Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Exclusivo: João Roberto Marinho visita Johnny Saad na sede da Band

João Roberto Marinho e Johnny Saad almoçaram juntos na sede da Band. Crédito: fotos de Bruno Poletti/Folhapress (Marinho) e Divulgação (Saad)

Presidente do Conselho Editorial do Grupo Globo, João Roberto Marinho esteve na sede do grupo Bandeirantes nesta quarta-feira (18) para almoçar com Johnny Saad, presidente da casa. Outros representantes das duas empresas participaram do encontro entre os dois, que acontece em meio a discussões sobre o projeto de Lei 3.832/2019. Prestes a ser votado no Senado, o referido PL propõe a alteração dos artigos 5º e 6º da Lei 12.485/2011, a Lei da TV Paga, derrubando o impedimento da propriedade cruzada entre programador e distribuidor de conteúdo de TV por transmissão linear, ou seja, aquela que chega pelo sinal de TV, seja via aérea ou cabo.

“Sobre o encontro de ontem, Johnny Saad disse que ficou feliz com a visita e que foi um encontro de amigos que comandam dois grupos de comunicação, sem pauta definida, e o que foi conversado ficou entre eles”, respondeu a Band, por meio de sua assessoria de imprensa, ao ser questionada se o almoço foi motivado pela votação da PL.

O grupo Globo não se manifestou.

A mudança na lei abriria as portas para a fusão da AT&T, dona da Sky, com o grupo Time Warner no Brasil, o que não é exatamente do agrado do grupo Globo, emissora notoriamente hostilizada pelo presidente Jair Bolsonaro em várias ocasiões.

No último dia 7, não havia nenhum Saad ou Marinho na tribuna de honra para o desfile que comemorou a Independência do Brasil, em Brasília, ocasião para a qual foram convidados Silvio Santos e toda a família Abravanel, assim como Edir Macedo e os seus, proprietários, respectivamente, do SBT e da Record.

Pela lei atual, quem monta a programação na TV paga não pode distribuir esse mesmo pacote, e vice-versa. Tanto o Grupo Globo como o Grupo Bandeirantes tiveram de abrir mão de ações em operadoras de TV há sete anos, quando a lei foi aprovada, sob a proteção de tampouco verem as teles, que possuem fôlego financeiro muito maior que as TVs, ameaçando seus reinados na disputa por direitos esportivos, por exemplo. A Globo se desfez então de participação na NET e na Sky, enquanto a Band abriu mão da TV Cidade, uma operadora de proporções menores.

Uma fonte ouvida pelo TelePadi nega que o encontro entre João Roberto e Johnny Saad tenha tido uma “pauta específica”, tendo sido apenas um almoço entre dois empresários que não se viam há tempos, mas não descarta a possibilidade de este assunto ter sido mencionado durante o almoço, como soubemos que de fato foi.

Sob pressão

A AT&T vem pressionando o governo pela mudança na lei há quase dois anos, ou desde antes de ter sua fusão aprovada nos Estados Unidos, o que só ocorreu em junho de 2018, após longo processo, sob autorização judicial. A compra lá ficou travada após a promotoria pública dos Estados Unidos denunciar a possibilidade de que, de posse da Time Warner, a operadora de telefonia, internet e TV por assinatura AT&T pudesse privilegiar a oferta de conteúdos próprios da Warner em detrimento daqueles oferecidos por outras companhias.

A AT&T, no entanto, tem encontrado no governo Bolsonaro uma receptividade bem maior do que no governo Temer. A reversão da lei nesse ponto abre as portas para a entrada das teles na disputa por programação e compra de conteúdo, incluindo ofertas muito mais tentadoras aos clubes pelos direitos de transmissão dos principais campeonatos de futebol, onde a Globo reina absoluta há décadas.

Sob o chapéu da Time Warner estão os canais Turner (CNN, Cartoon Network, TNT, tbs, Warner, Space e Boomerang, entre outros), History, A&E e todos do grupo HBO.

Um dos argumentos da AT&T junto ao governo é que serviços de OTT (Over The Top), como Netflix, Amazon e o próprio GloboPlay já fazem isso no Brasil, ao programar e distribuir seu próprio conteúdo, mas especialistas no ramo observam que essas plataformas precisam de um elemento externo para distribuir seu menu: o serviço de banda larga, o que as fazem dependentes de outros grupos.

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Cristina Padiglione

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