Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Jorge Tadeu ressuscita pelo GloboPlay: ‘Pedra Sobre Pedra’ esbanja referências

Fábio Jr., o Jorge Tadeu, e Andréa Beltrão, uma de suas amantes, em 'Pedra Sobre Pedra' / Divulgação

Escrita em 1992 por Aguinaldo Silva, Ricardo Linhares e Ana Maria Moretzsohn, “Pedra Sobre Pedra” está de volta pelo GloboPlay, com bons motivos para ser vista ou revista. Seu maior feito está na performance de Armando Bogus como Cândido Alegria, um sujeito asqueroso, explorador de trabalhadores, que termina a trama (desculpe pelo spoiler) transformado em estátua de pedra. Premiado pela APCA –Associação Paulista dos Críticos de Artes– daquele ano como melhor ator de TV, Bogus viria a morrer antes de receber o troféu, encerrando a carreia com esse grande desempenho.

Mas na memória popular, a novela é mais lembrada por Jorge Tadeu, personagem de Fábio Jr. que fazia a alegria das mulheres de Resplendor, cidade fictícia da história. Fotógrafo que era assassinado lá pela metade da trama, ele voltava em carne e osso para servir às suas namoradas toda vez que elas mordiam um pedacinho dos antúrios nascidos de uma árvore que brotou de um dia para o outro na praça da cidade. O time incluía Andréa Beltrão e Arlete Salles, passando por Isadora Ribeiro, Nívea Maria e Elizângela.

As cenas aconteciam sempre ao som de Fagner e Roberta Miranda, que entoavam “Cabecinha no Ombro”. Com Renata Sorrah, Lima Duarte, Eva Wilma, Adriana Esteves, Maurício Mattar e Eloísa Mafalda, entre outros, o folhetim batia, acredite, na casa dos 60 pontos de audiência, quase o dobro do que hoje rende “Pantanal”.

Minha lembrança de “Pedra Sobre Pedra”, no entanto, vai além dos duelos dignos do coronelismo tão bem defendidos por Aguinaldo Silva. O último capítulo trazia uma raríssima imagem do diretor-geral da novela, Paulo Ubiratan, como sugestão de um novo amor para Pilar Batista (Renata Sorrah), em uma sequência de cenas gravadas em um vagão e estação de trem em Lisboa.

O diretor de novelas Paulo Ubiratan, em imagem reproduzida de tela no último capítulo de ‘Pedra Sobre Pedra’ / Reprodução

Morto em 1998, aos 51 anos, ele foi, certamente, o nome que mais frequentou créditos de direção de novelas da Globo entre os anos 1980 e 1990, sendo sempre reconhecido como um exímio escalador de elenco.

Veio dele, só como exemplo de maestria nessa arte, a sugestão do nome de Beatriz Segall para o papel de Odete Roitman em “Vale Tudo”, de 1988, conforme me contou o próprio Gilberto Braga, autor do folhetim. Ubiratan esteve em todas as novelas de Aguinaldo Silva, a partir de “Roque Santeiro” (1985), baseada na obra de Dias Gomes, mas desenvolvida por Silva.

O diretor, que começou na TV como office-boy de Cassiano Gabus Mendes, na TV Tupi, foi casado com Natália do Vale e Valéria Monteiro, com quem teve sua única filha, Vitória. Quando morreu, namorava com Mônica Fraga, atriz e modelo que estampava justamente a abertura de “Pedra Sobre Pedra”, em mais um desdobramento daquelas mulheres esculturais que Hans Donner transformava em árvores, rios e afins pelos milagres da computação gráfica.

 

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Cristina Padiglione

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