Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Beneficiário de concessão pública, Ratinho defende Bolsonaro de críticas da GloboNews

Recheado de vinhetas que remetem à trilha sonora da ditadura militar, com canções como “Eu te amo meu Brasil” e “Pra Frente Brasil”, o SBT conta, em seus quadros, com pelo menos mais um grande entusiasta do novo governo, de Jair Bolsonaro.

Na noite desta terça-feira, o apresentador Ratinho, dono da Rede Massa, no Paraná, concessão pública de canal aberto de TV, assim como Silvio Santos, e agora pai do governador eleito naquele Estado, Ratinho Jr. (PSD), fez uma defesa contundente do presidente recém-eleito.

Contestou a crítica de jornalistas à escolha do ministério até então definido pelo sucessor de Michel Temer e chamou de “deboche” as considerações contrárias a nomeações como a do juiz Sérgio Moro para a pasta da Justiça, e a do astronauta Marcos Pontes para o ministério de Ciência e Tecnologia.

Destacou nominalmente a GloboNews, ao dizer que possui TV a cabo em casa. E, como cliente, afirma que não é obrigado a ouvir deboche, já que está pagando.

Mas teve mais. Ratinho afirmou textualmente que jornalistas levavam “dinheiro” para defenderem o “outro lado”. Eis o texto completo de seu protesto.:

“Tudo quanto é ministro que o Bolsonaro convida, tem sempre alguns jornalistas debochando. Eu acho que o período do deboche já passou. Perderam a eleição, perderam a eleição, ganhou, ganhou, rede social ganhou a eleição, acabou. Então, parem de ser canastrão, um bando de canalha, um bando de jornalista que a gente sabe que pega dinheiro do outro lado, que aqui ninguém é besta, e vocês que não me xinguem, não, que eu falo o nome, e aguento o processo, inclusive. Tinha jornalista que pegava dinheiro do outro lado, fica debochando. O presidente escolheu muito bem. Sérgio Moro vai ser o melhor do Brasil, aquele rapaz, como chama mesmo, o Pontes, aquele astronauta lá? Marcos Pontes, vai ser um baita de um ministro, e o Paulo Guedes vai ser um baita de um ministro. Não adianta chorar,. Eu sou a favor da democracia, quem ganhou ganhou,agora para. Para! Principalmente televisão a cabo, vem cá, você que é dono de televisão a cabo, eu tenho televisão a cabo na minha casa, queria avisar isso pra GloboNews, e eu pago, e eu não sou obrigado a escutar deboche no canal a cabo, e não tenho medo, e eu sou brasileiro, sou verde e amarelo, torço por esse país, tenho condição de morar em qualquer país do mundo, mas não saio daqui, é daqui pro cemitério, vamos lá”.

DNA 

A postura de Ratinho vem de encontro à manifestação de Silvio Santos a favor do presidente eleito e da histórica bajulação que o dono do SBT dedica ao chefe da nação, seja ele quem for, mas uns mais que outros. Com Michel Temer, recebeu-o sem uma vírgula crítica à explanação do  presidente sobre seu projeto de Reforma da Previdência.

Agora, antes mesmo que Bolsonaro assuma a presidência e passe a distribuir a verba publicitária oficial do governo de acordo com a subserviência ou não de cada veículo, o SBT vem exibindo, desde terça-feira, vinhetas encomendadas pessoalmente pelo dono da emissora ao departamento competente para tanto, com remissão clara ao período da ditadura militar, regime sempre celebrado por Bolsonaro. Lá estão símbolos do nacionalismo, ao som de canções como “Eu te Amo, Meu Brasil”, “Pra Frente Brasil” e até do rufar do “Hino Nacional”.

Uma das peças, que ostentava a faixa “Brasil, ame-o ou deixe-o”, ícone do regime militar no Brasil, foi retirada do ar, após uma avalanche de protestos.

Vamos lembrar que Silvio Santos ganhou a concessão da TVS, canal 4 de São Paulo, que viria a se transformar no SBT, durante o governo do presidente João Figueiredo, o último do regime ditatorial militar. Dona Dulce, mulher de Figueiredo, era fã do Homem do Baú, que, cioso da concessão a ele outorgada, sustentou, por mais de 20 anos, um quadro chamado “A Semana do Presidente”. 

A seção era narrada pela voz oficial dos programas de Silvio Santos, o famoso locutor Lombardi, que começava o resumo sobre a semana do chefe da nação sempre se referindo a ele como “o nosso querido presidente”.

Assim como Silvio, Ratinho normalmente não faz oposição aos presidentes em vigência. Em seu programa pelo SBT, recebeu Michel Temer para falar da Reforma da Previdência, como recebeu Lula (inclusive como ex-presidente, para enaltecer seus feitos em ascensão social e educação), e agora defende Bolsonaro.

Além do eterno zelo pela concessão pública que lhe permite controlar uma TV aberta, Silvio Santos tem ainda outra particularidade, bastante conhecida: o empresário adora tomar atitudes sem consultar ninguém no SBT, e essa produção de vinhetas foi só mais um desses atos. Na emissora, é corrente entre seus súditos uma piada que diz: “Adoro trocar ideias com o Silvio. Eu chego com a minha e saio com a dele”.

Quem bem conhece o chefe aposta que, diante do discurso frequentemente hostil de Bolsonaro sobre a imprensa, Silvio logo quis se mostrar aliado.

O patrão interfere com frequência no jornalismo da casa. Recentemente, vetou a produção de séries de reportagens especiais, o que extinguiu qualquer possibilidade de edições com um tiquinho a mais de investimento, com sonorização e finalização mais caprichada. Os jornais da casa precisam se limitar aos assuntos do dia. Daí a exagerada quantidade de notícias policiais, como recurso para ocupar espaço, e alguma cobertura de Brasília.

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Cristina Padiglione

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