Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Fundador da ESPN no Brasil, Trajano lamenta demissão de veteranos e critica ‘manda-chuvas’

O jornalista José Trajano foi dispensado pela ESPN há pouco mais de um ano, após 21 anos de casa

Em texto publicado em sua página no Facebook (intitulada “Ultrajano”), o jornalista José Trajano lamenta a recente demissão de Helvidio Mattos da ESPN. Profissional com quem trabalhou desde os primórdios do canal no Brasil, o repórter é citado como “exemplo” de profissional. Trajano acredita que a saída de Helvídio da ESPN encerra um ciclo, e ainda que “os manda-chuvas atuais” estejam “chateados”, estão “mais preocupados com o bônus de Natal e a marca do carro, que é trocado a cada dois anos”. “Não enfrentam, não colocam suas cabeças em troca, como era comum nas redações de antigamente”, afirma.

Helvidio e outros nomes da grife no Brasil estão em uma lista de 150 contratados dispensados pela ESPN no mundo todo, segundo comunicado assinado por John Skipper, presidente da empresa nos EUA.

Diz a nota: “Estamos comunicando hoje a cerca de 150 colaboradores em todo o mundo que deixarão de fazer parte da nossa equipe. Somos gratos por suas contribuições e os ajudaremos na medida do possível nesse momento difícil com os pacotes de desligamento, um bônus para 2017, a continuação de benefícios de saúde e serviços de recolocação profissional. A maioria das áreas afetadas está relacionada aos departamentos de produção de estúdio, conteúdo digital e tecnologia. Refletindo de maneira geral as decisões de reduzir a produção em alguns casos e de redirecionar os recursos. Continuaremos investindo em maneiras de melhorar nosso posicionamento para servir aos fãs de esportes e em apoio ao sucesso da nossa empresa”.

Principal fundador do canal, no Brasil e um dos maiores responsáveis por sua trajetória de sucesso, Trajano foi dispensado pela ESPN há pouco mais de um ano, em setembro de 2016. Na época, disse acreditar que sua demissão teve motivação política, inclusive porque um comunicado do grupo Disney, à qual a ESPN pertence, poucos dias antes, exigia que seus contratados não se manifestassem politicamente nem na TV nem em suas redes sociais, o que Trajano sempre fez com convicção.

Eis o texto publicado por Trajano no Facebook:

“Helvidio Mattos, exemplo de repórter, foi demitido da ESPN, assim como haviam sido Roberto Salim e Lucio de Castro, outros grandes. A desculpa de que a ordem veio de longe, lá dos States, é cruel e desalentadora. E coloca no ar a pergunta, o que realmente esses caras querem? Foram anos de luta incessante, muita garra, enfrentamento, suor e criatividade. Era uma equipe pra valer, que não tinha medo de nada. Verdadeiramente, era uma equipe. Encarava o que tivesse pela frente. E Helvidio, como o Salim e tantos outros destemidos, seguiam sempre na dianteira. A demissão do Helvidio encerra um ciclo que vinha se fechando havia um tempo, com o pontapé na bunda dado em vários companheiros. Eu fui nessa leva. Estou triste e arrasado. Fundei o canal e vejo que o que plantamos está sendo destruído. A saída de Helvidio Mattos é um tapa na cara do verdadeiro jornalismo esportivo. Há outros companheiros que foram mandados embora. Peguei o querido Helvidio como exemplo. Um velho repórter merece ser e ele faz jus. Há gente muito boa ainda por lá, que certamente deve estar profundamente incomodada com a situação. As demissões não levam em conta o talento, o caráter, o comprometimento. Aos poucos, com frieza absurda, os manda-chuvas atuais – colocados lá por nós – vão cumprindo ordens. Não enfrentam, não colocam suas cabeças em troca, como era comum nas redações de antigamente. Estão chateados sim, porém mais preocupados com o bônus de Natal e com a marca do carro que é trocado a cada dois anos. Enfim, perdemos mais essa. Mas como disse meu Mestre Darcy e que Juca Kfouri usou em recente livro: ‘detestaria estar no lugar de quem me venceu.’ A ESPN não acabou, nem vai acabar. O que acabou foi a nossa turma, a que ergueu aquilo lá.”

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Cristina Padiglione

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