Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Documentário do SescTV resgata contexto e efeitos da Semana de 22

Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Oswald de Andrade e Mário de Andrade ganham vozes interpretadas por Erika Puga, Maria Manoella, Marcelo Diaz e Anderson Negreiro, respectivamente / Divulgação.

Muito se falou sobre a Semana de Arte Moderna de 1922, que completa agora seu centenário, mas não houve, até aqui, entre as celebrações da efeméride, produção capaz de traçar um painel tão bem contextualizado sobre aquele episódio que ocupou o Teatro Municipal de São Paulo há 100 anos como o documentário “22 em XXI”. Concebido e dirigido por Helio Goldsztejn, o título irá ao ar pelo SescTV nesta terça-feira, coincidentemente um dia 22, mesmo número da celebrada semana, e ficará disponível na plataforma ditigal do Sesc a partir do dia 29.

A produção ouve informações, análises e comentários de Aracy Amaral, Caetano Veloso, Emicida, Jerá Guarani, José Miguel Wisnik, Fred Coelho, José Celso Martinez Corrêa, Maria Eugênia Boaventura, Ruy Castro, Regina Teixeira de Barros, Hélio Menezes, Maria Bonomi, Maria Adelaide Amaral, Antonio Risério, Pedro Duarte e Marcos Augusto Gonçalves –jornalista da Folha que assina ainda uma consultoria no documentário.

Os relatos resgatam um antes de depois da semana, seus méritos e contradições, alguns equívocos reconhecidos anos mais tarde, mas, principalmente, o que ficou daquele movimento que foi um dos eventos culturais mais importantes da história da arte brasileira e deixou marcas definitivas para o setor, inclusive sobre o que não se deve repetir, como o manto de herói emprestado à figura dos bandeirantes.

O depoimento da indígena Jerá Guarani é de causar vergonha alheia a toda a civilidade que incentivou e aplaudiu por décadas os monumentos erguidos pelos chamados desbravadores, como a maioria de nós aprendeu a tratá-los. Pouco se falou que aqueles homens dizimavam aldeias indígenas, capturavam escravos fugitivos e destruíam quilombos, mapeando territórios em busca de pedras e metais preciosos.

Não é à toa que a produção aproveita imagens da estátua de Borba Gato em chamas, cena ocorrida há menos de um ano.

Revisitada por quem conhece os bastidores daqueles personagens e seus meandros, de Tarsila a Anita Malfatti, de Mario de Andrade a Villa-Lobos, de Oswald de Andrade a Menotti Del Picchia e Di Cavalcanti, o longa-metragem intercala as análises e informações de cada depoente de modo competente, dando a leigos e conhecedores do assunto um caráter de utilidade e entretenimento.

A edição conduz a questionamentos que respondem se a Semana foi realmente um ponto essencial para as gerações a seguir na cultura brasileira, ou se houve ali também uma construção mítica que ganhou força com movimentos que vieram depois, como Concretismo, o Cinema Novo e a Tropicália.

A produção inclui cenas de dramaturgia com representação de alguns diálogos retirados de registros deixados pelos modernistas, o que pode ser um indício de outra realização sobre o tema, segundo anunciou seu diretor, Goldsztejn, durante a pré-estreia do filme no CineSesc, em São Paulo, ainda na segunda-feira (21). Sem dar detalhes, o diretor apenas avisou que prepara uma ficção sobre o tema.

Nas dramatizações, Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Oswald de Andrade e Mário de Andrade são interpretados por Erika Puga, Maria Manoella, Marcelo Diaz e Anderson Negreiro, respectivamente.

Goldsztejn consumiu três anos na concepção do filme, com apoio do Sesc, e convida o público a comparecer diante da tela: “Cá estamos, cem anos depois da Semana, com um documentário que conta essa história com o olhar do nosso século. Minha vontade sempre foi a de poder mergulhar um pouco nesses dias, repletos de criação, dilemas e contradições. Arte, muita arte sim, e um projeto político por trás. Bem-vindo ao sonho, ao Cadillac verde de Oswald rumo à antropofagia, Bossa Nova, Concretismo e Tropicália!”

 

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Cristina Padiglione

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