Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

‘Gordo não beija, não transa, sobretudo o preto gordo’: Paulo Vieira no #Provoca

Paulo Vieira e Marcelo Tas no #Provoca, da TV Cultura. Foto: Julia Rugai/Divulgação

A Record não tirou nenhum proveito do bom talk show que Fábio Porchat apresentou na emissora nos fins de noite por quase dois anos, mas nós tiramos, que bom.

Além de o programa ter dado ao humorista do Porta dos Fundos uma inestimável experiência de TV aberta e entrevistador, ele mesmo nos deu Paulo Vieira, seu coadjuvante naquele talk show, que foi oportunamente aproveitado pela Globo –a emissora estava já interessadíssima em ampliar seu elenco de negros, principalmente no humor, onde sobravam brancos bem enquadrados em um padrão estético que passou a ser alvo de críticas, justamente em razão da falta de diversidade.

Paulo Vieira é o cara do #Provoca na noite desta terça (13), às 22h, em conversa com Marcelo Tas na TV Cultura, e fala, entre outras coisas, sobre padrão estético.

Eu tô na Globo, mas, por exemplo, não tô fazendo a novela das 9. Estou em num lugar que eu posso estar, né?”, disse ele na gravação com Tas.

“Quando a pessoa escreve assim: ‘Claudio entra e beija a sua esposa’, automaticamente, o Claudio não é gordo porque ele tem uma esposa. A gente passou por um processo que o gordo é assexualizado imediatamente. O gordo não beija, não trepa, não transa, sobretudo o preto gordo”, desabafa.

Natural de Trindade (GO), mas criado em Palmas, no Tocantins, Vieira é um ponto fora das estatísticas. De origem humilde e longe do sul maravilha, conseguiu se fazer notar, sendo, como ele diz, gordo e preto.

“Eu acho que escolher é um privilégio (…) que, às vezes, o pobre não pode se dar. Principalmente quando você vem de uma realidade onde precisa sobreviver, garantir a sua e dos seus, resolver ser artista é uma decisão quase egoísta. Imagina que meu pai estava contando comigo para o futuro da família. Como é que eu falo que eu vou ser artista? É como… jogou todas as fichas dele no lixo.”

E recorda como era não se ver representado na TV. “Eu me lembro de ver um show que tinha a Angélica ou Tony Garrido com algumas crianças e chorar, sofrer e pensar: mais um ano que eu não estou na televisão. Todo programa Criança Esperança, para mim, era um sofrimento (…) então eu sempre soube que queria ser artista.”

O humorista conta também no #Provoca sobre o ‘show da ansiedade’ com a sua mãe. “Eu queria ser ator sério porque eu pensava que a comédia era inferior. E quando a gente se mudou para o Tocantins, minha mãe tinha síndrome do pânico e a gente não tinha condições de pagar os remédios”.

A médica então à mãe que ela precisava tomar os remédios, mas a única coisa que ela podia aconselhar era que quando a mãe começasse a ficar ansiosa, para tentar pensar em outra coisa, se distrair. “E eu peguei essa missão para mim, de distrair a minha mãe. Quando ela começava a ficar ansiosa, eu imediatamente colocava um pano na cabeça, imitava minha vizinha, propunha brincadeiras (…) esse episódio com a minha mãe fez com que eu olhasse para a comédia com outros olhos, porque minha mãe foi parando de ter as crises de pânico e nunca mais teve. A comédia cura.”

O #Provoca vai ao ar às 22h na TV Cultura e depois fica diponível no YouTube.

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Cristina Padiglione

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