Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Natal da Netflix troca humor ácido do Porta dos Fundos por riso popular de Leandro Hassum

Leandro Hassum é Jorge no filme 'Tudo Bem no Natal que Vem' / Divulgação

A Netflix divulgou nesta segunda-feira (26) o primeiro trailer do primeiro dos dois filmes de Natal contratados de Leandro Hassum. Com estreia anunciada para 3 de dezembro, a edição apresenta o mesmo tom dos blockbusters protagonizados pelo humorista com a franquia “Até que a Sorte nos Separe”. É um modelo capaz de abraçar espectadores de diferentes credos, idades e faixas sociais, muito mais abrangente que o humor ácido do Porta dos Fundos, protagonista dos especiais de Natal dos dois anos anteriores.

Mas o Porta também havia acertado, verbalmente, com o serviço de streaming um especial para este ano, que ficará de fora da plataforma e será distribuído diretamente pelo canal do grupo no YouTube, com 16 milhões de inscritos. E “Teocracia em Vertigem” tem inspiração em “Democracia em Vertigem”, documentário de Petra Costa indicado ao Oscar e distribuído justamente pela Netflix.

A Netflix nega que tenha anunciado três especiais de Natal, alegando que as edições foram fechadas ano a ano, mas em 2018, quando a parceria foi anunciada, a notícia sobre as intenções para três Natais não foram desmentidas. Os contratos de fato foram assinados ano a ano, tanto que a decisão de agora exibir a nova produção no canal do grupo não implicou pagamento por rescisão de multa. O Porta também levará para o YouTube os dois filmes dos anos anteriores, uma novidade em sinal aberto pelo YouTube.

O primeiro filme de Natal do Porta para a Netflix tinha Jesus como mau caráter e Judas como o enganado da história, venceu o Emmy Internacional de comédia e não despertou gritaria de censores no Brasil. Já a segunda produção, lançada em 2019, trazia Jesus se descobrindo gay e rendeu ameaças de suspensões de assinaturas na Netflix, ações de censura na Justiça e até atentado terrorista à sede da produtora, no Rio.

Em tese, caberiam muito bem no mesmo catálogo o Natal do Hassum e o Natal do Porta, atendendo ao riso de todos os gostos, muitos deles convergentes nos dois modelos. Mas mesmo o primeiro especial do Porta, “Se Beber Não Ceie”, que não provocou a fúria dos homofóbicos, já não havia ganhado de cara a exposição que outros títulos da plataforma merecem em suas estreias. O filme ficou ligeiramente camuflado, parecia envergonhar o menu do serviço de streaming.

No ano passado, faltou empenho da plataforma em repudiar as tentativas de censura  ao filme “A Primeira Tentação de Cristo”, com receio de magoar os clientes (geralmente, os que mais gritam não são clientes, na verdade, só ativistas de determinada bandeira). A polêmica em torno do enredo inibiu a Netflix de inscrever o filme no Emmy Internacional, uma estratégia contraditória para uma empresa que bem no ano anterior havia sido pela primeira vez premiada por produção brasileira de comédia, mérito daquela mesma equipe àquela altura descartada das inscrições.

Como já foi dito aqui, a expansão de público do serviço acaba gerando uma seleção de opções mais à massa do que a diferentes segmentos, mas um menu rico em títulos existe justamente para atender a nichos de posicionamentos até paradoxais, ou não?

Ao anunciar a produção de Hassum, a Netflix o apresenta como “o primeiro filme nacional natalino da Netflix Brasil”, ignorando que não há outra classificação para um especial de 50 minutos com começo, meio e fim em episódio único, formato das realizações natalinas do Porta, que não seja filme.

Em contato com o blog por meio de sua assessoria de comunicação, a Netflix atribui o desfecho deste Natal com o grupo a uma decisão do Porta dos Fundos, que teria preferido lançar o filme de Natal deste ano em seu próprio canal. Este noticiário reforça que houve um desgaste nas relações entre produtor e distribuidor após a pressão de setores conservadores a “A Primeira Tentação de Cristo”.

No enredo de “Tudo Bem no Natal que Vem”, Jorge (Leandro Hassum), traumatizado por dividir seu aniversário com o Natal, não suporta mais as mesmas desventuras de todo ano: as mesmas piadas, as mesmas filas, o mesmo shopping lotado e a mesma uva passa no arroz. Mas o Natal ainda faria com que a sua vida mudasse completamente. Após despencar do telhado vestido de Papai Noel para entrega de presentes, Jorge logo percebe que está condenado a só acordar na véspera de Natal, ano após ano, tendo que lidar com as consequências do que seu outro “eu” fez nos demais 364 dias.

Anunciado como “o primeiro filme nacional natalino da Netflix Brasil”, “Tudo Bem no Natal que Vem” é também vendido como “comédia com relações familiares e momentos emocionantes em um Natal bem abrasileirado”. Poderia perfeitamente estar na TV aberta, ao alcance de todos. A produção é da Camisa Listrada, que realizou com Hassum os filmes “Candidato Honesto” 1 e 2, com a mesma equpe: direção de Roberto Santucci e roteiro de Paulo Cursino. Além do humorista, o elenco apresenta Elisa Pinheiro, Miguel Rômulo, Arianne Botelho, Louise Cardoso, Danielle Winits e José Rubens Chachá.

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Cristina Padiglione

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