Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

ESPN cria o DataESPN, setor para valorizar estatísticas no repertório dos comentaristas

Esporte na tela movimenta público em todos os segmentos

Uma das mudanças centrais na transmissão de competições esportivas hoje em dia, além da fragmentação de direitos esportivos entre vários canais de plataformas, está na tecnologia que hoje mensura com precisão dados de toda espécie em tempo real, ao longo do programa ao vivo. O desafio é usar esse tipo de recurso sem cair na tentação de reduzir a essência que encanta o público no trabalho de narradores e comentaristas, ou seja, a própria emoção e genuidade de quem está à frente dos microfones. Afinal, que graça tem se tudo virar um festival de estatísticas?

Gols e assistências sempre foram os principais aspectos para analisar o impacto de um grande jogador em campo. “Mil gols de Pelé”, “91 gols de Messi” e o fenômeno que o atacante Haaland provoca em solo inglês são exemplos da importância dada aos números de uma estrela. Porém, em anos recentes a relevância de estatísticas como “passes chave”, “minutos por participação em gol”, “mapa de movimentação” e “gols esperados”, entre outras, vem tomando conta dos principais programas de debate e tem a ESPN como uma das emissoras que mais se aprofunda na análise baseada em números.

Com mais de 14 horas diárias de programação jornalística ao vivo, o canal tem como marca registrada a análise de estatísticas em todas as suas mesas, campos, quadros e pistas. A emissora criou até o DataESPN, primeiro departamento de um canal esportivo especializado na análise do desempenho de times de futebol e mapeamento de padrões táticos, e vem investindo cada vez mais no setor, multiplicando seis vezes o número de profissionais específicos e aumentando a produção em mais de 30% nos últimos anos.

“Muitas vezes eu entro em contato com o [pessoal do] Data e converso com eles durante os jogos, seja na cabine de transmissão do estádio ou na própria redação”, atesta Paulo Calçade. “Vejo um aspecto do jogo que me chamou atenção e peço pra darem uma olhada. Eles conseguem fazer um comparativo com jogos anteriores ou até mesmo fazer um levantamento específico e me passam durante a transmissão. Então, aquilo que eu enxergo do jogo, peço o apoio deles com dados e com isso tenho uma informação contextualizada para passar ao espectador em tempo real. Dessa forma, não é apenas a sensação do comentarista, é o olhar crítico aliado a informações e estatísticas”, argumenta.

A equipe do DataESPN é formada por jornalistas e analistas de desempenho que atuam com o sistema ESPN TruMedia, banco de dados exclusivo da ESPN no mundo que capta os dados e faz filtragens, checagens e apurações. A plataforma agrupa informações desde torneios no Brasil, América do Sul, Europa e ligas menores, como a chinesa e a australiana, e permite ao time de pesquisadores transformar o conjunto de estatístiscas em narrativas relevantes e até mesmo comparações históricas.

Liderado pelo jornalista Ricardo Spinelli, especialista em análise de estatístiscas da ESPN desde 2012, o DataESPN é um setor de apoio ao debate futebolístico pioneiro dentre as emissoras de esporte do Brasil e produz telas com análises aprofundadas e comparativas para as edições do SportsCenter, ESPN FC, ESPN F90, ESPN 360, Linha de Passe, Resenha da Rodada e para os programas pré e pós jogo dos grandes eventos do futebol sulamericano e europeu.

“Em eventos maiores, como por exemplo a final da Conmebol Libertadores, a gente produz um relatório de jogo (na final de Flamengo x Athletico-PR de 2022 foram 21 páginas de informações, curiosidades e análises)”, ele diz. “Em um dia com rodada de Brasileirão, produzimos em média 10 telas de conteúdo exclusivo pré e pós-jogo para cada uma das principais partidas da rodada.”

Comentarista da ESPN e especialista em análise tática, Renato Rodrigues ajudou a oficializar o início do ‘DataESPN’, ao lado de Ricardo Spinelli, após sua passagem como analista de desempenho do Corinthians. O departamento é inspirado na versão da ESPN americana SIG (Stats & Information Group), que há anos atua com estatísticas, com centenas de funcionários divididos por esporte. A ideia foi importada e adaptada de acordo com a cultura brasileira, com foco no futebol.

O DataESPN também já interfere na seleção dos premiados do Bola de Prata, o troféu mais tradicional do futebol brasileiro. Atualmente, o Algoritmo DataESPN é parte relevante das avaliações. A pontuação final é composta por 40% do Algoritmo DataESPN e 60% de notas de analistas. O algoritmo foi criado para auxiliar na análise do Bola de Prata provendo uma avaliação objetiva de dados estatísticos. São mais de 100 estatísticas que juntas geram uma pontuação fria, em que todos os jogadores, de todos os times, terão as mesmas condições de levar o troféu. A parte subjetiva, de quem está bem ou mal, vem das notas dos analistas, que podem sentir a realidade.

Como eu costumo dizer, de nada adianta a tecnlogia dos números se não houver quem saiba interpretá-los. A leitura cega de estatísticas nomalmente conspira contra o elemento primordial da TV, que é a emoção.

No caso do DataESPN, o canal tem mais motivos para celebrar o feito. A produção de conteúdo diária e multiplataforma do segmento garante ao caixa do canal quatro anunciantes diferentes com diversas entregas comerciais ao longo da semana nos programas jornalísticos da grade linear, além de patrocínios para peças criadas para as mídias digitais.

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Cristina Padiglione

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