Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

No Dia do Pantanal, GloboPlay lança documentário inédito de Lawrence Wahba

Divulgação

Documentarista premiado pelo Emmy e reconhecido por tantas cenas capazes de sensibilizar o público sobre a urgência de questões ambientais, Lawrence Wahba assina “Jaguaretê-Ava: Pantanal em Chamas”, filme inédito de alto impacto que entra no ar nesta sexta-feira (12), Dia do Pantanal, no GloboPlay.

O longa-metragem parte da presença de Wahba no Pantanal em março de 2020, quando ele produzia um documentário sobre o ciclo das águas e foi surpreendido pela pandemia da Covid-19 no Brasil. Como os destinos de todos nós se congelou naquele momento, Wahba o documentarista, fotógrafo e escritor acabou estendendo sua presença na região, em tempo de registrar os primeiros focos de fogo que se tornariam os piores incêndios florestais na história do bioma.

O longa nasceu “com vida própria”, como ele mesmo diz, e tem produção de Jefferson Pedace.

“Comecei totalmente independente, como nunca havia feito, financiando as viagens do próprio bolso ou com apoio de ONGs e profissionais trabalhando voluntariamente. Mas essa era uma história que estava acontecendo e precisava ser contada”, diz.

Depois das filmagens, a Documenta Pantanal ajudou a captar recursos com pessoas físicas e empresas, o que garantiu o financiamento da pós-produção. “Pesquisamos imagens feitas por voluntários, veterinários, brigadistas, pescadores, guias e cineastas independentes, num total de 20 cinegrafistas amadores e profissionais”, relata.

“Apesar de ser construído a partir de um mosaico de imagens, um time de profissionais de primeira linha me ajudou a contar essa história, entre eles o premiado produtor francês Emmanuel Priou, que venceu o Oscar por ‘A marcha dos Pinguins’ e nos prestou consultoria internacional. O documentário traz minha visão de dentro dos incêndios do Pantanal, daquele cenário de guerra. Mas também traz a força da corrente que se formou para ajudar o Pantanal e a contar essa história.”

Ao longo do processo de produção, Wahba passou dez semanas em curso por quatro expedições às regiões de Miranda, Serra do Amolar, Porto Jofre, Transpantaneira, Parque Nacional do Pantanal e Parque Estadual Encontro das Águas, acompanhando brigadistas, veterinários, voluntários e pesquisadores e registrando a luta pela vida e pela recuperação do bioma.

Mais de cem horas de material foram captadas, somando as gravações da equipe de Wahba e de terceiros, num total de 13 meses de trabalho.

Minha pergunta ao documentarista é: por que, com tantas cenas inéditas de uma tragédia de tamanha relevância, ele condensou tudo em um filme, e não em uma série, abrindo a possibilidade de exposição de todo esse conteúdo?

Ele explica: “É difícil assistir a esse filme, é uma porrada, é muito forte, tudo o que aconteceu no Pantanal é difícil de assistir e eu acho que um filme condensa a pancada, é uma mensagem que o mundo precisa saber, é aquilo que eles chamam de uma ‘local global story’, uma história local que é global, o descaso com a natureza e as consequeências desse descaso eu estou contando no Pantanal, mas podia ser de qualquer lugar do mundo, e um filme viaja o mundo: você senta, assiste concentrada.”

Para Wahba, a mensagem a ser transmitida requer foco: “Estou passando uma mensagem que exige sentar, concentrar, assistir, receber e ver como aquilo te toca. Ele mexe com conceitos de vida, ele menciona a questão indígena, a questão ambiental, ele fala de uma paixão, é uma história com começo e cujo fim depende das nossas próprias ações, porque o filme acabou e a história, não.”

O documentarista antecipa ao blog, em primeira mão, que pretende dar seguimento à documentação do assunto com um segundo filme. “Vou dar um spoiler: a continuidade desse filme está nascendo a partir do renascimento do Pantanal que eu estava documentando ao longo deste ano, e ontem eu tive uma epifania e decidi que vai sair um segundo filme, mais para o final do ano que vem.”

De novo, endossa a relevância de editar seus registros em formato de longa-metragem. “Nesse mundo de multitelas, onde a gente consome conteúdo loucamente,o filme ainda é aquele momento do livro, onde você não está com a TV ligada respondendo a mensagens e a outras coisas. Você para para ver um filme e essa é uma história que você precisa parar para assistir”, avisa.

Para chegar à edição final deste primeiro longa, que tem duração de 1 hora e 14 minutos, Wahba conta que, como um bom parto, “Jaguaretê-Avá: Pantanal em Chamas” foi gestado ao longo de nove meses de pós-produção. “Começou com um esqueleto traçado por mim, mas foi se moldando com os trabalhos dos montadores Tatiana Lohmann e Marco Del Fiol, ambos também diretores e realizadores, que cocriaram o filme em todo seu processo, e com a colaboração dos inputs do supervisor de roteiro, Marcelo Starobinas”, diz.

MÚSICA, MAESTRO

Com assinatura de Fabio Cardia, a trilha sonora merece menção à parte, tendo consumido três meses de trabalho de uma equipe composta de 15 profissionais. O músico, compositor e maestro conta que foram criadas 39 músicas para o filme, que abordam 20 diferentes temas.  “É uma trilha minimalista que utiliza instrumentos étnicos e regionais, como viola caipira, flauta baixo, berimbau e tambores, além de spots misturados com sintetizadores e samplers”, revela.

RESILIÊNCIA

Além das cenas impactantes da destruição de fauna e flora gerada pelos incêndios, o filme registra a ação de quem estava no epicentro do combate às chamas atuando no resgate e na recuperação de animais e traz entrevistas com especialistas em questões ambientais.

O título do filme está na analogia com o mito indígena do Jaguaretê-Ava, do povo guarani kaiowa, cujo significado é revelado no longa e traz referências a elementos do simbolismo do jaguar (onça-pintada) nas culturas originais das Américas do Sul e Central, considerado um animal sagrado que transita entre dois mundos e tem poderes espirituais.

“Na minha profissão, eu dependo totalmente da integração com os animais e seu hábitat. Preciso estabelecer uma conexão. É como aprender um outro idioma e os povos nativos são os professores, os mestres. Para eles, todos elementos da natureza são gente”, complementa.

Não é à toa e nem para efeitos meremente estético que “Jaguaretê-Avá: Pantanal em Chamas” joga holofotes sobre a onça-pintada. Ecologicamente, um bioma tem de estar totalmente equilibrado para sustentar seu predador de topo.  Algumas onças, em particular como Amanaci, Ousado e Ague, afetadas pelos incêndios, têm suas histórias retratadas.

Tudo isso é muito tocante, e é preciso reforçar que o filme de fato almeja sensibilizar as pessoas e servir como ferramentas de conscientização ambiental, promovendo debates sobre o problema dos incêndios florestais e ajudando a frear o desastre.

Durante o processo de filmagens, Wahba ajudou a criar a Brigada Alto Pantanal, campanha que sustenta duas brigadas comunitárias e apoia dois centros de atendimento veterinários no Pantanal. Determinado a prosseguir na defesa do ameaçado bioma, o documentarista conta que o filme já arrecadou R$ 150 mil em valores de licenciamento e lucros, soma que será repassada ao SOS Pantanal e à Brigada Alto Pantanal para que possam dar continuidade a ações de prevenção e combate ao fogo nas regiões em que atuam.

As redes sociais do documentário (@jaguareteava) também vão incentivar o público a se engajar nesta causa por meio de doações às brigadas.

O documentarista Lawrence Wahba no Panganal / Divulgação

Créditos para apostar nessas ações não faltam ao documentarista. Apresentador de TV, fotógrafo, mergulhador e autor, Wahba tem um Emmy na prateleira de casa e acumula documentários filmados em todos os continentes e todos os oceanos, com exibição para 160 países por meio de canais como NatGeo, Smithsonian, Discovery e Arte, entre outros.

Para TV brasileira já produziu mais de 600 matérias, apresentou programas no GNT, NatGeo e Discovery, além do quadro “Domingão Aventura”, no extinto “Domingão do Faustão”. Em 2017, lançou seu primeiro longa-metragem documental nos cinemas, “Todas as Manhãs do Mundo”.

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Cristina Padiglione

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