Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Inadimplência de produtora ameaça programas da TBS e Warner

Programas como “Caravana no Ar”, com Juliano Enrico e PC Siqueira na apresentação, mais novos talentos da internet, como Victor Meyniel, e “Show do Kibe”, de Antonio Tabet, ambos em fase de reprises no canal TBS, poderão sair do ar por decisão da Justiça. Fornecedores de material e mão de obra, incluindo artistas que trabalham nessas produções, não foram pagos pela produtora Contente, responsável pela realização dos títulos.

As mesmas razões ameaçam a estreia da série “Manual para se Defender de Alienígenas, Zumbis e Ninjas”, da mesma produtora, feita para o canal Warner, com André Abujamra. O material captado já chegou a ser apreendido pelo Sindcine (sindicato dos dos trabalhadores da indústria audiovisual), também em função de inadimplência da produtora.

Alguns processos judiciais começam a correr, inclusive com pedidos para que o canal retire do ar os programas ainda em exibição. A Turner, programadora dos canais TBS e Warner, alega que já acertou suas contas com a produtora e não pode ser punida por isso. Procurada pelo TelePadi, a programadora nos enviou a seguinte nota: “A Turner afirma que cumpriu rigorosamente com todos os pagamentos estabelecidos contratualmente com a produtora Contente,  via artigo 39 da Ancine, e reafirma que toda a responsabilidade e controle de pagamentos a fornecedores e trabalhadores nas produções é obrigação estrita da produtora, que inclui prestação de contas com o governo. Sendo assim, qualquer eventual quitação de débitos deve ser esclarecida diretamente com a mesma. Os programas produzidos pela Contente para os canais da Turner seguem normalmente do ar.”

A produtora não nega as dívidas, mas, ainda que as produções mencionadas tenham recebido financiamento por meio da Ancine, com verbas referentes a leis de incentivo, a empresa atribui a inadimplência ao cenário econômico. Por meio de sua assessoria de imprensa, alega que “em meio a uma das maiores recessões do Brasil, a Contente enfrenta problemas de caixa.” “A produtora está trabalhando para solucionar o pagamento de fornecedores e lamenta os atrasos.”

Antonio Tabet e o nadador Xuxa no 'Show do Kibe'

Antonio Tabet e o nadador Xuxa no ‘Show do Kibe’

Segundo o site da Ancine, Agência Nacional de Cinema, responsável pela aprovação e distribuição de verbas públicas referentes a produção de cinema e TV, o “Show do Kibe”, em sua 2ª temporada, realizada com atletas e ex-atletas e lançada durante a Rio 2016, teve R$ 2.501.648,00 liberados, sendo R$ 2.376,10 por meio do Artigo 39, citado na nota da Turner. O recurso autoriza a programadora a trocar impostos devidos ao governo, como empresa internacional, por produções audiovisuais realizadas no Brasil, com mão de obra nacional. Pela lei, a produtora é proprietária majoritária da produção. O processo correu em nome da Contente Produções Ltda. e foi aprovado em Reunião de Diretoria Colegiada nº 594, realizada em 01/12/2015. O prazo para captação é 31/12/2018.

Já o “Caravana no Ar”, produzido antes, teve valor total aprovado na Ancine de R$ 1.275.595,20, sendo R$ 1.211.811,26 também pelo Artigo 39. O processo, de número 01580.044877/2014-03, foi aprovado na reunião de Diretoria Colegiada nº 562, realizada em 07/04/2015, com prazo de captação: até 31/12/2016.

André Abujamra na série "Manual para se defender de zumbis..."

André Abujamra na série “Manual para se defender de zumbis…”

A série “Manual para se Defender de Alienígenas, Zumbis e Ninjas”, programada pela Warner para 2017, teve valor total do orçamento aprovado em R$ 3.781.769,00, sendo R$ 2.111.090,72 via art. 39. O prazo de captação é 31/12/2019.

A Contente também assinou, para o canal Space, da Turner, a bem-sucedida série “Zé do Caixão”, com Matheus Nachtergaele. No quesito acabamento, tanto “Show do Kibe” quanto “Caravana no Ar” em nada parecem ter sido feitas com restrições orçamentárias. Não esbanjam ostentação, longe disso, mas são bem feitas e finalizadas, com profissionais de primeira linha. Isso, somado ao fato de os programas terem aval para captação de verba pública, torna os casos de inadimplência ainda indecifráveis, para além de um possível diagnóstico de crise econômica.

Aguardemos as cenas dos próximos capítulos.

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Cristina Padiglione

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