Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Nascida no ‘Plantão de Polícia’, Lili Carabina nunca existiu, avisa Aguinaldo Silva

Viviane Araújo é Lili Carabina, criminosa perseguida pelo delegado Renato Delgado, vivido por Matheus Carrieri

Embora até a Wikipedia tenha um verbete sobre a suposta inspiradora da personagem Lili Carabina, apresentada ao público no lendário seriado “Plantão de Polícia”, a figura, segundo seu criador, Aguinaldo Silva, nunca existiu na vida real. Até este noticiário, quando informou pela primeira vez que seu enredo renderia uma adaptação para o teatro, recebeu mensagens de gente que assegura ser herdeiro da verdadeira Lili, cuja identidade real seria Djanira Ramos Suzano. Assim como Lili, Djanira usava peruca loira, maquiagem pesada e figurino sedutor para assaltar agências bancárias nos anos 70/80. Mas, entre as várias facetas que distinguem uma da outra, sua arma não era uma carabina.

A partir desta sexta, 11 de agosto, Lili será conhecida pelas novas gerações e relembrada pelas mais velhas no palco do Teatro Jaraguá, em São Paulo, com adaptação trabalhada por Júlio Kadetti, discípulo do autor do original. Na pele da personagem, está a exuberante Viviane Araújo, cercada de nove homens: são dez atores a se dividir em 22 personagens para contar a história de Elisa Nascimento, nome de batismo de uma dona de casa suburbana, sem grandes ambições, que, depois de ter o marido assassinado, transforma-se em Lili Carabina, bandida em busca de vingança que aterroriza a baixada Fluminense, desafia a polícia carioca e se torna uma obsessão para o violento delegado Renato Delgado.

“Lili Carabina nunca existiu. É obra da minha imaginação”, garante Aguinaldo, autor do “Plantão de Polícia”, seu primeiro trabalho para a TV – e marco dos 40 anos agora completados como roteirista. Vivida então por Betty Faria, Lili rendeu dois livros, “Lili Carabina – Retrato de uma obsessão” e “A História de Lili Carabina”, mais o filme “Lili, a Estrela do Crime”, de 1989.

Todo o elenco (9 homens e apenas Viviane como mulher) leu o livro “Retrato de Uma Obsessão”, base da peça. Evitaram ver o filme com Betty para não serem “contaminados” pela atuação de seus pares no longa-metragem. Além de Viviane Araújo, cujo pôster como Lili tem feito homens e mulheres quebrarem o pescoço para fitá-la das coxas ao belo carão, a adaptação de Lili para o teatro traz Matheus Carrieri no papel do delegado que chega a ter sonhos eróticos com seu foco de perseguição. No cinema, o personagem foi de Reginaldo Faria.

Este TelePadi acompanhou uma primeira leitura do texto e um ensaio da peça, lá no início dos trabalhos de preparação, e conversou com Viviane e Matheus, ambos empenhados em reviver o lendário enredo em torno dessa figura. Para ela, é mais um voto de confiança do autor que a lançou como atriz no horário nobre da Globo (em “Império”), contrariando previsões de quem via nela só o corpão de Garota Fantástico, Miss Bumbum e destaque de escola de samba. Nos bastidores dos ensaios, Viviane quase passa desapercebida: passa longe da postura de quem vive sobre saltos altos e a ostentar queixo erguido, ao contrário. É de uma discrição que só endossa a capacidade de quem sabe viver uma personagem, bem diferente dela própria, diante dos holofotes.

Já Matheus, o delegado, encara a missão com o gosto de quem não esfria os pés dos palcos há anos, revezando-se de uma peça a outra, de produções mais populares a montagens cults, incluindo aí o consagrado diretor teatral Antunes Filho. Com mais de 30 títulos no currículo televisivo, sua última aparição na tela foi em “Chiquititas”, do SBT (2014). Em 2005, participou da boa “Mandrake”, série da Conspiração para a HBO. No mais, tem se aproximado da TV só pela voz, ao narrar e dublar episódios de programas para canais como o Discovery. Se gostaria de voltar a botar a cara na tela? Até gostaria, mas não a qualquer custo. Matheus nem gosta de lembrar que participou do primeiro reality show de confinamento da TV brasileira, a “Casa dos Artistas” (na opinião desta jornalista, a melhor edição de confinamento já feita até hoje no Brasil, pelo SBT, promovendo a convivência entre pessoas tão diferentes como Carrieri, Alexandre Frota, Supla, Bárbara Paz e Mari Alexandre, entre outros).

 

Júlio Kadetti optou por manter a história nos anos 70/80, até porque o modelo de crime praticado pelo bando de Lili não é algo compatível com a atual indústria do crime. Vendo a história da bandida, o público terá essa percepção e até poderá ver algum romantismo naquele modelo em que não cabiam tráfico de drogas e execuções sumárias de tribunais clandestinos, como ocorre hoje nos estatutos de facções muito bem organizadas, como PCC e Comando Vermelho. Assalto a banco era uma outra história, e é esse o ramo da heroína em questão, por mais paradoxal que possa parecer tratar uma criminosa como tal. A essa imagem, soma-se o fato de Lili ter, já naquele tempo, fortes evidências do “empoderamento” feminino hoje tão em voga. Ela não leva desaforo de homem pra casa, e isso basta para provocar na plateia um certo fascínio sobre a personagem.

LILI CARABINA
Direção: Daniel Lopes.
Elenco: Viviane Araújo, Matheus Carrieri, Alex Gruli, Higor Vasconcelos, Cléber Colombo, Yuri Martins, Maciel Silva, Fernando Neves, Leônico Moura e Arnaldo D’Ávila
TEATRO JARAGUÁ (Rua Martins Fontes, 71, Bela Vista)
HORÁRIOS: Sextas, às 21h30, sábados, às 21h, domingos, às 19h.
ESTREIA: 11.08.2017 (a temporada vai até 26 de novembro de 2017)

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