Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

‘É de bom tom?’: Keila Mellman é utilidade pública com humor

Ilana Kaplan é Keila Mellman, decoradora de lives e consultora de etiqueta digital /Reprodução

Faz apenas 15 dias que Keila Mellman deu o ar da graça nas redes sociais e sua fama já é realidade, assim como os “keilers”, como ela se refere aos seus seguidores, uma plateia que cresce em projeção geométrica há duas semanas.

A nova personagem de Ilana Kaplan, premiada atriz com longa bagagem na comédia, promete constranger o vasto time de gente sem noção que publica cenas de ostentação, em especial no Instagram, em plena pandemia. Enquanto as mortes se acumulam e a fome se alastra, celebridades ou influencers, assim autodenominados, publicam imagens de quem parece estar em outro planeta. Keila dá um toque: “Quer postar? Posta. É de bom tom? Não. Não é de bom tom”.

A frase já vai ganhando status de bordão e gera utilidade pública com humor.

O texto de Keila Mellman é assinado pela própria Ilana, em parceria com sua irmã, Ana Kaplan, como nos velhos e bons tempos da Terça Insana, espetáculo de comédia de São Paulo que botou muita gente talentosa em cena.

Keila, na verdade, nasceu de Sheila, personagem que Ilana levou a uma live do Jam Café, no ano passado. Sheila era decoradora de lives. “Mas fiquei com ela na cabeça e quando fui vendo o povo postando coisas absurdas com tanta tragédia em volta, pensei em agregar a etiqueta virtual e mudar o nome pra Keila”, contou a atriz ao TelePadi.

“Olá, eu sou Keila Mellman, sou decoradora e, como todo mundo na pandemia, tive que me reinventar. Eu, atualmente, sou decoradora de lives. Eu decoro as lives das pessoas de acordo com o assunto. Você precisando de mim, escreve pra mim, boba, que eu te ajudo. Agora também abri um braço profissional que é a etiqueta no mundo virtual. O que significa isso? Como que funciona?”, explica ela no primeiro dos quatro vídeos já publicados até agora.

“Você tá na dúvida do que vai postar. Se isso é de bom tom ou não é de bom tom? Escreve pra mim, boba, que eu te ajudo”.

O perfil de Ilana (@Ilana.Kaplan) no Instagram saltou de 6 mil fãs, até o fim de março, para 116 mil até o momento em que este texto e escrito, em 16 de abril.

Já no primeiro vídeo, Keila dá a letra do serviço: “Recentemente, uma pessoa me perguntou: ‘Keila, eu estou com oito amigos em um jatinho particular, estamos indo pra Noronha, todos devidamente testados, e eu gostaria de saber se eu posso postar nós juntos, com uma champanhota e escrito ‘Eu mereço e tal’. Tu quer postar? Posta. É de bom tom? Não”, responde ela, abrindo um sorriso, enquanto ajeita freneticamente a franjinha lisa a despencar sobre os olhos.

“Tá na dúvida?”, continua ela, ao amigo rumo a Noronha: “Quanto custa o combo? Os amigos, o jatinho, o spa e a champanhota? Quanto dá isso em cestas básicas? Tu quer postar? Posta. É de bom tom? Não, não é de bom tom”, repete. “Ainda tá um pouco na dúvida? Dá um Google. Quantos mortos hoje? 313 mil? Tu quer postar? Posta. É de bom tom? Não, não é de bom tom.”

Keila carrega sutilmente o sotaque gaúcho da atriz, como aponta o tratamento em segunda pessoa do singular para se referir aos seus seguidores.

Em outro vídeo, Keila informa a uma influencer que tem a mesa cheia de mimos recebidos de marcas diversas que não é de bom tom postar seus presentes enquanto tanta gente passa fome.

Pergunto se teremos uma produção periódica de Keila Mellman, mas a iniciativa brotou tão sem pretensões, que ela não tem uma programação traçada para a publicação de novos vídeos.

“Por enquanto é só isso: olhar e botar una luz com o humor que dá nessa discrepância social brasileira”, fala.

Em longa entrevista ao Universa, do UOL, Ilana diz ainda que não tem o propósito de colocar o dedo na cara de ninguém, o que é importante que se acrescente aqui.

“A personagem provoca uma reflexão sobre o que postamos diante do cenário em que vivemos no Brasil. Não é uma regra, imposição ou cancelamento, é claro, pois não gosto disso. O bordão existe como uma ironia, mas longe de ser um dedo na cara”, disse ela.

Mas nós, os keilers, bem que estamos gostando dessa brincadeira e achamos que é de bom tom aguardar por novas consultas a Keila Mellman.

 

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Cristina Padiglione

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