Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Marcelo Tas morde e assopra no #Provocações, sem perder o entrevistado

Janaina Paschoal, deputada mais votada do Brasil, pelo PSL, apta a autocrítica, no #Provocações

Marcelo Tas não chega a endurecer sem perder a ternura, como se fosse um “Hard Talk”, aquele programa em que o tom incisivo se impõe como formato na BBC. Mas sabe como cutucar a onça com vara curta, disfarçando a vara de naco de carne. O resultado é que os entrevistados mordem a isca com docilidade e, melhor, não se esquivam de responder o que lhes foi inquirido.

Ao cabo de três edições do novo #Provocações já é possível notar que o criador do repórter Ernesto Varella e do Professor Tibúrcio sabe como ser elegante, e muito elegante, afável, até, sem perder de rumo o nome do programa.

Convém notar que não falamos, até aqui, de ninguém que passe perto de qualquer unanimidade. Ciro Gomes, Danilo Gentili e Janaína Paschoal são divisores de torcidas, provocam e são provocados pelo próprio discurso e obra por eles produzidos. Os tuítes selecionados para cada edição parecem acrescentar ao repertório e às provocações das entrevistas, mas talvez pudessem ser ainda mais provocativos. Considerando esses três, o que se viu de comentário na tela foi feijão-com-arroz.

Isso, no entanto, não compromete o ritmo e, principalmente, as reflexões trazidas pelo #Provocações.

Ciro Gomes teve de responder sobre o ônus de ser pavio curto.

Danilo Gentili teve de explicar por que despreza Paulo Freire, patrono da educação que é respeitado no mundo todo.

E Janaína Paschoal, a mais recente dessa fila, soube fazer as devidas ponderações ao governo de Jair Bolsonaro, da mesma legenda por ela representada. Não houve, antes de Tas, quem questionasse se aquela cena em que ela foi apontada como louca, girando uma bandeira do Brasil, no contexto do impeachment de Dilma Rousseff, teria tido essa interpretação de insanidade a ela atribuída se ali estivesse um homem. E, diante do internauta que questionou por que ela não faz uma escovinha nos cabelos ou não se arruma um pouco, a deputada mais votada do país responde: “Por que ele não vai catar coquinho?” A deputada sabiamente refuta a cobrança de um telespectador que pede a uma mulher algo que não pediria a um homem. Bingo!

Diante de insinuações não muito sinuosas, Tas é rápido e certeiro em confirmar o que, afinal, o entrevistado quis dizer em determinados momentos, para que não paire dúvidas ou interpretações tortas sobre o que foi dito.

De Ciro, quis saber se ele estaria chamando a presidente Dilma Rousseff de “merda”, ao que ele prontamente desmentiu: “Não, eu disse que ela fez um governo de merda, a Dilma é uma senhora respeitadíssima”, esclareceu.

A Janaína, perguntou se ela estaria dizendo que o PSL age como o PT quando convoca manifestações, sendo ele próprio o poder, ao que ela prontamente endossou.

Tas ri, o entrevistado baixa a guarda e ele fatura em cima da fragilidade a seguir, como convém a um entrevistador esperto.

O #Provocações é programa que merece ser visto, principalmente pelos torcedores e militantes de um lado ou do outro do Fla-Flu político. É um programa de equilíbrio que faz bem ao pensamento. Tudo tem dois lados, quando não mais, e o entrevistador não perde a chance de botar em panos limpos as polêmicas posições de cada um.

COTAÇÃO: MUITO BOM

#PROVOCAÇÕES: Terças, 22h30, na TV Cultura, ou pelo Cultura+ e YouTube, após a exibição.

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Cristina Padiglione

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