Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Mesmo submetida a reformas, ‘A Lei do Amor’ perde para ‘Velho Chico’

A duas semanas de se encerrar, já sabemos que “A Lei do Amor” terminará com saldo de audiência inferior a “Velho Chico”, novela que muita gente acusava de ser lenta e chata, mas reconhecida, mesmo por esses, como uma produção capaz de levantar várias bandeiras relevantes em política, sustentabilidade, racismo e ensino. A essa altura, a média do folhetim de Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari soma 26,7 pontos na Grande São Paulo, ante 29,2 do total alcançado por Benedito Ruy Barbosa e Bruno Luperi. No Painel Nacional de TV do Kantar Ibope, o chamado PNT, que mensura 15 regiões metropolitanas de todo o País, “A Lei do Amor” tem 27,5 pontos, ante 29,5 de “Velho Chico”. Ainda que a trama atual ganhe a adesão de público extra nessa reta final, como é praxe em fim de novela, o número de capítulos não é suficiente para gerar uma virada do placar.

A participação da Globo entre os televisores ligados também caiu de uma novela para a outra. Na Grande São Paulo, 41,4% dos televisores ligados sintonizaram “Velho Chico”, ante 38,6% de “A Lei do Amor”. No PNT, a diferença foi sutilmente menor, mas também dá vantagem ao Saruê e seus inimigos, com 43,9%, ante 41,5% do enredo atual.

Convém notar que as intervenções feitas nos roteiros, de acordo com o resultado de pesquisas de grupo de discussão e outras fontes, não têm funcionado na faixa das 9. Aconteceu algo parecido em “Babilônia”, uma novela que teve alguns de seus fortes elementos sufocados logo no início, a fim de atender a reações conservadoras. Foi desastroso. A história de Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes Braga não ganhou a adesão de muito mais gente e perdeu o público que havia curtido o enredo, o que se agravou pela boa conquista alcançada pela Record com “Os Dez Mandamentos”. Agora, “A Lei do Amor” também foi submetida a resultados de pesquisas, tendo seu teor político bastante esvaziado.

Nesse ponto, vale destacar a resistência de Benedito Ruy Barbosa e do diretor Luiz Fernando Carvalho a possíveis intervenções em “Velho Chico”, o que se mostra, pelo menos nesse contexto, algo muito acertado.

Senão vejamos: se uma novela tenta se adequar ao gosto médio da audiência, a ponto de sacrificar seus pontos mais relevantes em função desse balizamento, para que serve todo o investimento feito ali?

Vista por essa ótica, “Velho Chico” sai ganhando em relevância e em audiência.  Como bem disse o diretor de Comunicação da Globo, Sérgio Valente, em painel na RioContentMarket, de que adianta audiência sem relevância? No caso de “A Lei do Amor”, com todo o respeito e admiração que tenho pela autora e seu discípulo, Vincent, é certo que nem a competência de Vera Holtz como Mag há de reservar ao título um lugar na história da telenovela. Nada ali se mostra capaz de marcar posição, como aconteceu com “Velho Chico” e, penso eu, com “A Regra do Jogo” (hábil na narrativa da dubiedade humana e na direção por meio da caixa cênica que permitia mais mobilidade do elenco) e “Babilônia” (que deixou ensinamentos sobre a abordagem de relações homoafetivas).

No caso de “A Lei do Amor”, qual seria seu legado? Talvez, apenas a certeza de que não convém manipular tanto um enredo em função do que diz o tal grupo de discussão promovido pela Globo.

A história atual passa a ser a segunda pior audiência do horário – perde justamente para “Babilônia”, que teve sua proposta original totalmente reformada, para fechar as cortinas com 25,4 pontos.

“A Regra do Jogo”, de João Emanuel Carneiro, que ocupava a vice-liderança entre as piores audiências, com 28 pontos, cede a vez a “A Lei do Amor”.

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Cristina Padiglione

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