Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

A Dona do Pedaço’ é faroeste caboclo em narrativa infantil

Amadeu (Marcos Palmeira) toma um tiro antes de ouvir o sim da noiva, Maria da Paz (Juliana Paes)/Reprodução

A noiva naquela igreja no meio do nada, mais o terno branco do noivo e a trilha sonora que vai do caipira/country ao folk, com matadores profissionais em cena.

“Kill Bill”? Não. “A Dona do Pedaço”.

Quentin Tarantino está presente nas referências da nova novela das nove da Globo, cuja direção é assinada por Amora Mautner, e isso é altamente sedutor.

A narrativa de Walcyr Carrasco, no entanto, é infantil, não no sentido de se dirigir às crianças, mas sim a adultos com preguiça de elaborar teses muito complexas. Já sabemos: é novela das nove e a Globo não está disposta a complicar o enredo a ponto de espantar quem só aparece ali no sofá àquela hora para relaxar.

A embalagem é sofisticada, sem perder o olhar popular, à altura da compreensão média da massa. A história é contada de modo sucinto, rápido, urgente. Em poucos minutos, o mocinho conheceu a mocinha e declarou que a quer para o resto da vida. Em outra fração de capítulo, souberam que suas famílias são inimigas e apresentaram ao telespectador o conflito que dá a partida na história. Antes que o capítulo termine, o casamento já está na tela e um tiro frustra o “sim” da noiva.

Os diálogos são cênicos, pouco realistas, com claro propósito de dar o recado ao público, literalmente o que se chama de um papo reto.

Ainda nessa moldura interessante, o mais interessante é ver Fernanda Montenegro, aquela senhorinha tão fofa e simpática, como a matriarca que tem orgulho do negócio da família: matança de aluguel. Dona Dulce é sangue ruim. Questiona o romantismo da neta, Maria da Paz (Juliana) Paes) e elogia a objetividade da irmã, Zenaide (Maeve Jinkings).

Manda a nora calar a boca, manda no filho e não há quem a desafie. Estimula as netas, ainda pequenas, a treinar tiro, e toda a família se orgulha de empunhar seu revólver.

Toca “Evidências”, com Chitãozinho e Xororó, e a audiência embarca, feliz, num bom conto regado a vinganças e sangue. A trilha, diga-se, é quase um personagem dando tom à trama, e conspira muito a favor do interesse da plateia pela história que vem aí.

Como novela das nove, dentro de todos os propósitos e estratégias demandadas pelo atual contexto de competição de audiência, “A Dona do Pedaço” promete cumprir com o dever de entregar uma boa história, ainda que ela já tenha sido contada de outras formas e com outras personagens, e, a julgar pelo primeiro capítulo, o que é sempre precoce demais para um enredo de cento e tantos capítulos, uma história bem contada. Oxalá.

 

COTAÇÃO: BOM ***

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