Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Jô Soares lança 2ª parte de autobiografia no aniversário de Boni

Não que tenha sido proposital, mas vem bem a calhar a data de 30 de novembro para o início das vendas da 2ª parte de “O Livro de Jô – Uma Autobiografia Não Autorizada”, livro de memórias de Jô Soares, escrito por ele e Matinas Suzuki Jr., pela Cia. das Letras.

Já em fase de pré-venda pelos sites, a obra tem lançamento oficial previsto para 30 de novembro, dia do aniversário de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, ex-vice-presidente de Operações da Rede Globo.

E daí?

E daí que o livro começa com o primeiro one man show dele, com espaço semanal na grade da Globo, ainda em 1969, e termina exatamente com sua transferência para o SBT. A troca de canal motivada pela chance de ter um talk show nos fins de noite, vaga que a Globo, na época comandada soberanamente por Boni, não lhe abriu.

Na ocasião, o big boss travou uma guerra pública com Jô, tentando inclusive impedi-lo de usar a palavra “gordo” em qualquer programa no SBT. Perdeu, evidentemente. De “Viva o Gordo”, que ele fazia na Globo, seu programa passou a se chamar “Veja o Gordo”, pelo SBT.

E o talk show que a Globo não quis lhe dar, alegando falta de espaço na programação, tornou-se um enorme sucesso pelo SBT, como “Jô Soares Onze e Meia”.

Inconformado com a troca de canal, Boni estabeleceu que nem comerciais com a presença de Jô poderiam mais ir ao ar pela Globo. Os atores que resolveram trocar de canal com ele, como foi o caso de Paulo Silvino, entre outros, também estavam vetados nos intervalos, mesmo quando o assunto eram suas peças de teatro, o que os prejudicava bastante, claro. Na época, rede social e internet eram coisas de ficção científica.

Jô escreveu longo artigo no “Jornal do Brasil” sobre o episódio e leu seu protesto diante das câmeras do “Troféu Imprensa” de 1988, com aval do próprio Silvio Santos. Jô estava no programa para receber estatuetas que lhe foram atribuídas em anos anteriores.troféus de anos anteriores de seu Troféu Imprensa.

 

Não demorou para que Boni se desculpasse com o amigo. O caso foi relatado na autobiografia de Boni, “O Livro do Boni” (Ed. Casa da Palavra, 2011). Eis o que ele conta:

“No final de 1987, o Jô amadureceu a ideia de criar um talk show nos moldes dos programas americanos de fim de noite. Já havíamos ensaiado isso na Globo, com o próprio Jô, no programa ‘Globo Gente’ (1973), com texto do Manoel Carlos e direção do Haroldo Costa. Era apenas um programa por mês e por lá passaram Gilberto Gil, Caetano Veloso, Gal, os contratados da Globo e até os sobreviventes do acidente aéreo dos Andes que tiveram que praticar antropofagia. O Jô queria fazer um talk show de segunda a sexta, o que seria possível, mas também queria a garantia de que entrasse no ar, no máximo, às 23h30. Na Globo, isso era inviável e eu argumentei:

_ Quem manda no horário da Globo é a Globo. A última que quis mandar no horário foi a Glória Magadan (roteirista cubana que adaptava novelas de sucesso da vizinhança latina no Brasil) e você sabe no que deu. Além do mais, tem dia que temos futebol, há a possibilidade de eventos e eu não posso garantir isso.

Em toda a minha história de dirigente de televisão, jamais assinei um contrato que não pudesse cumprir. Poderia ter concordado com ele e tê-lo enrolado depois, mas não é do meu temperamento. O Jô estava apaixonado pela ideia e nos deixou. Foi para o SBT, onde lançou dois programas: o ‘Veja o Gordo’ e o ‘Jô Soares Onze e Meia’, que logo ganhou o apelido de ‘Jô a qualquer hora’, porque daria para contar nos dedos os dias em que ele entrou realmente, no horário, conforme previsto no contrato.

Fiquei magoadíssimo com o Jô e com o Max Nunes porque, além de não querer perdê-los, tinha com eles uma profunda relação de amizade e me senti traído. Gritei, fiz ameaças, mas prevaleceu o carinho que sempre tive pelos dois. Porém, profissionalmente, comprei a briga. Criei a sessão de cinema ‘Tela Quente’, que incinerou o ‘Veja o Gordo’, fazendo com que o programa saísse do ar. Acho que o Jô até gostou, pois ficou só com o seu programa de entrevistas e construiu uma carreira brilhante de 12 anos no SBT. No ano 2000, voltou para a Globo, com o ‘Programa do Jô’, e mantém o seu prestígio quando se prepara para as bodas de prata de seu sempre atraente e agradável programa, reafirmando a vocação do José Soares para a diplomacia, enquanto reforça o talento do Jô como humorista e apresentador.

Viva o Jô”.

Na verdade, o fim do “Veja o Gordo” não foi obra pura e simplesmente da competição com o “Tela Quente”. Assim como o “Viva o Gordo”, o “Veja o Gordo” era um programa rico em esquetes abastecidas de bons diálogos e caracterizações de personagens. Seria extremamente custoso, para Jô, conduzir um programa semanal como “Veja o Gordo” e um talk show diário.

Os planos, desde o início da transferência para o SBT, indicavam que o “Veja o Gordo” serviria só como uma ponte de transferência do humorista para um canal onde ele ainda começava a deixar sua marca. O ideal seria traçar essa iniciação com um Jô que já se conhecia, até a consolidação do Jô como entrevistador de talk show, a novidade que ele cobiçava. E assim foi feito.

Agora, aguardemos os novos relatos do “Livro de Jô”. O primeiro volume é uma leitura fácil de devorar. Por alguns anos, especialmente no SBT, Jô carregou a fama de quem gostava de falar mais que o entrevistado. E não é que a primeira etapa da autobiografia denuncia justamente o contrário? No livro, ele fala muito mais dos outros que de si, como se narrasse sua história pelos passos de quem segurou suas mãos ao longo da vida.

 

 

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Cristina Padiglione

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