João.

Antes, Ana Clara, ex-BBB e apresentadora do Plantão BBB, explicou: “O Big Brother Brasil é um reality, então, traz situações da vida, traz situações muito tristes da nossa sociedade, como homofobia, racismo, sexismo.”

Como Babu reagiria na pele de João? “Eu acho que eu seria expulso da casa, porque, diferente do João, eu não deixaria passar batido quando aconteceu. Entendi, mas fiquei com aquela pulga atrás da orelha, eu falei: ‘Pô, não é possível que essa fala não ia agredir’. Aí o cara [Rodolffo] se justifica de uma forma como se ele fosse um recém-nascido, ele é detonado, e ele ainda insiste em rogar pela ascendência afrodescendente dele. A maior prova de que isso é um absurdo é que ainda tem gente que apoia isso aqui fora, num discurso desses, dessa pseudoinocência. Só que em 2021 não tem desculpa, não é mimimi, isso não é piada, isso não é mais aceitável, o cabelo dele não parece com aquela peruca e não tem que ter comparação com nada. E o que mais me assusta é um ser humano não enxergar o que está fazendo e continuar propagando aquele show de asneiras.”

Para o ator, a situação exemplifica claramente o que é o “racismo estrutural”, “é um bom exemplo é o cara nem enxergar que está sendo racista”. “É como se fosse uma fôrma torta. ‘Ah, mas a fôrma estava torta’. Cabe a nós desentortar a fôrma. O nosso cabelo foi muito associado a sujeira, a não ser bonito, minha mãe me fazia eu cortar o cabelo a cada 15 dias porque o meu cabelo grande era feio. Eu casei com uma mulher branca e minha filha tem o cabelo encaracolado que era chamado de árvore. Rodolffo está reproduzindo uma brincadeira de escola que ele já devia ter percebido que estava errada.”

E concluiu: “Engraçado como o Big Brother está saltando da tela porque essa dor do João já foi minha dor um dia”.

Também convidado do Plantão BBB desta terça, Marcelo Adnet endossou Babu: “Primeiro, eu acho que a gente tem que escutar, a empatia é conseguir saber que eu sou, só porque nós somos. Ver o João passando por aquilo ontem foi muito triste, e nós temos vários Brasis diferentes que convivem, esses Brasis estão conversando entre si e é muito doloroso.”

A edição do Plantão resgatou a sequência em que Babu explica a Rafa Kalimann, na temporada passada, por que usava o pente no cabelo. Ele argumenta: “Quando você pega o pente e abre o black, o pente é a coroa do black, o black é a libertação.”

Babu completa: “Eu odiava pente. Quando eu conheci o garfo, o amigo do meu pai fazia o garfo com um garfo mesmo, e foi muito mais fácil pentear o meu cabelo, e ele falou isso: ‘libertação'”. O ator comemorou a chance de ter podido mostrar em rede nacional parte da militância que traz no seu dia a dia.

Adnet emendou: “Aproveito esse episódio pra olhar pro Brasil, é um episódio que fala muito sobre o jogo, mas fala muito sobre o país, pra que ele possa andar na mesma direção. Acho que a gente ainda pode aprender a discordar com respeito. Mas estamos aqui hoje por causa do nosso passado, escravagista, é preciso que a gente tenha consciência disso. Muitos de nós não querem olhar pra isso porque olhar pra isso é incômodo.”

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Cristina Padiglione

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