Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Fim do Domingão fará bem a Faustão e à Globo

Com perdão pela redundância, sair da zona de conforto não é confortável, mas muitas vezes se mostra necessário para seguir adiante. Consumado o primeiro domingo em 32 anos sem Faustão, dessa vez não ausente só por emergência e agora sem bailarinas do Faustão, sem logotipo do Faustão e sem trilha sonora vinculadas ao Faustão, é possível perceber que o fim de uma era fará bem à Globo e ao apresentador, um dos maiores comunicadores do país.

Já era tempo de a Globo experimentar outra comunicação no horário e de o apresentador exibir talentos que as tardes de domingo inibiam, dada a necessidade de pasteurizar um discurso dirigido a milhões de pessoas de perfis tão distintos.

A mudança poderia ter sido mais bem operada? Com toda a certeza. Seria mais interessante que Faustão tivesse cumprido o seu ciclo na Globo, com chance para se despedir do público, e que a Globo tivesse um projeto pronto para ocupar aquele espaço, sem precisar escalar o seu melhor apresentador, Tiago Leifert,  com a missão de tapar um buraco.

Em seu primeiro dia como apresentador de um horário que não terá seu titular de volta, Leifert até voltou a brincar com imitações do ex-dono daquele espaço, mas também exibiu performances que o veterano não costumava apresentar. Exemplo? Sublinhar a bermuda de orgulho gay usada por Tiago Abravanel no ensaio da Super Dança dos Famosos, um detalhe relevante.

Leiferfert levantou a bola para Abravanel: “Gostei da bermuda”. Só assim o outro pode dizer que é preciso defender a bandeira em questão e entender que todos devem ser amados na mesma medida.

Tiago tampouco se esquivou de brincar com Christiane Torloni, competidora da Dança, sobre o famoso meme da atriz, “hoje é dia de rock, bebê”, fruto de uma entrevista dela durante um Rock In Rio.

São pequenos exemplos de bolas que Faustão, alguém que mal mencionava o advento das redes sociais, talvez não levantasse. A criação de um novo programa na Band, em horário que ainda não conhecemos, mas com uma plateia certamente menor, também fará bem a Faustão, alguém com capacidade muito além daquela a que nos habituamos a aplaudir na tela da Globo.

Em sua performance, Tiago mandou avisar Luciano Huck que vem trabalhando muito e quer férias. Ao chamar para a Super Dança dos Famosos a canção “A Hard Day’s Night”, cuja letra menciona alguém que está trabalhando como um cachorro, Leifert dedicou a música dos Beatles a Huck.

É um tom que cabe no discurso de um, mas já não se encaixaria no script do outro.

O que sabemos neste momento sobre o fim do Domingão é aquilo que Leifert nos entrega. De uma geração diferente da de Faustão e do próprio Huck, com todas as transformações velozes sofridas nos dias de hoje, ele nos apresenta uma noção distinta sobre redes sociais, bandeiras de diversidades e representatividades.

Cabe ficarmos atentos ao que Huck prepara para essa sucessão, destacando que o substituto atual pode ser mais interessante, pela versatilidade e pela própria questão geracional, do que o apresentador a quem o horário está reservado, um desafio para a Globo, que arcará com o ônus do modo atropelado adotado para solucionar a mudança de seu mais antigo apresentador.

A questão do futuro é: será que Luciano Huck parecerá mais atraente às tardes de domingo que Tiago Leifert se mostra hoje?

Faustão está no Domingão há mais tempo que Huck está nas tardes de sábado, há mais tempo que Serginho Groisman está nas noites de sábado, há mais tempo que Ana Maria Braga está nas manhãs da Globo e há mais tempo que William Bonner está no Jornal Nacional.

Esse histórico só reforça a infelicidade no modo como a sucessão foi tratada, até para Huck, que sofrerá comparações com dois profissionais, em vez de um só. Mas, passado o furacão, é possível prever que a troca de bastão na Globo e de canal por Fausto Silva fará bem ao cenário televisivo.

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Cristina Padiglione

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