Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Globo esquece Regina Duarte em anúncio sobre ‘Vale Tudo’

Ao anunciar para o dia 20 a estreia no GloboPlay de “Vale Tudo”, uma das melhores novelas (para muitos, a melhor) de todos os tempos, o GloboPlay ignorou uma personagem fundamental na história criada por Gilberto Braga e escrita por ele, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères.

A pergunta é: onde está Regina Duarte?

Raquel Acioly, a heroína do enredo que motivava a pergunta básica para a criação da trama (Vale a pena ser honesto no Brasil?) ficou de fora da foto que apresenta os principais personagens.

Nos comentários, logo alguém questionou: “Cadê a protagonista?” Embora muitos tenham citado Odete Roitman (Beatriz Segall) e Maria de Fátima Acioly (Glória Pires), ambas vilãs e soberanas na memória do púbico, não há mal que se sustente em dramaturgia sem o conflito com a figura da heroína, vivida então por Regina Duarte.

De 1988, “Vale Tudo” já foi revisitada duas vezes pelo Viva, incluindo a programação de lançamento do canal, há dez anos, e de 2019. O enredo foi sucesso em todas as épocas em que foi exibido. É uma trama atemporal, infelizmente, que volta a martelar sua premissa de criação: vale ou não a pena ser honesto no Brasil?

 

Regina Duarte deixou a Globo em fevereiro, após mais de 50 anos de relações profissionais muito bem-sucedidas, ao aceitar o convite do presidente Jair Bolsonaro para ser Secretária de Cultura. Em troca de uma proposta que lhe pagaria no máximo 25% do salário anterior, concordou em trocar a empresa que foi sua empregadora por cinco décadas, reverenciando então aquele que ameaçou prejudicar sua ex-empregadora por mais de uma ocasião.

Menos de três meses depois de se unir àquele que trata a Globo como “inimiga”, termo já citado por Bolsonaro para se referir à Globo, a atriz perdeu o posto, hoje ocupado por Mário Frias, ator e apresentador sem qualquer obra relevante na área.

Em sua curta gestão, a atriz foi alvo de muitas críticas pela absoluta falta de ação pra motivar políticas públicas e apoio aos profissionais do setor durante a pandemia. Em uma entrevista memorável à CNN Brasil, celebrou e cantou um hit associado à ditadura militar, menosprezou a tortura da época e a morte de milhares de brasileiros pela Covid-19.

Ainda durante sua curta passagem pelo posto, a atriz foi alvo de vários memes nas redes sociais, incluindo alguns que usavam cenas de sua personagem em “Vale Tudo”, em geral nos duelos com Maria de Fátima, filha de Raquel na trama, vivida por Glória Pires.

A galeria de personagens que agora anuncia a volta de “Vale Tudo” tem Beatriz Segall, Glória Pires e também Antonio Fagundes (par de Raquel), Reginaldo Faria (empresário que dá aquela banana ao Brasil no último capítulo, cena que há poucos dias usamos para ilustrar a controversa saída do ex-ministro da Educação Abraham Weintraub, do país), Cássio Gabus e Renata Sorrah, então filhos de Odete Roitman, além de Cássia Kis, que viria a ser peça-chave no desfecho da trama, e Nathalia Timberg, irmã de Odete. Até Lilia Cabral, personagem periférica, estampa a galeria de personagens da campanha.

Já quando anunciou que lançaria uma novela clássica por semana, o GloboPlay evitou qualquer flash em Regina Duarte na campanha de lanamento. Um close de Sinhozinho Malta (Lima Duarte) ganha espaço no filme publicitário, lambendo a mão de Porcina, personagem da atriz, sem que seu rosto seja visto. Em outro flash, de “Vale Tudo”, vemos apenas uma mala sendo levada por ela, sem que sua figura se apresente.

Em suma, assistimos ao fim de um casamento que mal e mal celebrou Bodas de Ouro antes de fracassar, sem resquícios de amizade entre as partes.

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