Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Justus explica áudio em que chama novo coronavírus de ‘gripezinha’

Justus em vídeo publicado no Instagram/Reprodução

O publicitário e apresentador Roberto Justus, 64 anos, resolveu gravar um vídeo para esclarecer sua posição em relação a uma série de ressalvas que vieram a público por meio de um áudio em que responde às defesas que o apresentador Marcos Mion fez sobre a importância da quarentena imposta pelo novo coronavírus. O depoimento está em seu perfil no Instagram (@robertoljustus).

No áudio, Justus refuta o posicionamento de um biólogo apresentado por Mion em um grupo de WhatsApp do qual ambos fazem parte. Na ocasião, Justus rejeita o rigor da quarentena imposta pelo covid-19, alegando que só velhinhos e pessoas com outras doenças morrem com o novo conoravírus. Para ele, a paralisação de vários setores da economia vai quebrar muita gente, deixando um estrago ainda maior, inclusive para os menos favorecidos. O publicitário explicou ao blog que fez o vídeo para que as pessoas conhecessem seu posicionamento completo, o que o áudio, trecho de uma conversa, não mostra.

 

Abaixo, o áudio que gerou tal repercussão, no grupo de WhatsApp, em resposta a Mion.

“Respeito os seus pensamentos, mas você está totalmente errado. Quem entende um pouco de estatísticas, que parece que não é o teu caso, vai perceber que é irrisório. E dos que morrem, mesmo dos velhinhos, só 10 a 15% deles morrem. Se pegarmos o vírus, o que já seria bom, pegaríamos anticorpos e ele acabaria de uma vez. Agora, claro que esse exagero que foi feito, tem vários argumentos atrás deles, é claro que a gente devia isolar os velhinhos, cuidar deles e evitar grandes eventos, mas esse isolamento vai custar muito mais caro. você está preocupado com os mais pobres? Você vai ver a vida devastada da humanidade na hora do colapso econômico, da recessão mundial, dos pobres não terem o que comer, das empresas fecharem, do desemprego em massa, não dá pra comparar com um viruzinho que é uma gripezinha leve pra 90% das pessoas, não da pra comparar com o desastre que vai ser. Não fica preocupado porque na favela o virus não vai matar ninguém, vai matar velhinho e gente já doente, não tem uma morte no mundo das 12 mil que a pessoa já não tenha um problema recorrente do passado, todos foram velhinhos, ou mais jovens com problemas pulmonares ou são diabéticos ou tem outras doenças. Na pessoa saudável, zero, e os pobres não são todos doentes. Na favela não vai acontecer porra nenhuma se entrar o vírus, pelo contrário. Criança então, de zero a dez nenhum caso. Isso não é grave, grave vai ser a recessão global como nunca vista na história, nem no crash de 29. Um milhão de mortos no Brasil é uma das piores de mais mau gosto que eu já vi na minha vida. E se você tiver paciência e um bom inglês, por favor, leia essa matéria, do Wall Street Journal, falando dessa histeria totalmente desproporcional”

Procurada, a assessoria de Mion explicou ao TelePadi que:

“O áudio que está circulando é apenas uma parte de uma conversa de um grupo de amigos e se referia a um vídeo, não do Mion, mas de um pesquisador, o biólogo, especializado em virologia, Átila Iamarino. O vídeo, colocado no grupo pelo Mion, traz prospecções de diferentes cenários para diferentes variáveis. Não se tratava de uma única afirmação determinista. Os integrantes do grupo discutiam livremente em cima das possibilidades colocadas pelo especialista, assim como discutem várias outras prospecções e cenários.”

A assessoria de Mion reforçou ainda que “desde o dia 12 de março”, ele “usa, diariamente, seu alcance nas redes sociais e toda a sua credibilidade para alertar a população sobre a importância da prevenção diante do coronavirus. Seus vídeos, que somam milhões de acessos e são compartilhados nas mais diferentes plataformas, apresentam exclusivamente informações e  recomendações de fontes oficiais.”

 

No vídeo publicado no Instagram, Justus faz uma defesa mais ampla em sustentada de sua posição:

“Venho aqui esclarecer os meus pontos de vista de uma forma mais didática. Falaram que eu estou zombando dos mortos e só penso na parte econômica, não é nada disso, muito pelo contrário. Eu falo muito de estatística. Se nós olharmos para o número de casos do mundo, são  300 mil casos de coronavírus no planeta inteiro, são 15 mil mortos. Ninguém consegue lidar com pessoas morrendo, é muito triste, não tenho dúvidas disso, mas 15 mil mortos pra 7 bilhões de habitantes é um número muito pequeno. No Brasil, nós temos poucos casos ainda e temos, infelizmente, 25 mortos, mas 25 mortos pra 210 milhões de habitantes, de novo, é um número muito baixo. O que eu quero dizer com isso? Eu quero dizer que nós estamos dando um tiro de canhão pra matar um pássaro, nós estamos exagerando na dose. Eu nunca disse que não tinha que tomar cuidado. Nós estamos parando a economia brasileira, nós estamos destruindo o que vinha se recuperando. Nós estamos vindo de anos de recessão, de queda do nosso PIB, e agora nós vamos conseguir destruir, o que acontece com isso? Um problema social sem precedentes. Aí, sim, as pessoas vão morrer. Você sabe que muita gente se mata por problema econômico. A tristeza de não poder alimentar os seus filhos, perder o seu emprego. O sorveteiro deu um grande exemplo, ele falou: ‘não vou morrer do vírus, vou morrer de fome.’. Vocês sabiam que 15 pessoas, entre adultos e crianças, morrem por problemas ligados à desnutrição no Brasil, todos os dias? E não vi o Brasil parar por isso. Ou seja, em dois dias, morre mais gente ligado à desnutrição, principalmente dos estados do Nordeste, do que com o coronavírus. É triste? É triste. Eu falei pro Mion: ‘eu não estou contra cuidar dos cuidados com o planeta, eu estou aqui isolado, eu tenho mais de 60 anos, eu sou grupo de risco, ok, eu tô falando de cuidar das pessoas que têm mais riscos, que são os nossos velhinhos, nossos idosos, pessoas que têm alguma doença que já tinham, diabetes, doenças coronárias, respiratórias, que têm imunidade baixa, mas mesmo entre nossos idosos, 85% não viram casos graves, apenas 15%. É triste? É triste. Mas não justifica uma reação tão exacerbada, que destrua um país, que vai demorar anos pra se recuperar. Você resolve um problema e cria um muito maior. Você sabia que 1 milhão e 300 mil pessoas morrem por ano de acidente de automóvel no mundo? No Brasil acho que são quase 400 mil. Se nós fizermos um ranking da letalidade do coronavírus, ele vai estar lá em vigésimo lugar. Quantas outras doenças não matam mais. Influenza, nós temos cinco milhões de casos graves, 10% morrem, 500 mil pessoas, boa parte disso está no Brasil, o Brasil já parou?

Estou tentando minimizar esse exagero, essa histeria, esse pânico que se cria quando o Mion e outras pessoas fazem esse tipo de vídeo, com as melhores das intenções, são gente boníssima, não se assustem. Não tem que ter aglomerações humanas, tem que eliminar jogos de futebol, shows, as grandes festas, ok. Não vamos botar gente junto, é lógico, vamos isolar os nossos velhos e vamos liberar o resto, porque o saudável, quando ele pega o vírus, ele é uma gripe, não é uma coisa tão grave pra quem é saudável e tem imunidade, e vamos criar anticorpos. […] Se durássemos, com esse fechamento da nossa economia, apenas 20 dias, 30 no máximo, ok, cortamos o contato e ok, as crianças tem que voltar  escola, as pessoas`, ao trabalho, senão o drama vai ser infinitamente maior. Os governantes, a própria mídia exagera um pouco, estão fazendo um trabalho não de má intenção, mas exagerando porque querem fazer o politicamente correto, e o politicamente correto nem sempre funciona, às vezes atrapalha. ‘Ah, mas os médicos acham…’, os médicos sempre pensam no pior cenário, eles vivem pra curar pessoas, pra evitar o contágio, mas muitos já estão falando que esse lock down total vai criar um outro problema muito maior. Foi isso que eu quis dizer. Cuidar das pessoas é a coisa mais importante que tem, e cuidar dos idosos. Os mortos, a gente lamenta demais, ainda mais 25 e mesmo que aumente dez vezes ou 20 vezes, perto de 210 milhões que vivem nesse país, ainda é muito pouco pra fazer todos esse outros sofrerem essas dramáticas consequências com esse shut down do nosso país. Essa preocupação que eu to tendo é muito mais do que alguns estão imaginando porque eu me preocupo o que vem aí, um desastre na vida das pessoas, sem emprego, sem ter o que botar na mesa. Acreditem.”

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