Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Entenda por que Manzano, quase figurante em ‘Vale Tudo’, fez história com poucas falas

Marcos Manzano em ponta histórica, entre Glória Pires e Carlos Alberto Ricelli no final de 'Vale Tudo' / Reprodução

Morto nesta sexta-feira, aos 61 anos, em razão de uma bactéria e de complicações em consequência de uma cirurgia cardíaca, Marcos Manzano fez muita gente se lembrar do Clube das Mulheres, show que ganhou espaço na novela “De Corpo e Alma (1992), de Glória Perez, que infelizmente ficou marcada por outro episódio da vida real.

Cofundador do espetáculo de striptease masculino que mais deu cartaz à modalidade, Manzano, no entanto, já era conhecido do público desde 1989, quando foi ao ar o último capítulo de “Vale Tudo” (1989), do qual ele participou. Ele deu vida a um príncipe com quem Maria de Fátima, a pérfida Maria de Fátima Acioli, vivida por Glória Pires, se casava, sem precisar abandonar seu amante, César (Carlos AlbertoRicelli).

Michê, César formava com Maria de Fátima e o príncipe um trisal, não necessariamente com o conhecimento do monarca. A novela de Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères deixava no ar a ideia de que o Príncipe era gay e se encantava por César, que arranjava para ele um casamento de fachada com Maria de Fátima, conivente com a relação dos dois.

Após longo tempo afastado de Fátima, César ressurgia no último capítulo, procedente da Europa, onde se virou com alguma grana recebida em troca de seu silêncio. Ele então a apresenta ao príncipe, “de uma das famílias mais ricas de Milano”. “O Giovanne resolveu entrar para a política, para ser deputado nas próximas eleições pelo partido conservador. E daí, não se por que, correm certos boatos, sabe?”, explicava o michê à amiga, ex-parceira, com quem tinha um filho.”E ele tá precisando de uma mulher. Ele precisa de uma mulher pra casar, Fátima. Pra tapar a boca da oposição.”

Quando Fátima lhe conta que o filho deles vai completar dois anos no dia seguinte, César, insensível, lhe diz: “Não vai dar pra estar misturando estação. Ou sua mãe e aniversário de criança, ou principesa”.

No dia seguinte, cenas mostram os dois, César e Giovanni, alegremente brincando de afogar um ao outro na piscina do Copacabana Palace, onde ela é apresentada ao futuro marido, cujo casamento lhe renderia US$ 1 milhão por ano. “E eu vou morar com vocês”, promete César à amante. Fátima larga o filho com a mãe, Raquel (Regina Duarte), que jurava que a filha havia se regenerado (prenunciando que já se enganava com as pessoas).

O mordomo Eugênio, cinéfilo e sábio personagem de Sérgio Mamberti, dava a deixa: “Esse filme eu já vi. É ‘Teorema'”, diz ele, sobre a obra de Pier Paolo Pasolini.

A sequência com Manzano vem do tempo em que as telenovelas arriscavam mais. Atualmente, no receio de desagradar segmentos mais progressistas, as telenovelas só fazem trisais com pegada de humor, como se tudo fosse brincadeira. Aguinaldo Silva fez um trisal em “Duas Caras” e João Emanuel Carneiro adotou duas formações familiares fora do comum em “Avenida Brasil”, uma delas de poligamia, com Alexandre Borges, Débora Bloch, Camila Morgado e Carolina Ferraz, e outra com Isis Valverde, Thiago Martins e Daniel Rocha.

Mas as duas situações mais recentes eram bem diferentes de uma amante do amante do falso marido, algo moderníssimo para 88.

Embora tenha sido algo ligeiramente velado, entendedores entenderam a situação.

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