Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

‘Falas da Terra’ reúne equipe majoritariamente feminina na Globo

Preservação do meio ambiente, violência contra a mulher e ancestralidade são alguns dos pontos abordados no novo especial Falas da Terra com o episódio “Pintadas”, que vai ao ar no dia 17 de abril, após o BBB 23, na TV Globo. Faz pelo menos quatro décadas que Baby do Brasil, quando ainda era Consuelo, já cantava que “Todo Dia Era dia de Índio, mas agora eles só têm o dia 19 de abril”.

Pois de dois anos para cá, a Globo ao menos sublinha a efeméride com produções úteis à causa indígena, como tem feito no Dia Internacional da Mulher, na semana do orgulho LGBTQIA+ e no Dia da Consciência Negra, além de outras datas marcadas por bandeiras sociais.

“Pintadas” vai ao ar na semana do que agora é chamado como “Dia dos Povos Indígenas“. A trama integra a antologia “Histórias Impossíveis”, como a emissora batizou, neste ano, essas edições em nome das datas que chamam o olhar do telespectador para segmentos mais oprimidos e seus desafios.

O enredo da vez é protagonizado por três jovens indígenas e traz etnias similares também na equipe de criação e de produção por trás das câmeras.

Em cena, Luara (Ellie Makuxi), Josy (Dandara Queiroz) e Michele (Isabela Santana) se encontram no Mato Grosso do Sul para gravação de um videoclipe de rap na floresta e, quando se veem diante de uma natureza destruída, são impactadas por uma série de acontecimentos fantásticos que as levarão a um mergulho na ancestralidade de seus povos.

“É um projeto em que trabalho com um grupo maior na direção para darmos conta tanto de uma construção conceitual baseada na diversidade, nas diferentes vivências e pontos de vista, quanto da logística de realização de cada episódio”, diz Luísa Lima, diretora artísitca da antologia “Histórias Impossíveis”.

“Gravamos todos no Rio de Janeiro e ‘Pintadas’ exigiu um trabalho minucioso de preparação, desde a pesquisa e ensaios de um elenco indígena inédito no audiovisual, quanto a busca de locações que formassem as muitas situações de natureza presentes na história”, continua.

Luisa Lima (diretora artística) Thereza de Medicis (diretora) e Graciela Guarani (diretora). Foto: Manoella Mello/Divulgação TV Globo

Segundo Luísa, um storyboard do episódio foi feito e, a partir dele, entraram em cena os recursos de computação gráfica que deram vida a “um personagem muito significativo na história, entre outras paisagens, como um rio seco e a presença da monocultura em meio à floresta densa”.

Convidada a dirigir o episódio, ao lado de Graciela Guarani, Thereza de Medicis parte de elementos fantásticos para “explorar temas femininos, criando uma narrativa simbólica e poética que pode alcançar um público mais amplo, desafiando estereótipos e preconceitos culturais e sociais, questionando e subvertendo as expectativas do público em relação a personagens e situações”, assinala Thereza de Medicis.

“Este episódio traz um ponto, ainda que sutil em sua abordagem, mas muito pertinente em se discutir. Falar de violências contra a mulher já é algo que a sociedade vem discutindo exaustivamente e com razão, mas esta discussão foge ou se cala quando os corpos que sofrem estas violências não são corpos brancos. O corpo da mulher indígena vem sendo violado historicamente, por uma herança colonial”, reflete Graciela que, assim como as atrizes, também é indígena e contribuiu ainda com a cultura e identidade do povo Guarani-Kaiowá (MS) para a composição da narrativa.

“Nossas três protagonistas têm praticamente a mesma idade, se uniram em torno de um propósito comum e, no entanto, veem a vida sob uma perspectiva própria. Elas refletem sobre as violências do mundo e sobre as suas próprias dores. Aqui, o fantástico não é vetor do medo, mas de cura”, pontua a roteirista Thais Fujinaga, que colaborou ativamente no episódio.

A antologia “Histórias Impossíveis”, apresentada nos especiais “Falas” deste ano, foi criada e escrita por Renata Martins, Grace Passô e Jaqueline Souza, escrita com Thais FujinagaHela Santana, Graciela Guarani e Renata Tupinambá, um time exclusivamente feminino, reforçado pelas diretoras Luísa Lima, Thereza Médicis, Everlane Moraes e Graciela Guarani. Sim, há um diretor na equipe, Fábio Rodrigo, além da presença de José Luiz Villamarim no comando da área de dramaturgia da Globo.

A produção é de Leilanie Silva. Alinhado à jornada ESG da Globo, o projeto tem direção executiva de produção de Simone Lamosa.

“A gente existe e resiste. Eu me sinto muito feliz por poder ser referência para outras meninas e representar o meu povo, que os meus traços também estejam presentes na televisão e várias garotinhas possam me assistir”, diz Ellie Makuxi, uma das atrizes do especial.

Para Dandara Queiroz, é “muito importante levar essa pauta. Além da curiosidade que vai te prender para ver, são novas perspectivas, linguagem, que têm a ver com a inovação”.

Isabela Santana completa: “A gente tem mais de 300 povos no Brasil, mais de 250 línguas, e cada indivíduo dentro do povo possui uma história e uma personalidade diferente. Tudo isso compõe essa etnogênese da identidade. É uma oportunidade de mostrar que somos humanos: temos sonhos, amamos, choramos, dançamos, criamos, rimos”.

Como diz o meu estimado Walter Casagrande Jr., fiel defensor dos povos indígenas e suas questões de sobrevivência entre rios e florestas que secam, “Ererré”!

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Cristina Padiglione

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