Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

7 atos que ‘Baila Comigo’ não cometeria hoje: estreia no Viva bomba no Twitter

Tony Ramos em versão Ruth-Raquel, ou melhor, Quinzinho e João Vitor

A estreia de “Baila Comigo” no canal Viva, nesta segunda-feira, foi parar nos Trending Topics do Twitter, o que é uma delícia de experiência. Quem diria, lá em 1981, que 37 anos depois estaríamos comentando esse enredo de Manoel Carlos com várias pessoas que não estão na mesma sala que nós, com chance de espalhar nossas observações e opiniões a respeito da primeira Helena, dos gêmeos Quinzinho e João Vitor e grande elenco.

Mais que isso, a novela nos remete a um universo que, de tão diferente do atual, é capaz de nos fazer lembrar como era o mundo ha apenas 37 anos.

O que não teria mudado se a novela de Manoel Carlos fosse exibida hoje? O encanto que Tony Ramos  causa na audiência. Intérprete de gêmeos que mostram humores opostos, o ator prenuncia, já no primeiro capítulo, que o enredo dos 166 capítulos a seguir é só dele.

E o que provavelmente não valeria para hoje?

Muita coisa. Vamos listar algumas, a seguir, lembrando que em 1981, quando a trama foi ao ar, controle remoto era artigo de luxo. As pessoas mal se levantavam do sofá para trocar de canal; internet era ficção científica e as telas em domicílio se resumiam a seis ou sete canais de TV – isso nos grandes centros urbanos, que fique entendido.

Vamos aos pontos fora da curva, e que portanto valem a pena serem visitados:

  1. Quinzinho, o gêmeo bacana, não sairia hoje para andar de moto sem um mísero capacete na cabeça. Seria mau exemplo da TV. Sofreria lá o acidente que sofreu, mas devidamente equipado para pilotar sua moto.
  2. Betty Faria não ganharia dois videoclipes inteiros no meio de um primeiro capítulo, momento em que o autor precisa apresentar os principais personagens de sua história. Em uma primeira sequência, ela aparece se exibindo entre os passos de uma sensual coreografia de balé. Pouco depois, é vista pelo olhar de cobiça do belo Lauro Corona, à beira da praia, correndo, enquanto a música de Guilherme Arantes (“Deixa Chover”) toca inteirinha. Quando é que a gente poderia se dar a tal luxo, hoje, sem que o espectador trocasse de canal ou de tela?
    3. Lilian Lemmertz, a heroína, não surgiria em cena tão “in natura”, aparentemente sem make up e com silhueta tão mais próxima de gente como a gente. Já repararam como a imagem das mães foi se “gurmetizando” nas novelas, a ponto de elas parecerem mais modelos do que mães? A primeira Helena de Manoel Carlos é, certamente, a menos glamourosa de toda a galeria de Helenas, mas a mais comovente de todas.
    4. Os diálogos são densos, com bom texto e valorização à altura na boca dos atores. De novo, vale atenção especial a Lilian Lemmertz, que empresta à ficção um aspecto absolutamente crível, como se a gente conhecesse aquela mulher. Pensando bem, ela poderia ser a sua vizinha e isso, por mais simples que pareça, é algo bastante difícil de se alcançar numa novela.
    5. Mas… Tereza Rachel vociferando a João Vitor: “Você não é o nosso filho!”, no fim do capítulo, soa hoje quase como interpretação mexicana. Ainda que aquele tom antipático seja parte da personagem, o desabafo repentino soa forçado, como se aquilo fosse uma cena dublada.
    6. Tudo acontece em um tempo mais real, menos clipado e acelerado, dando ao espectador a chance de respirar e curtir cada cena com mais intensidade – exceto quando isso patina para um videoclipe, como aconteceu com a Betty, por duas vezes em um só capítulo.
    7. O próprio argumento central da história estaria ameaçado, hoje, pela existência de redes sociais e Google, espaços em que seria bem possível que um irmão gêmeo acabasse por encontrar o outro antes de dez capítulos.Deu vontade de ver o segundo capítulo. Logo mais, à 01h15, tem repeteco do capítulo do dia.

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Cristina Padiglione

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