Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Mion brinca de ser Bozó, mas sabe o que quer

Marcos Mion exibe o crachá e reverencia estátua de Roberto Marinho, nos Estúdios Globo, no Rio / @marcosmion no Instagram

Desde que sua contratação foi anunciada pela Globo, há uma semana, Marcos Mion não se cansa de dar demonstrações de felicidade por ter chegado à maior vitrine de comunicação do país. Depois do texto inicial em seu Instagram, agradecendo a todos pela realização de “um sonho”, vieram outras evidências de um autêntico Bozó, o personagem de Chico Anysio que ostentava o crachá da Globo, como ele vem fazendo há três dias nas redes sociais e na TV.

A própria Fátima Bernardes fez a comparação durante o Encontro desta sexta (13), quando ele se apresentou pela primeira vez como novo funcionário da casa, de novo pendurando o crachá, e riu da analogia, confirmando ser, sim, um Bozó.

Bozó, um clássico de Chico Anysio: “Eu trabalho na Globo” / Reprodução YouTube

Uns veem esse filminho como deslumbramento do novo apresentador da Globo, ex-estrela na Record, rede de alcance bem menor. Até parece que o sujeito não acreditava no seu potencial para estar no elenco da líder de audiência. A maioria da plateia, no entanto, se identifica com o cara que não finge ser normal conversar com Fátima Bernardes, e ele fez questão de dizer isso ao encontrá-la em um dos refeitórios dos Estúdios Globo antes de entrar no cenário do programa.

Mion sabe gerar empatia ao se colocar no lugar de um anônimo que reverencia as grandes grifes, apontando humildade no novo posto, mas é evidente que celebridades de primeiro time do showbiz não são incomuns à sua convivência. Faz 22 anos que ele circula por várias emissoras e sets com algum protagonismo.

De bobo, como Bozó, não lhe resta nada. Tampouco essa performance chega a ser obra de um personagem que ele inventou, mas é certo que esse comportamento acalma os ânimos internos da emissora, caso alguém tenha (muito provavelmente) se sentido injustiçado com a decisão da direção da Globo em trazer alguém de fora da casa para novos projetos.

Outro ponto é que o “sonho” de estar na Globo não é meramente pela fama trazida pela emissora, mas sim pelo desejo de alguém que direcionou sua carreira para o posto de um comunicador popular. Essa percepção ficou clara na conversa com Fátima.

Se o sonho fosse apenas ser famoso, Mion poderia ter ficado na Globo há 22 anos. Ainda que ali fosse coadjuvante, parecia menos fácil se fazer notar em um seriado de boa audiência (“Sandy & Júnior”) do que em um canal segmentado como a MTV Brasil, outra ambição que cultivou na sua trajetória, como explicou a Fátima quando comparou a realização atual com a sua chegada ao canal do videoclipe, no ano 2000.

Mion se esbaldou de falar na MTV na tela da Globo, sem se importar com a suposta censura interna que evita a menção a outras emissoras e marcas —aquela MTV não existe mais, mas a MTV segue sendo um canal no Brasil, abrigada na TV paga desde 2013. Citou ainda sua passagem pela Bandeirantes, sem aquela baboseira de se referir a outros canais como “na outra emissora”, como fazem vários entrevistados e como jamais faz um contratado da casa.

Esse paralelo com a MTV é relevante para entender que não estamos diante de um Bozó autêntico, ainda bem, mas de um sujeito que parece fascinado pela chance de se comunicar com mais gente. É um deslumbramento que parece passar longe do vazio de ser famoso por ser famoso, ou daquele fenômeno “I wanna be famous” que persegue dez entre dez candidatos ao Big Brother, por exemplo.

Marcos Mion estreia dentro de duas semanas no Caldeirão, programa que Luciano Huck abandonará para migrar para as tardes de domingo, um up grade na sua trajetória de 21 anos na Globo. A emissora assegura que ele ficará só até o final do ano no posto, tendo outros planos para as tardes de sábado e para Mion em 2022, no Multishow. A ver.

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Cristina Padiglione

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