Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Ex-chefão de direitos esportivos da Globo opera agora pela CBF e contraria interesses da emissora

Seleção brasileira ganha novos modelos de negócios

Homem que costumava mandar até no comportamento dos jogadores da Seleção Brasileira fora de campo, Marcelo Campos Pinto, responsável por anos a fio pelos direitos de transmissão esportiva na Globo, sempre teve forte influência na Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Agora, ironia do destino, é ele, em nome da CBF,  quem encabeça a promoção de um novo modelo de negócios nessa área, modelo este que sempre ajudou a combater quando ostentava o crachá da Globo.

Os dias já não são mais assim na longa e feliz parceria da emissora com a CBF, o que se evidenciou com a confirmação de que a Globo, pela primeira vez em anos, não transmitirá jogos amistosos da seleção – as partidas contra a Austrália e a Argentina, nos dias 9 e 13 de junho, estarão apenas na tela da TV Brasil, onde a CBF comprou horário, e no Facebook, com transmissão direta, conforme plano comercial já oferecido ao mercado.

Pela nova concepção de negócios, a CBF pretende passar a operar os direitos de transmissão de partidas da seleção brasileira, sendo responsável por toda a captação dos jogos, inclusive com locutor de sua escolha. Os jogos de junho, por exemplo, ficarão a cargo da narração de Nivaldo Prieto, nome do cast da Fox Sports. O comprador dos jogos terá, quando muito, o direito de posicionar uma ou duas câmeras exclusivas no estádio. É o modelo que vigora nos campeonatos europeus, tão invejados entre nós pelas cifras e organização, pelo COI, o Comitê Olímpico Internacional, e pela Fifa, por exemplo.

O Grupo Globo até tentou adquirir os dois jogos pelas novas regras do negócio, mas não chegou a um acordo. Circula pelo mercado que a CBF teria pedido US $ 3 milhões pelas duas partidas, valor inviável de ser coberto apenas com anúncios. Normalmente, a Globo negocia as cotas do futebol em um pacote que inclui vários campeonatos, diluindo esse custo em uma série de eventos.

Procurada pelo TelePadi, a Globo se pronunciou por meio de nota enviada por sua assessoria de Comunicação: “A CBF tinha planos de negociar os direitos dos Amistosos e das Eliminatórias da Copa 2022 na forma de bid (leilão fechado). Recentemente decidiu vender os dois jogos amistosos de junho de forma avulsa e, embora não acreditemos que esta seja a melhor solução para todas as partes, tentamos negociar mas não chegamos num acordo. O Grupo Globo defende um mercado de concorrência e acredita que tem a melhor solução de visibilidade e envolvimento para os eventos da nossa seleção, tanto pela audiência quanto pela qualidade de transmissão e modelo econômico, mas respeitamos se a CBF pensa diferente.”

Se a Globo, que tem os custos mais caros de anúncios, não conseguiu entrar em acordo que lhe parecesse vantajoso, o caminho não poderia ser outro com as demais emissoras, a quem o menu também foi oferecido pela CBF. Sendo assim, a confederação comprou horário a um custo baixo, na TV Brasil, mas, devido às restrições com publicidade impostas pela TV pública federal, não poderá inserir anúncios nem captar patrocínio para uma transmissão que é sempre altamente atraente para o mercado (ainda mais no caso de Brasil X Argentina, um clássico de rivalidade).

Anunciantes interessados nesse cardápio já se enfileiram diante do Facebook, onde uma exibição ao vivo das partidas está aberta à comercialização de publicidade. Abaixo, alguns detalhes sobre o plano oferecido ao mercado.

Na semana passada, a Globo dispensou seu diretor de esportes, Renato Ribeiro, mas informa que o episódio nada tem a ver com o insucesso de um acordo com a CBF. Qual a relação entre a saída de Ribeiro e essa ausência excepcional da Globo na transmissão de amistosos da seleção?, questionou o blog: “Nenhuma relação. A função do Renato está associada aos conteúdos esportivos da Globo, do Sportv e do globoesporte.com, sem nenhuma relação com as negociações de direitos. A saída dele da Globo faz parte da evolução da reestruturação do Esporte da Globo, que vem ocorrendo desde outubro do ano passado, quando foi anunciada a criação da nova unidade de Esporte, sob o comando de Roberto Marinho Neto. Foi um movimento natural, consensual e planejado. Renato Ribeiro ajudou no processo de redesenho da área e deu uma importante contribuição para a sua consolidação, tendo estado à frente da cobertura de eventos importantes como a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016. Na Globo há 31 anos, Renato encerra seu ciclo de sucesso na empresa no final de junho.”

Mas, ao informar que a função de Renato será interinamente exercida por Roberto Marinho Neto, filho do presidente do Grupo Globo, Roberto Irineu Marinho, cabe perguntar: se não havia ninguém já escalado para o cargo de Ribeiro, a ponto de ocupar sua vaga com um interino, a saída dele não se mostra tão planejada assim. Certo é que  o nome de Ribeiro já sofria algum desgaste havia pelo menos dois anos.

A emissora, que tem os direitos de transmissão das Copas do Mundo de 2018 e 2022, ainda tem esperanças de recuperar essa bola com a mesma solidez de antes. “O futebol sempre foi um conteúdo importante para o brasileiro e, por isso, é estratégico para a Globo e o SporTV. Acreditamos que com compromissos de longo prazo conseguimos oferecer a melhor e mais completa experiência para o torcedor brasileiro, para as equipes, para os anunciantes e suas marcas. Foi pensando assim que adquirimos os direitos da Copa do Mundo até 2022 e que temos vários eventos e parcerias de longo prazo. Nós mantemos o nosso compromisso com o futebol e o nosso interesse em continuar trabalhando com a CBF na construção de acordos que sejam bons para todos.”

A ver. Marcelo Pinto foi dispensado pela Globo em 2015. É impressionante notar como um sistema pode sofrer alterações que se pretendem tão profundas em questão de meses, reformando um modelo que vigora há décadas. O fato é: a Globo já não tem sobre a CBF a mesma ingerência de antes.

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Cristina Padiglione

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