Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Em sua 1ª entrevista à Globo, Boris Casoy fala sobre apoio ao golpe de 1964

Boris Casoy no escritório de sua casa, de onde faz seu noticiário diário pelo YouTube. Foto: João Miguel Jr./Divulgação

Em sua primeira entrevista à Globo em 80 anos de vida e 65 anos dedicados ao jornalismo, Boris Casoy falou a Pedro Bial sobre o apoio ao golpe de 1964, explicou por que perguntou a Fernando Henrique Cardoso se ele acreditava em Deus, na véspera da eleição que sagrou Jânio Quadros prefeito de São Paulo em 1985, e lembrou a falta que a vacina contra a poliomelite fez a ele e a sua irmã gêmea até os 9 anos.

As revelações têm vários pontos convergentes com a entrevista dada a Marcelo Tas em abril passado para o #Provoca, da TV Cultura. Mas, com mais de 30 anos de atraso, alguém na tela da Globo enfim reconhece o êxito dos bordões criados por Boris no TJ Brasil, do SBT, “É uma vergonha” e “É preciso passar o Brasil a limpo”. Antes tarde do que nunca.

Naquela época, a Globo ainda insistia na presença de locutores à frente de seus telejornais, todos guiados por um teleprompoter roteirizado por outros profissionais.

A figura do âncora de telejornal no Brasil, com conhecimento sobre o conteúdo noticiado, e portanto com autoridade para comentar os assuntos, ganhou fôlego a partir do desempenho de Boris, uma aposta acertada do SBT, que a Globo da época fingia desprezar.

“As vergonhas são as mesmas”, disse ele a Bial. “Elas só mudam as vestimentas, mas se você olhar lá pra trás, elas são muito parecidas, elas se modernizaram, elas passaram a usar instrumentos novos. Eu não uso vergonha pra questão moral, vergonha, pra mim, parte de uma questão política, parte de uma indignação”, afirmou Boris, como já falou em outras ocasiões.

Provocado por Bial, disse que a Lavajato, na sua opinião, foi o momento em que o “Brasil passou mais perto de ser passado a limpo”.

O apresentador também estendeu o tapete para que o convidado justificasse seu apoio ao golpe (“a gente chamava de revolução”, reconhece Boris) de 1964. Filho de pais imigrantes russos que fugiram do stalinismo, Boris teria sido motivado, sugeriu Bial, a se opor a uma possibilidade de comunismo.

O entrevistado reconheceu que sua mãe via nas manifestações da época uma similaridade com o que havia vivido na Rússia. Mas assume sua parte na iniciativa de apoiar os militares na ocasião e admite que ele próprio tinha “pavor do comunismo” –ou ainda tem, segundo sua definição sobre o regime.

“Essa [origem dos pais] era uma influência sentimental, mas o que me levou a apoiar 64? Eu tinha 23 anos, estava começando a faculdade. Era uma profunda convicção democrátiva. Eu tinha pânico do comunismo. Já tinha acontecido em Cuba, tinha muita gente que queria aquilo, certamente iludida, certamente imaginando que era igualdade, fraternidade… O comunismo é uma tremenda ilusão. Então, eu tinha pânico daquilo. O que era [o golpe de 64], na minha cabeça? Era uma limpeza contra a corrupção e a favor da democracia.”

“Essas duas coisas foram sendo devagarzinho abandonadas”, continuou. “Havia uma promessa de realização de eleições, apareceram os candidatos, e as coisas foram se complicando. Aí, a gente ficou sabendo da tortura. Então, você passa a não concordar com uma série de fatores que foram levados a efeito por esse golpe. E ficou mais de 20 anos, não era isso que a gente imaginava.”

Apesar desses resultado, a Tas, Boris disse que não se arrependia de ter apoiado o golpe. Também como contou a Tas no #Provoca, Boris, que é conhecidamente um ótimo imitador, lembrou que imitava Paulo Maluf com tanta perfeição, que obtinha informações sigilosas na época do regime militar, fazendo-se passar pelo político, ao telefone. Não era ético, reconhece, mas a falta de transparência da ditadura justificava os meios.

E assim como Tas, Bial tentou saber de Boris por que ele nunca se casou.

“Eu nunca tive uma namorada fixa por quem eu imaginasse ter uma paixão que me levasse a morar junto. Eu tenho medo de me infelicitar e de infelicitar alguém, às vezes eu me arrependo, mas a vida me conduziu por esse caminho”, disse ele a Bial.

Em sua entrevista, Tas foi além: “a sua solterice é opção, convicção ou falta de sorte?”, perguntou.  “Não, é acidente”, riu Boris. “Eu nunca me apaixonei”. “Por quê?”, quis saber Tas. “Não, sei”. “Você nunca tentou investigar isso?” E Boris disse então que psicólogo, no seu tempo, “era vinculado à loucura”.

Ao encerrar a entrevista com Bial, Boris agradeceu à Globo e disse que conta com novas oportunidades de estar na emissora.

“Saiba você, Bial, que esta é a primeira entrevista na vida que eu dou pra Rede Globo, e o faço com muito prazer, especialmente devido à presença do meu interlocutor, de quem eu sou fã de carteirinha.”

Assista aqui a entrevista com Bial, e, abaixo, a conversa com Tas.

 

Curta nossa página no Facebook e siga-nos no Twitter

Cristina Padiglione

Cristina Padiglione