Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Falta de negros em novela baiana vira notícia no inglês ‘The Guardian’

Deborah Secco, Emílio Dantas e Giovanna Antonelli: predominância branca na miscigenada Bahia

Enquanto estamos aqui a falar do casamento real, com a presença de um belíssimo coral com mais negros que uma novela feita Bahia, os ingleses estão comentando justamente a ausência de afrodescendentes em “Segundo Sol”, novo folhetim das nove da Globo.

Texto publicado nesta sexta, 19 de maio, no mais respeitado jornal britânico, o “The Guardian”, repercute a discussão sobre a falta de representatividade negra, incluindo descendentes, em uma história que se passa na Bahia, estado onde mais de 76% da população se declara negra ou parda.

A reportagem menciona que apesar de a Bahia ser o Estado brasileiro com maior número de afrodescendentes, quase todo o elenco é branco. Apenas 3, entre 27 atores, são negros.

Cita ainda que no último sábado, 13 de maio, o Brasil celebrou os 130 anos da Lei Áurea, fato muito mal lembrado por aqui, aliás, pondo fim à escravidão no país que trouxe o maior número de escravos da África.

E relata a notificação que o Ministério Público do Trabalho encaminhou à Globo, pedindo que as escolhas do elenco pudessem contemplar essa representatividade, sob o risco de reforçar a exclusão e os estereótipos que já sacrificam a população de negros e miscigenados.

O “Guardian” ouviu ainda o cineasta Joel Zito Araújo, autor do livro “A Negação do Brasil: O Negro na Telenovela Brasileira) (Ed. Senac). “O que persiste muito fortemente na mente de produtores e diretores é a ideia de que a população de negros e afrodescendentes é minoria: a ideologia branca continua”, diz.

Como aqui já foi dito, não é uma novidade que novela na Bahia tenha predominância branca, daí o espanto que toda a discussão gerada a partir de “Segundo Sol” causou nos altos escalões da Globo, levando a emissora a reconhecer que tem de evoluir nos esforços feitos pela busca de representatividade.

O problema sempre existiu, mas nunca ganhou espaço para críticas e cobranças como acontece agora. Embora a questão não seja culpa das redes sociais, é certo dizer que a repercussão alcançada tenha se dado em função desse espaço.

Muita gente endossa. Muita gente (só branca) acha que é “mimimi”. A esses, uma resposta bem humorada tem circulado também nas redes sociais, de Facebook a Twitter e Whatsapp, mostrando um suposto enredo sobre a Oktoberfest, em Santa Catarina, só com negros em cena. Além de estampar um racismo velado e mal resolvido, há o retrato da má representatividade em si. A presença de tantos brancos na Bahia da Globo deveria causar o mesmo espanto provocado por esse filminho, com predominância negra em ambiente reconhecidamente liderado por loiros.

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