Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Empenhada em ampliar representatividade, Globo aprova série de autoras negras sobre periferia

A ex-vereadora Marielle Franco, assassinada em 2018, alvo de outra série em produção pela Globo/Reprodução

“Encantados”, série em 14 episódios, joga luzes sobre um cenário que raramente é protagonista de produções audiovisuais na Globo: criado por duas novas dramaturgas negras crescidas na periferia do Rio, o enredo se passa entre um mercado e uma escola de samba no subúrbio do próprio Rio, contexto compartilhado por dois irmãos também negros na história: ela, trabalhadora que luta para manter o mercado, enquanto o irmão consome sua atenção mais no expediente da escola de samba do que nos negócios.

A história tem um ponto de vista muito mal valorizado no audiovisual, em especial da televisão, historicamente ciosa de belos cenários e de uma branquitude de comercial de xampu. A iniciativa, ainda bem, casa com a preocupação atual de anunciantes em também inserir o negro e a periferia de modo mais positivo e frequente na propaganda de serviços e bens de consumo de toda espécie.

Por consequência, a série igualmente abre portas para a revelação de novos atores negros e para o bom aproveitamento de talentos já revelados pelo audiovisual, mas sem o devido espaço no momento.

Renata e Taís chegaram à Globo por meio de oficina de roteiristas e já integram o time do “Zorra”, programa que termina este ano.

O interesse da emissora em multiplicar talentos negros não só diante das câmeras, promovendo uma outra perspectiva na criação, foi fator essencial na aprovação da série, mas as duas, como quaisquer novos autores, terão acompanhamento de profissionais mais experientes, entregando a redação final a Chico Matoso e a supervisão a Antonio Prata, que já coordena a criação de um novo humorístico para as noites de sábado, em substituição ao Zorra, em 2021, e é colunista da Folha de S.Paulo.

Ainda no papel, “Encantados” está prevista para ir ao ar em setembro do ano que vem.

De 2019 para cá, a  Globo tem ampliado de modo acelerado a diversidade de cores, sotaques e enredos em suas produções, no entretenimento e no jornalismo, um planejamento que caminha paralelamente a movimentos antirracistas em franca ascensão em vários setores da sociedade, e também à individualização no consumo de telas.

O fato de as pessoas terem alcance cada vez mais fácil a telas próprias, por celular, tablets ou computadores, recurso favorecido ainda pelo streaming, vem forçando as emissoras a fazer com que cada espectador se sinta contemplado de modo mais individual e menos coletivo, como acontecia nos tempos em que todos se reuniam em volta de um mesmo aparelho. Isso vale para raças e gêneros, em especial, que sublinham profundas diferenças de pensamento, inclusive em uma mesma família.

A presença de duas criadoras em “Encantados” dá voz a negros e a mulheres ao mesmo tempo, dois segmentos que embora sejam maioria no país, ainda são muito mal contemplados em diversos cenários. Some a isso a periferia como primeiro plano, e não como pano de fundo, outro foco quase sempre camuflado nas telas de entretenimento, embora concentre a maioria da população.

Recentemente, a emissora anunciou ainda a produção de uma série ficcional sobre Marielle Franco, ex-vereadora do Rio, pelo PSOL, assassinada em março de 2018, que já é alvo de um documentário disponível no GloboPlay.

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Cristina Padiglione

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