Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Na contramão do Masterchef, sobra ostentação e falta tempero ao Mestre do Sabor

Os jurados José Avillez, Kátia Barbosa e Léo Paixão com Troisgros e Batista: cenário suntuoso e frio. / Divulgação

A Globo demorou alguns anos para levar a cozinha ao horário nobre e tentou compensar seu atraso com a criação de um novo formato de reality show de culinária. Apesar do humor e da química presente na parceria entre o chef Claude Troisgros e seu ajudante, Batista, Mestre do Sabor está longe de render o encanto provocado pelo Masterchef Brasil, da Band.

O programa da Globo, cuja primeira temporada se encerrou nesta quinta-feira (26), tendo o chef paulista Gabriel Coelho, 31 anos,como vencedor, chegou a render 14 pontos de média, o que representou uma queda de mais de 20% em relação ao seu antecessor, o The Voice Brasil. Isto é pelo menos o triplo do que registra o show pilotado por Ana Paula Padrão na concorrência. Apesar disso, veja bem, o interesse da plateia no Mestre do Sabor, em boa parte mensurado pelo seu poder de engajamento nas redes sociais, é infinitamente menor que o do Masterchef Brasil.

Para o patamar de audiência da Globo, Mestre do Sabor é um fracasso.

Para o patamar da Band, Masterchef é um sucesso.

Mais do que a fórmula de competição ali aplicada, o Masterchef Brasil tem um efeito que se explica pelo elenco, a saber, o time de jurados e sua apresentadora. Vamos começar por ela: muita gente dizia, lá na primeira temporada do reality, que Ana Paula Padrão não acrescentava nada ao programa, o que veio a se mostrar uma percepção absolutamente equivocada. A presença de uma âncora com experiência jornalística que vê a cozinha de fora do universo técnico, como nós, telespectadores, em condições de alinhavar conceitos do leigo e dos especialistas, rebatendo com exatidão os excessos no discurso dos candidatos, tem se mostrado um acerto sem igual diante de todas as tentativas inócuas da concorrência de reproduzir o sabor do Masterchef.

A Record tentou fazer o Top Chef sob o comando de um chef, Felipe Bronze, e não teve o mesmo êxito.

Agora, a Globo encontra o mesmo descompasso no Mestre do Sabor, tendo Trosigros na linha de frente e toda aquela estrutura de cozinha que mais parece uma nave espacial – o que, a meu ver, só espanta o público interessado no menu. Falta ao programa um clima de acolhimento que só se encontra na cozinha da casa.

O Masterchef também zela pela grandiosidade de uma cozinha industrial, mas quando a câmera fecha em cada bancada, nas compras dos ingredientes e nos pratos em degustação pelos jurados, tudo se aproxima mais do telespectador.

Mas a maior distância entre um programa e outro está definitivamente no seu júri. José Avillez, Kátia Barbosa e Léo Paixão, o  time escalado por Troisgros e pelo diretor Boninho, pode ser ótimo na cozinha, mas, para transformar isso em espetáculo, é preciso um tempero extra chamado carisma.

Quando se assiste a outras versões do Masterchef pelo mundo no canal Discovery Home & Health, todas formatadas pelas normas da Endemol Shine, tem-se a certeza de que o elenco do reality brasileiro faz toda a diferença no resultado: programas com a mesma receita não têm a graça do nosso, não geram curiosidade nem interesse.

Paola Carosella, Henrique Fogaça e Erick Jacquin são a alma daquela cozinha e conseguem ganhar uma atenção concentrada até de quem se satisfaz com miojo. É o tipo de composição humana raríssima de vingar diante das telas, uma formação que, assim como o segredo da comida, está na química resultada da mistura de seus ingredientes, sob aquela temperatura e pressão.

Daí que mesmo perdendo audiência pelo desgaste da ideia, o Masterchef continua sendo o melhor produto da Bandeirantes e seus chefs, um achado para as câmeras interessadas em transmitir paladar pela TV.

O melhor do Mestre do Sabor é a dupla Troisgros e Batista, como vem demonstrando a longevidade dos dois em temporadas de diferentes conceitos no canal GNT, mas é preciso saber aproveitá-los com mais protagonismo e com outros coadjuvantes.

A edição do Masterchef também sabe captar melhor as emoções dos candidatos naquela panela de pressão que é uma cozinha, mas vamos dar um desconto para quem acabou de pisar na cozinha cenográfica pela primeira vez, caso do Mestre do Sabor. A primeira edição do BBB também ficava muito aquém do que o SBT havia conseguido fazer na Casa dos Artistas, quem não lembra? Tudo pode melhorar, e assim confiamos.

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Cristina Padiglione

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