Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Estreia: ‘Borges’ preza pela narrativa televisiva, com DNA do Porta dos Fundos

Antonio Tabet, Karina Hamil, Thati Lopes e Rafael Portugal na sede da importadora falida que dá nome à série

Menos de um ano após ter vendido 51% de sua marca ao grupo internacional Viacom, o coletivo brasileiro de humor Porta dos Fundos estreia sua primeira série em um canal do grupo, o Comedy Central.

“Borges”, em 13 episódios, começa nesta terça, dia 13, às 21h30, com exibição de dois primeiros episódios em sequência – uma sábia decisão, visto que o segundo episódio é onde a história realmente começa a seduzir a audiência. Diretor da série, Ian SBF reconhece que o primeiro capítulo sempre é mais complexo, um momento de apresentar o ambiente e as personagens da história a ser contada.

O ponto de partida é uma empresa de importação que, falida, foi repassada aos seus funcionários por seu dono, Borges (Luís Lobianco), que desapareceu. Saberemos dele por ligações telefônicas, parece que corre perigo, e isso se desdobrará em um spin-off simultâneo que rendeu uma websérie de capítulos curtinhos, de até três minutos – cada um só será liberado na plataforma de streaming do Comedy Central após a exibição de cada episódio da série matriz pela TV.

Com Antonio Tabet, Rafael Portugal, Karina Ramil, Thati Lopez e o próprio Lobianco, o enredo brinca com um recurso fácil, mas sempre muito eficiente para comédia: as situações criadas a partir de mal entendidos. Foi disso que “A Grande Família” sobreviveu por 14 anos e o “Sai de Baixo”, mais de cinco. Assim vem acontecendo na TV, desde “I Love Lucy” e “Família Trapo” até “Seinfeld” e “Friends”.

Ian não está preocupado com isso. Se a receita funciona e ele mesmo mal teve chance de praticá-la até hoje, por que não aproveitar a brincadeira? O próprio time do Porta vive isso com certo frescor, habituado que está a nos fazer rir por meio de vídeos curtos no YouTube. Assim, temos uma narrativa tipicamente televisiva, com DNA do coletivo que subverteu o humor em todas as telas.

Rosana (Thati Lopes) entrará no carro de um aparente charlatão religioso pensando ter entrado num Uber. E mais nem é bom contar, que vira spoiler desnecessário.

Em conversa com o TelePadi na sede da Viacom, em São Paulo, Ian e Tabet mostram boa dose de expectativa para uma segunda e terceira temporadas, o que não aconteceu com “O Grande Gonazalez”, primeira série do Porta para a TV, pela FOX, quando Ian, que também dirigiu aquele título, declarou de cara que talvez o “Gonzalez” não vingasse para além de uma temporada. De fato, foi o que aconteceu.

“Como essa foi a nossa segunda iniciativa, nossa segunda série para a TV, a gente não repetiu os erros estruturais de produção que a gente cometeu na primeira”, diz Tabet. “Borges certamente é muito melhor que aquela, e aquela já foi boa, mas essa tem muito mais potencial que aquela, inclusive para ter mais temporadas. E quando terminou ‘Gonzalez’, o Ian falou: ‘não tem uma segunda temporada’. Essa ele já terminou pensando numa segunda ou terceira”, conclui.

O diretor completa: “Eu amei fazer, por mais que eu ame a outra, tive aqui coisas que eu não tive na outra. Essa série já pude fazer aproveitando 100% das coisas, e onde eu não sabia como era eu estava aprendendo.”

Um aspecto interessante do roteiro é que meninas e meninos não são tratados com distinção de tarefas. Mesmo quando Erasmo, personagem de Tabet, pensa em dar uma de chefe, as meninas o colocam no seu devido lugar, sem recorrer ao pastelão, só na base do texto, o que enriquece o enredo. Elas pegam no pesado, carregam mercadorias suspeitas, enquanto Pablo, o mais divertido dos personagens, por Rafael Portugal, faz brigadeiros para o suposto charlatão religioso que ameaçou processar o grupo.

No fim das contas, as tentativas de emplacar vendas de mercadorias encalhadas rendem bem menos do que os vídeos amadores involuntariamente protagonizados por Pablo e filmados pelas garotas. Entre mortos e feridos, é como se boa parte do lixo produzido pelo YouTube, esfera que fez a fama do grupo, gerasse mais rentabilidade do que negócios aparentemente sérios.

“Borges” é feita de apenas seis integrantes do Porta e não é que metade do grupo tenha sido desprezado. Tudo é uma questão de agendas. “É muito difícil conciliar as agendas de todo mundo do Porta hoje e isso acaba gerando vários problemas, é muito complicado. Tudo o que a gente está fazendo hoje em dia tem que ser feito com núcleos menores, senão não conseguimos levar adiante”, explica Ian SBF.

 

Curta nossa página no Facebook e siga-nos no Twitter

Cristina Padiglione

Cristina Padiglione