Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Morte de Natanael livra Juca de Oliveira de ‘O Outro Lado do Paraíso’

Juca de Oliveira e Emílio de Mello, dois grandes atores mal aproveitados na novela das nove

É uma pena que atores como Emílio de Mello, que raramente pisam em novelas, sejam tão mal aproveitados em cena, como acontece agora com Henrique, seu personagem em “O Outro Lado do Paraíso”. Marido de Elizabeth, nome verdadeiro da personagem de Glória Pires no início da trama de Walcyr Carrasco, ele passou dezenas de capítulos sem sequer ser mencionado. Juca de Oliveira, que há muito tempo também já não é figura fácil em telenovela e aqui  interpreta o pai de Henrique, está livre desse expediente. No capítulo previsto par ir ao ar no dia 29, segunda-feira da próxima semana, seu Natanael, personagem de tonalidade mexicana (maniqueísta ao extremo) para o qual foi escalado, finalmente morre, de um ataque cardíaco, na novela das nove da Globo.

Nos momentos que precedem a fatalidade, Natanael vai à casa de Clara (Bianca Bin) e ameaça matar Elizabeth, que já é tida como morta há anos. Henrique chega ao local e ouve a discussão do pai com Elizabeth, e então entra no quarto e impede Natanael de atirar contra a ex-mulher, que ele, mais do que ninguém, pensava estar morta. Natanael tem um ataque cardíaco e é levado para o hospital, onde morre. Adriana (Julia Dalavia) culpa Elizabeth pelo ocorrido.

De todas as falhas com a verossimilhança nesta novela até aqui, a mais grave é o fato de a filha (Adriana) não ter reconhecido a mãe que esteve ao seu lado até os 10 anos de idade. Vamos dizer que Glória Pires fosse o Axl Rose, irreconhecível num prazo de 20 anos.  Mas não é. Glória Pires tem cara da Glória Pires há pelo menos 30 anos, desde “Dancin’ Days”.  Para o azar do autor, Walcyr Carrasco, e do diretor artístico de sua novela, Mauro Mendonça Filho, Glória Pires é muito bem “conservada”, como dizem os mais velhos, na sua forma física. E as feições da personagem dez anos antes (período percorrido entre a suposta morte de Elizabeth) e o atual momento da novela são muito semelhantes. Posto isto, vamos deixar bem claro que uma criança de dez anos não é uma  criança de dois anos, longe disso, e grava na memória, de uma forma muito mais intensa, a perda de um pai ou de uma mãe, como é o caso aqui abordado: supor que Adriana não reconhece a mãe é tratá-la como alguém fora de suas capacidades mentais normais.

Júlia Dalavia e Glória Pires: nem em conto de fatas uma filha que conviveu com a mãe até os dez anos não a reconheceria dez anos depois

Por essas e outras é que Juca de Oliveira pode comemorar a morte de Natanael. Secretamente, há outros atores loucos para verem seus personagens mortos nesse enredo da Carochinha. Há casos em que atores sofrem por verem seus personagens mortos numa trama. Há outros, no entanto, em que eles imploram para tal ação. “O Outro Lado do Paraíso” é um desses casos. É também uma ocasião em que a alta audiência não corresponde à supremacia do produto, muito pelo contrário.

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Cristina Padiglione

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