Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Expert em grego, autora de ‘Amor de Mãe’ bebe na fonte dos clássicos

Manuela Dias, autora de "Amor de Mãe". Crédito: Estevam Avellar/Divulgação

Manuela Dias, 42 anos, a autora que estreia nesta segunda-feira (25) como titular de novela da Globo, começando já pelo horário nobre, é uma apaixonada por grego. Estuda o idioma e seu teatro desde os 18 e tem uma filha chamada Helena, não por causa do Manoel Carlos (é sempre bom explicar), célebre autor de novelas que batiza suas protagonistas com este nome, mas em razão da mitologia grega.

A tragédia grega é a origem de tudo o que se possa compreender como dramaturgia, e sorte de quem conhece bem seus preceitos para aplicá-los no dia a dia de qualquer tempo, em qualquer espaço, diretamente da fonte, o que Manuela promete fazer no folhetim que passa a ocupar as noites da Globo.

Em conversa com o TelePadi, no Rio, Manuela cita como exemplo uma cena que remete à morte de Laio por Édipo. “Édipo matou Laio numa briga de trânsito, no fundo é isso, e vamos ter uma briga de trânsito na novela”, fala, mantendo suspense sobre o episódio.

A frase que serviu de mote para as primeiras chamadas da novela, “Tudo na vida é incerto, menos o amor de mãe”, vem de James Joyce.

Toda novela traz elementos e personagens clássicos do teatro e da literatura, boa parte deles plantados na mitologia grega, mas as há os autores cujas referências já são as mil adaptações feitas em cima de Shakespeare, Molière, Pirandello e afins. No caso de Manuela, a fonte é original e a dedicação ao grego é tão exemplar que ela não se contentou com traduções: foi de fato aprender o idioma na raiz, desde o arcaico.

Pergunto se ela não fica tensa com a pressão de escrever a história mais consumida do país, e por menor que seja uma audiência de novela das nove na Globo, é certo que nenhuma plateia supere o público sintonizado na Globo durante o horário. “Já sou muito pilhada, não sou exatamente uma pessoa tranquila. Acho que as pessoas mais tranquilas dos nossos ancestrais foram sendo eliminadas e foram ficando, na seleção natural, os mais preocupados, os que saíam pra caçar e buscar comida, e a gente é fruto disso”, diz, achando graça da inevitável tensão pela missão assumida.

Quando Silvio de Abreu, diretor do núcleo de teledramaturgia da Globo, lhe disse que sua história fora aprovada para a vaga da novela das nove, Manuela tomou um susto: “Mas das nove, Silvio?”. Agora que o trem está no trilho, ela segue adiante, sem no entanto parar para ver o que vão comentar ou deixar de falar nas redes sociais porque, antes de mais nada, isso toma muito tempo. Em segundo, tomar uma parte de comentários pelo todo, para o bem ou para o mal, é um risco enorme quando se fala com muita gente, e gente de todas as tribos, idades e saldos bancários.

Manuela fez duas novelas com Duca Rachid e Thelma Guedes: a ótima “Cordel Encantado”, um folhetim fora da curva que teve boa receptividade de público e crítica, e “Joia Rara”, igualmente competente. Mas, naquela ocasião, assinava como colaboradora.

O primeiro trabalho solo foi a adaptação de “Ligações Perigosas”, livro que deu origem a filme de sucesso, para série de dez capítulos vista com Selton Mello em cena e Vinicius Coimbra na direção. Depois veio “Justiça”, outra série, um grande trabalho que cruzava os caminhos de vários personagens, cada um protagonista de sua história, em um formato inédito, já com direção de José Luiz Villamarim, que agora assina a direção artística de “Amor de Mãe”.

Villamarim não deu uma bola fora desde que seu nome passou a figurar no topo dos créditos, ao contrário, só acumula acertos. Foi diretor-geral em “Avenida Brasil”, ao lado de Amora Mautner, fez “O Canto da Sereia”, “Amores Roubados” e “Onde Nascem os Fortes”, com George Moura e Sérgio Goldenberg (no caso do título mais recente). Foi diretor no time de Luiz Fernando Carvalho, ex-diretor da Globo, conhecido pela capacidade de levar introspecção e reflexão ao set, sem se deixar sucumbir pelo ritmo industrial exigido pela TV, e ele próprio Villamarim, pratica muito bem essa difícil equação, que se torna ainda mais árdua no expediente da telenovela.

Ou seja, temos grandes expectativas com “Amor de Mãe”, mas é sempre bom lembrar que a Globo não tem dado muito espaço a experimentações no seu principal produto, o que nos faz trabalhar com alguma ressalva.

Como estreante na função, Manuela conta com a supervisão de Ricardo Linhares, um craque na arte de escrever para a TV e profundo conhecedor técnico do que pode encantar ou espantar o telespectador de gosto médio.

Que venha o amor materno.

 

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Cristina Padiglione

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