Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Enquanto ‘Tarsilinha’ roda o mundo, criadores preparam novo longa de animação

Longa-metragem tem produção da Pinguin Content / Divulgação

Depois de ficar nove semanas em cartaz no circuito de cinemas brasileiro, com distribuição da H2O Filmes,  “Tarsilinha” entrou no catálogo da Amazon Prime Video e segue circulando com louvor por vários festivais internacionais. A animação de Celia Catunda e Kiko Mistrorigo foi exibida neste mês no Children’s International Film Festival, na Austrália. Em parceria com a agente de vendas MultiVisionnaire Pictures, de Los Angeles, “Tarsilinha” também participou do Marché du Film, no Festival de Cinema de Cannes do ano.

Diretores que assinam também os hits “Peixonauta” e “Show Luna”, originalmente criados como séries de TV, Kiko e Célia preparam agora, via Pinguim Content, um novo longa-metragem de animação: “Nihonjin”, baseado no livro de mesmo nome, conta a história de Noboru, um garoto que descobre a história da sua família, desde a chegada do seu avô que veio do Japão. A direção será de Celia Catunda, com produção executiva de Kiko Misrorigo e Ricardo Rozzino.

TOUR E ENREDO

Até aqui, a menina “Tarsilinha” já circulou pelos seguintes festivais mundo afora: ​2021 Shanghai International film Festival, 2021 Chilemonos, 2021 Kino Brazil (República Tcheca), 2021 Mostra Internacional de Cinema de SP, 2021 Mostra Internacional de Cinema Infantil de Florianópolis, 2021 Seoul International Cartoon and Animation Festival, 2021 C​hicago International Children’s Film Festival, ​2021 Cartoons on the Bay ​(Itália), ​2021 Festival Internacional de Cinema Infantil, 2022 Belmont World Film (EUA), ​2022 Children’s International Film Festival (Australia), 2022 Buenos Aires Festival Internacional de Cine Independiente.

O longa-metragem explora o universo visual da modernista Tarsila do Amaral (1886-1973), por meio da menina, que mergulha na experiência sensorial proporcionada por obras da artista para tratar de temas como memória,amadurecimento e coragem.

“O filme não tem uma narrativa apenas infantil. Há um segundo nível de leitura que você pode tratar e interpretar bastante sobre a assimilação de culturas diferentes para a criação de coisas novas ou sobre a memória”, explica Celia. Kiko sublinha o fato de Tarsilinha chegar ao público no mesmo ano em que é comemorado o centenário da Semana de Arte Moderna de 1922: “A coincidência de datas é uma grande oportunidade de mostrarmos a nossa grande artista para as novas gerações e como ela estava à frente do seu tempo”.

Tarsilinha fez sua estreia internacional no Festival de Xangai (China), foi escolhido o melhor longa-metragem de animação latino-americano no Festival Chilemonos (Chile) e selecionado para o Festival de Chicago (EUA).

Convém avisar ao espectador que não espere ver a vida da artista plástica retratada no longa. O filme é ponto de partida para a paisagem rural com a qual Tarsila do Amaral conviveu de fato, a fim de aqui apresentar a protagonista e sua mãe.

A experiência dos espectadores do filme tem como base a paleta de cores, o traçado e as nuances das obras. A aventura começa quando a menina tenta recuperar os bens mais preciosos de sua mãe, que são suas recordações mais marcantes. O desafio passa a ser superar os obstáculos para conseguir resgatar esse tesouro e voltar para casa.

Para alcançar esse objetivo, Tarsilinha se depara com vilões perigosos, e tanto esses como seus aliados ganham vida a partir de quadros da modernista. Da obra “A Cuca”, por exemplo, saem os vilões Lagarta e Tatu Pássaro. É também daquele cenário que surge o Sapo, fiel parceiro da protagonista.

A dublagem é outro ponto que merece atenção. A Lagarta é interpretada pela atriz Marisa Orth, enquanto o funcionário da estação de trem recebe a voz do apresentador MarceloTas.

“A locução é determinante para um personagem na animação. O nosso caminho até as escolhas foi muito intuitivo e criterioso ao mesmo tempo”, reconhece Kiko.

Obras de referência estampadas no filme:

  • “A Cuca”
    Saíram da paisagem dessa obra de 1928 alguns dos principais personagens do filme, a exemplo do Sapo, da Lagarta, do Tatu Pássaro e da própria Cuca. Pertence à fase Pau Brasil da artista e, atualmente, consta no acervo do Musée de Grenoble, na França.
  • “O Lago”
    Em Tarsilinha, simboliza o ponto de inflexão para a aventura da protagonista. A peça original, que faz parte da fase Antropofágica da artista, está no acervo de Hecilda e Sergio Fadel, no Rio de Janeiro. A obra veio a público pela primeira vez em 1928.
  • “Sol Poente”
    A paisagem da obra da coleção Geneviève e Jean Boghici, no Rio de Janeiro, compõe um dos cenários que Tarsilinha e seus companheiros precisam atravessar para alcançar o objetivo final antes do retorno à fazenda da mãe da personagem principal. A tela é de 1929.
  • “Abaporu”
    É considerada a peça mais valiosa das artes plásticas brasileiras. A sua elaboração data de 1928. Em Tarsilinha, a atmosfera do quadro serve de referência para o momento crucial na busca pelas memórias da mãe da protagonista. Está atualmente no Museo de Arte Latinoamericano de Buenos Aires (Malba).

A SEMANA DE 22

Marco da cultura brasileira no século XX, a Semana de Arte Moderna foi realizada em São Paulo, em fevereiro de 1922. O evento celebrava o centenário da Independência do Brasil e se propunha a debater a identidade nacional do país por meio das mais diversas expressões artísticas. Participaram do movimento nomes fundamentais para a literatura, como Oswald de Andrade e Mario de Andrade; para a música, como Heitor Villa-Lobos; e para as artes plásticas, como Anita Malfatti.

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Cristina Padiglione

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