Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Mensagem de alerta encerra comovente capítulo sobre diagnóstico de Aids na Globo

Nanda (Julia Dalavia) é consolada pela mãe, Kiki (Natália do Vale) em 'Os Dias Eram Assim'

Julia Dalavia levou a plateia de “Os Dias Eram Assim” às lágrimas com o capítulo desta segunda-feira, quando Nanda, sua personagem, tomou conhecimento do diagnóstico que o público já conhecia: Aids, a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA, em português). Nos anos 80, época em que se encontra o enredo das onze da Globo, a doença mostrava seus primeiros sinais e apontava para as primeiras vítimas de modo a ditar uma contagem regressiva breve para a morte.

A Globo aproveitou a ocasião para exibir dois comerciais – não merchandising, do tipo mensagem subliminar, não, mas sim mensagens explícitas – de alerta contra a doença. A primeira veio no intervalo do primeiro para o segundo bloco, logo após Nanda ouvir o diagnóstico do doutor Domingos (Izak Dahora). Era um filminho institucional da Unaids em parceria com a emissora. A segunda mensagem fez estampar na tela cheia, logo após a última cena e antes dos créditos finais, a frase de alerta “Aids ainda não acabou”. Veiculada no auge da comoção do público, quando o espectador estava totalmente desarmado, com defesa racional abalada, sob o efeito da tragédia que se abateu sobre a personagem, essa ação vale mais que cem campanhas contra a Aids.

Julia foi de uma precisão rara em atriz tão jovem. Fez chorar quando, sozinha, no banheiro, tirou a roupa e mirou seu definhamento diante do espelho. E, ao final do capítulo, quando contou para a mãe, Kiki (Natália do Vale) e para a irmã, Alice (Sophie Charlotte) qual é o seu mal: “essa doença nova”, ela diz. É de cortar os pulsos ver Nanda pedir desculpas à mãe, como se fosse culpada por ter sido contaminada com o HIV, uma ideia que muita gente fazia questão de difundir (e ainda há quem o faça), em razão do contágio via sexo e drogas, apontando um julgamento cruel sobre a vítima, supostamente perversa por sua promiscuidade.

Pouco antes de ela voltar do hospital, vimos Alice em casa, diante de um televisor em que Leilane Neubarth aparece de cabelos volumosos, como só nos anos 80 seria possível, contando detalhes sobre o tal HIV. A edição traz ainda outras imagens da época, com Caco Barcellos informando sobre o mal da SIDA e Tony Ramos falando de prevenção.

Ponto para os bons diálogos de Angela Chaves e Alessandra Poggi, com a maestria da direção de Carlos Araújo, que visivelmente amarra todas as emoções no mesmo plano, sem permitir que um ator fique muito distante do outro no nível de emoção. A cena acusa ainda a competência de Natália do Vale e Sophie Charlotte na apreensão do olhar de cada uma, à espera do pior, sob a bênção serena do adorável mordomo de Ricardo Blat, o Sandoval.

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